Share Américas 28
Nº28 |MAI JUN JUL2017 |GRATUITA
ACELERANDO RUMO A UM FUTURO ELÉTRICO Tesla
HOTÉIS INSÓLITOS PARA QUEM GOSTA DE NOITES DIFERENTES
'FENÔMENO' DO UFC PENDURA AS LUVAS
“QUERO TERMINAR ESSA JORNADA COM A MINHA MÃO LEVANTADA” Vitor Belfort
CHEGANDO NOS EUA? O QUE PRECISA SABER
sumário
©Tesla
©GabbyBarbieri
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©MijooKim
©PhotoAsafKliger/Icehote lwww.icehotel.com
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Perspectiva 4. Somos mais inteligentes que os animais? 6. EUA acusam ONU de duplicidade de critérios 7. Amazon preocupa WPP 8. Da fortuna ao infortúnio
Opinião 21. Conflito pela mesma terra André Lajst 45. Dois Minutos Cristiane e Renato Cardoso
20. Perfil: Maha Vajiralongkorn, o novo rei da Tailândia 22. O que quer a Tesla? Saiba como a multinacional elétrica pretende transformar o mundo Planeta Record 26. O que há de novo na sua TV 27. Unidos na vida e nos palcos 28. Entrevista: Fábio Porchat
34. Redes sociais podem ajudar os imigrantes brasileiros 37. Novo cônsul do Brasil em Miami apresenta projetos 38. Anatomia dos sonhos 40. Alimentação cura diabetes? 42. O segredo dos japoneses para a longevidade 44. Haenyeo: As últimas sereias
Gente 10. Entrevista: Vitor Belfort
A última geração de mulheres mergulhadoras na Coreia do Sul
46. Diretório 50. 5 Dicas para o sucesso
Atitude 30. Hotéis insólitos
Partilha 16. Acabei de chegar nos EUA. Por onde começar? Carlo Barbieri, CEO do Oxford Group, responde
Seis lugares incríveis para passar noites memoráveis
Edição #28 maio/junho/julho 2017 Diretor Wilon Cardoso Coordenação Carla Pinto JornalistaResponsável Ana Rita Dinis Redação Daniela Carrilho, Nuno Estêvão e Virgínia Galván CopyDesk Nuno Estêvão Designepaginação (nesta edição) Ana Paula Costa, Ângela Correia e Fernando Barata Texto (nesta edição) Eduarda Miranda Marketing Luana Miranda Apoio Internacional Rede Record (SP) Responsável Comercial Dayse Espíndola (comercial@tvrecordamericas.com); 305 347 5131 Site e redes sociais tvrecordamericas.com . facebook/tvrecordamericas . @recordamericas Tiragem 20000 exemplares Publicado por Record Enterprise Television Endereço 1221 Brickell Ave. Suite 900 Miami, FL 33131, Estados Unidos AShareAméricaseasuaproprietárianãoseresponsabilizampelosserviçoseprodutosanunciados,nempelo teordas ideiasondeessessejam fundamentados.Tambémnãoseresponsabilizampelosconceitoseopiniõesemitidosporentrevistados ou cronistas, os quais não refletem necessariamente a opinião do editor. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo da Share Américas sem autorização expressa por escrito da proprietária e editora Record Enterprise Television.
perspectiva CIÊNCIA
O cérebro humano é um órgão incrível que, sem dúvida, permite nos distinguir das restantes espécies. Mas será que somos mesmo mais inteligentes que os animais ou apenas diferentes? O MEU É MAIOR QUE O SEU
texto Virginia Galván
A relação entre o peso do cérebro de um ani- mal e o tamanho do corpo pode indiciar o seu nível de inteligência. Mas, se essa dependes- se apenas da proporção, o ser humano estaria ao nível do rato, cujo cérebro também representa 2% do peso do seu corpo e, no entanto, ele não é um animal muito brilhante. A proporção en- tre o cérebro e o corpo da abelha é bem maior que a do hipopótamo, tornando-a mais esperta. Já a barata nem cérebro tem. Enfim, a chave para a inteligência não é o tamanho do cérebro,
mas a sua complexidade. E quanto mais rugas este apresenta, mais neurônios possui. O cére- bro humano tem mais pregas que o de muitos animais. Ainda assim, algumas espécies, como os golfinhos e as baleias, têmcérebros quase tão enrugados quanto os nossos. A questão é que os animais exibem a inteligência de maneira dife- rente e, por vezes, têm capacidades cognitivas superiores às dos humanos, sobretudo ao nível dos sentidos. Por darem valor demais a capa- cidade de linguagem e tecnologia, os humanos
habituaram-se a menosprezar os animais. É o que defende Maciej Henneberg, professor de Anatomia Antropológica e Comparativa, na Universidade de Adelaide, na Austrália. ‘‘O fato de os animais não nos entenderemnão significa que nossa inteligência se situe em distintos ní- veis, ela é apenas de um tipo diferente. Quando um estrangeiro tenta comunicar com uma ver- são imperfeita da nossa versão de linguagem, temos a impressão de que ele não é muito inte- ligente. E não é bem assim.’’ |
Corpo versus Cérebro
22 gramas
1 ,
4
680 gramas
Kg
A inteligência de um animal pode estar relacionada com a proporção entre o tamanho do corpo e do cérebro.
4 ,
8
Macaco
1 ,
6
Kg
Humano
Kg
Girafa
7 ,
8
Golfinho
Elefante
Kg
2 gramas
Baleia
Rato
4 SHARE MAGAZINE
perspectiva MUNDO
©Reuters/fotomontagemRecordTV
EUA ACUSAMONU DE DUPLICIDADE DE CRITÉRIOS
A nova embaixadora dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, Nikki Haley, acusou a instituição mundial de uma orientação anti-Israel e garante que seu país não vai tolerar uma política de 'dois pesos e duas medidas'.
texto Ana Rita Dinis
U ma reuniãoumpouco estranha...” Foi assim que a recém-nomeada Nikki Haley classifi- cou o primeiro encontromensal do Conselho de Segurança da ONU em que participou. E expli- cou porquê: “É suposto discutir-se comomanter a paz e segurança internacionais, mas na reu- nião sobre o Oriente Médio o debate não foi so- bre a construção ilegal demísseis do Hezbollah no Líbano, não foi sobre o dinheiro e armas que o Irã dá aos terroristas, não foi sobre como der- rotaremos o ISIS ou sobre como responsabiliza- remos Bashar al-Assad pelo assassinato de mi- lhares de civis. Não, em vez disso, a reunião se focou em criticar Israel, a única verdadeira de- mocracia do Oriente Médio”. Em resposta, a embaixadora garantiu que os Estados Unidos não vão ceder na defesa de Israel. “Estou aqui para dizer que os EUA não vão mais fechar os olhos a esta situação, estou aqui para sublinhar o apoio ferrenho dos EUA a
‘‘
Israel, estou aqui para reforçar que os EUA es- tão determinados a enfrentar esta orientação anti-Israel da ONU”. “Israel existe numa região, onde outros an- seiampela sua destruição e, nummundo onde o antissemitismo está crescendo, estas são amea- ças que devemos discutir nas Nações Unidas, à medida que continuamos trabalhando num grande acordo que ponha fim ao conflito israe- lo-palestino”, acrescentou Nikki Haley. A diplomata lembrou ainda que, ao contrário do que a ONU está fazendo, vários países estão reforçando os laços com o Estado judaico. “O lugar de Israel no mundo está mudando. Israel está construindo novas relações diplomáticas e cada vezmais países reconhecemque este é um pilar de estabilidade numa região problemáti- ca, que está na dianteira da inovação, empreen- dedorismo e avanços tecnológicos. O que tem que mudar há muito é a orientação anti-Israel.
Em defesa do amigo e aliado Israel, os EUA não vão hesitar em manifestar-se contra esta polí- tica”, finalizou. UMA NOVA ERA NA ONU? Como seria de esperar, as palavras de Nikki Haley ganharam eco e alento entre vários líde- res israelitas. “As declarações da embaixadora assinalam o início de uma nova Era, na qual o maior poder do mundo diz ‘chega!’ à discrimi- nação contra Israel nas instituições internacio- nais”, declarouoporta-voz doministrodos negó- cios estrangeiros de Israel, Emmanuel Nahshon. O depoimento, que incendiou a Internet, levou tambémoprimeiroministrode Israel, Benjamin Netanyahu, a partilhar o vídeo da coletiva de im- prensa da diplomata. “Obrigado pelo seu ine- quívoco apoio a Israel! É hora de acabar com o absurdo nas Nações Unidas”, comentou o lí- der israelita. |
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Pai de uma bebê de seis meses, o CEO da WPP diz que é a Amazon que o mantém acordado à noite e não sua filha. Martin Sorrel acredita que o motor de busca representa uma grande ameaça ao negócio das agências. WPP AMAZON PREOCUPA TITÃ DA PUBLICIDADE
AUDIÊNCIAS Análise multiplataforma chega ao Reino Unido
A BARB, organismo que disponibiliza as audiências de televisão no Reino Unido, atribuiu à Kantar Media o contrato Dovetail Fusion, que permitirá a análise combinada de audiências entre diferentes plataformas. Há dois anos estudando e comparando as opções tecnológicas concorrentes da Nielsen e da Kantar Media, a BARB (Broadcasters’ Audience Research Board) fez saber que decidiu entregar a esta última empresa o contrato Dovetail Fusion. Esta solução irá permitir ao organismo a análise dos dados de audiência apurados através dos tradicionais aparelhos de televisão e também dos restantes dispositivos onde é possível assistir conteúdos televisivos (computadores, tablets , etc.). Esta nova medição híbrida vai se basear nos dados de visualização de TV provenientes do espectro total de dispositivos do painel, permitindo oferecer aos clientes uma medição mais completa do consumo real e atual de televisão no país.
texto Ana Rita Dinis
E nquanto CEO domaior grupo de publicida- de e marketing domundo, SirMartin Sorrel da WPP tem dado muitas entrevistas ao longo de sua carreira. E perguntam várias vezes: “O que o mantém acordado durante a noite?”. O gestor de 72 anos, que foi pai recentemente, respondeu, à margem da conferência de apre- sentação dos resultados da WPP do último quadrimestre de 2016: “A resposta à pergunta não é um bebê de três meses, é a Amazon, que é uma criança, mas não tem três meses”. E o gestor tem bons motivos para se preocupar. da Google e Facebook. A empresa não discrimi- na a sua unidade de publicidade nos resultados, mas no balanço da América do Norte a catego- ria ‘Outros’ - que se acredita consistir sobretu- do em receitas de publicidade - cresceu 60% para 1,3 bilhões de dólares, em 2016. A eMarketeer prevê que a Amazon gere, Nestemomento, o negócio da Amazon é, aparentemente, re- duzido, em comparação com o
cinco bilhões de dólares na Google, em 2016, e 1,7 bilhões no Facebook - e, emsimultâneo, estes parceiros têma capacidade de trabalhar comos clientes diretamente, eliminando o mediador. O emergente negócio de publicidade da Amazon pode potencialmente fazer o mesmo. Mais nenhuma empresa no negócio da publi- cidade online tem tanta informação e estatísti- cas acerca do modo como se compra, quantas vezes se compra e que artigos se visualizam e depois não são comprados. Por isso, Martin
A WPP ABRIU UMA AGÊNCIA EM SEATTLE (EUA) APENAS PARA LIDAR COM A AMAZON
QUALIDADE DE VIDA Continua se vivendo melhor na Áustria
Sorrell acredita que a Amazon é uma grande ameaça no que toca a motores de busca. Para uma marca de tênis o lugar mais valioso para fazer publicidade é onde alguém está ativa- mente à procura de umpar de tênis. No Google, a pessoa pode estar apenas pesquisando, mas na Amazon é mais provável que o consumidor esteja disponível para fazer uma compra de imediato.
O estudo anual ‘Quality of Living’ da consultora Mercer indica que Viena, a capital austríaca, é a cidade com melhor qualidade de vida, pelo oitavo ano consecutivo. São Francisco é a cidade dos EUA onde se vive melhor (29º lugar), seguida por Boston (35º lugar), Honolulu (36º lugar), Nova Iorque (44º lugar), Seattle (45º lugar), Los Angeles (58º lugar) e Chicago (47º lugar).
este ano, umbilhão de dólares em re- ceitas de publicidade nos Estados Unidos. As estimativas de recei- tas para a Google são de 34 bi- lhões de dólares e 15 bilhões para o Facebook. Martin Sorrell costuma se re- ferir ao Facebook e Google como ‘ frenemies’ (‘amigos-inimigos’), vis- to que a WPP trabalha com eles em parceria, através do
Entre os três gigantes da publi- cidade online , Sorrell descreve a Google como o mais amigo dos ‘fre- nemies’ , coloca o Facebook no meio e a Amazon no lugar menos amigá- vel da escala. “Estamos apenas co- meçando com a Amazon, nunca se sabe o que vai acontecer de segui- da”, disse o gestor, avançan- do que a WPP montou
TOP 10 1º Viena, Áustria 2º Zurique, Suíça 3º Auckland, Nova Zelândia 4º Munique, Alemanha 5º Vancouver, Canadá 6º Düsseldorf, Alemanha 7º Frankfurt, Alemanha 8º Genebra, Suíça 9º Copenhague, Dinamarca 10º Basel, Suíça
©WPP
investimento de marketing dos seus clientes em publicidade - o grupo inves- tiu cerca de
uma agência, em Seattle, onde se localiza a sede da Amazon, só para a servir. |
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perspectiva EM FOCO
©Polaris Images
©MatthewMcDermott/Polaris
O antes e o depois da ex-milionária Marianne Friedman-Foote
A história da norte-americana Marianne Friedman-Foote tem corrido o mundo. Como é que alguém que cresceu num condomínio de luxo em Park Avenue é hoje moradora de rua em Central Park? A resposta está em vícios e más escolhas.
de trêsmilhões de dólares (o que sobrou depois da mãe gastar grande parte da fortuna emdes- pesas médicas), que repartiu com a irmã. Mas não a aproveitou. Já casada com o atual marido, Frank Foote, um operário da construção civil que conheceu em 1997, nunca conseguiu fazer poupanças. “Gastamos o dinheiro todo sem pensar”, disse ao 'New York Post'. O casal ainda chegou a com- prar uma casa emLong Island, mas acabou por perdê-la, como tantas outras famílias, durante a recessão norte-americana. Depois disso, ainda viveram durante uns tempos com uma amiga doente, prestando- -lhes cuidados, mas esta acabou por fale- cer, o que fez com que fossem subitamente despejados. Sem mais família ou amigos que possam os ajudar, os dois vivem desde agosto entre turis- tas e transeuntes no parque mais famoso de
texto Ana Rita Dinis
Q uando, pequena, corriapelos 1 200m² da casa deseuspais,MarianneFriedman-Footecerta- mente não imaginava que, aos 63 anos, acabaria por não ter onde dormir. Foi o que aconteceu no ano passado, época em que passou a viver ao re- lentoemCentral Park (Nova Iorque), comomari- do. Agora, Marianne guarda os poucos pertences que temem sacos de lixo, que esconde emarbus- tos, e dorme numcolchãode espuma sobre o gra- mado, a poucomais de umquilômetro do aparta- mento de 13 quartos onde cresceu. AS VOLTA QUE A VIDA DÁ Foi nesse apartamento, num edifício Art Deco , avaliado emmais de dez milhões de dóla- res, que Marianne foi preparada para assumir a herança do avô, Isidor Kaplan, um bem suce- dido magnata do setor têxtil. Quando criança, a mais nova de duas irmãs teve lições de ballet e decidiu seguir os estudos na área da dança. O avômorreu pouco depois de Marianne se for- mar na prestigiada Calhoun School, em 1972. Os seus pais se separaram e o negócio da fa- mília foi então vendido por vários milhões de dólares. Nessa época, já a jovem adolescente ti- nha saído de casa. Concluiu um bacharelato na
Universidade de Boston, tornou-se enfermeira e se casou com Michael Owler, funcionário do FBI. Dessa união, nasceuGiselle, sua única filha. De regresso a Nova Iorque, a vida da herdei- ra mudou radicalmente e começou a descam- bar. Divorciou-se domarido, que semudou para a Flórida, levando Giselle, que tinha três anos. Marianne não vê a filha desde então, ou seja, há 30 anos. É neste contexto, semmarido, sem filha e sem trabalho, que começam os desen- tendimentos com a mãe, uma mulher fragili-
zada por constantes depres- sões, crises de ansiedade e ataques de pânico, e com a irmã Georgia, seis anos mais velha. Ambas tomaram o par-
EX-TOXICODEPENDENTE, MARIANNE É TRATADA COM DOSES SEMANAIS DE METADONA
tido do seu ex-marido. Sozinha, Marianne entra numa espiral de más escolhas e atitudes incon- sequentes. Entrou em depressão e se viciou em heroína. Há seis anos que é tratada com meta- dona, quatro vezes por semana. PARA ONDE FOI O DINHEIRO? Depois da morte da mãe, a ex-milionária ga- nhou uma nova oportunidade para recompor as finanças, ao receber uma herança de cerca
Nova Iorque. “É um apartamento tipo estúdio com um amplo espaço de arrumação e vista panorâmica para o parque”, brincouMarianne com a boa disposição que lhe resta. “Não acre- dito no suicídio, mas se não conseguir encon- trar algum senso de humor nomeio disto tudo, subo na árvore mais alta e pulo. Tenho que en- contrar alguma coisa nisto que me ajude a ul- trapassá-lo”, desabafou a ex-milionária ao jor- nal diário novaiorquino. |
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gente ENTREVISTA gente ENTREVISTA
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©LuizCovo
BELFORT VITOR “O esporte me impediu de me envolver com drogas, me ensinou a ter disciplina e a respeitar o próximo”
N asceu e foi criado no Rio de Janeiro. Na sua infância já era fã de esporte? Sempre gostei de praticar esporte e desde me- nino meus pais me incentivaram. Fiz bicicross , futebol, tênis e artes marciais... Em pratica- mente tudo que fiz me tornei campeão, ga- nhando troféus e medalhas. Cresci ouvindo meu pai dizer que o esporte me levaria e daria acesso a oportunidades únicas. Hoje, entendo muito bem o que ele queria dizer. Como surgiu o interesse pela luta? Como fazia várias modalidades, acabei gostan- do da luta. Me encantei com o Jiu-Jitsu e boxe. Às vezes não ia ao colégio para fazer aulas de boxe. Um dia meu pai descobriu e me deu uma boa surra, mas logo decidiu me colocar para treinar com o melhor [ n.r.: Carlson Gracie]. Desde então, nunca mais parei. Muitos jovens brasileiros sonhamem jogar futebol e vencer a Copa do Mundo. Qual era a sua relação com o futebol? Na escola do Zico cheguei a jogar como semi- profissional. Ele foi e ainda é uma figura ins- piradora na minha vida, mas em determinado momento vi que minha paixão era realmente a luta. Hoje, se você perguntar para os jovens no Brasil o que querem, muitos continuam so- nhando em ser jogadores de futebol, mas exis- te uma grande massa que tem como objetivo ser um lutador de MMA ( Mixed Martial Arts ). De que forma o esporte em geral pode cola- borar como desenvolvimento das crianças? O esporte é fundamental no desenvolvimento de qualquer criança, tanto no sentido físico, como mental e psicológico. O esporte molda o caráter do ser humano e te dá várias oportuni- dades na vida. Esporte e educação estão liga- dos um ao outro, mas em primeiro lugar vem, sem dúvida, a educação. Hoje, compreendo o
Ícone do MMA, empreendedor de sucesso, pai e marido. Não importa o papel que desempenhe, Vítor Belfort é motivo de orgulho dentro e fora do octógono. Aos 40 anos, o homem que foi salvo pelo esporte diz adeus ao UFC. Em entrevista para a Share Magazine , faz o balanço de sua vida de luta e superação.
texto Eduarda Miranda
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gente ENTREVISTA
conceito dos EUA. Eles investem não somen- te em um futuro atleta, mas pensam antes de tudo em criar um bom cidadão. É por isso que desde a middle school o esporte já é tratado com muita atenção em todas as escolas. Como o esporte fez a diferença na sua infân- cia e desenvolvimento pessoal? O esporte impediu que eu me envolvesse com drogas, me ensinou a ter disciplina, determi- nação e a respeitar o próximo. Teve o apoio da família quando passou a se dedicar à luta? Inicialmente, minha família não via com bons olhos, mas logo entenderam que eu tinha um dom e que era realmente aquilo que eu queria. Eu tinha um sonho, um objetivo. Lembro que, com 16 anos, falei pro Carlson que queria ir para os EUA porque sabia que seria campeão mundial de MMA. Na época, ninguém sabia di- reito o que era isso e muitos me chamaram de louco. Graças a Deus, nunca desisti desse so- nho e hoje para mim é uma alegria tremen- da ver o MMA ser reconhecido mundo afora e principalmente no Brasil. Quando comecei, há alguns anos, para ser cam- peão era um pouco mais complicado. Você ti- nha que fazer mais de uma luta por noite, não tinha divisão de peso, praticamente não exis- tiam regras, por isso o nome ‘Vale tudo’. E para completar eu era o mais jovem de todos. Se fi- quei nervoso? Claro que sim! Mas confiava Você foi omais jovemcampeãodeUFC. Como foi esse momento na sua vida?
maravilhosos. Se tem algo que eu conside- ro uma verdadeira benção na minha vida, foi ter encontrado a Joana. Ela é o alicer- ce da nossa casa, uma companheira, amiga, uma mãe exemplar e uma excelente mulher de negócios. Quando terminaram o namoro, se reencon- traramemum reality show . Como lidou com a exposição? Na verdade, reality show não era muito a mi- nha praia, mas eu já sabia que a Joana era a mulher da minha vida e confesso que fui lá so- mente por dois motivos: o primeiro, claro, foi a Joana e o segundo foi para o Silvio Santos transmitir minha luta do UFC no SBT. Viu como deu certo?! [risos] Eu já sabia que a expo- sição faria parte do processo, mas fui para ser o ‘Vitor Belfort’, então foi tudo normal. Eu e a Joana reatamos o namoro e minha luta contra o Chuck Liddell foi transmitida pela primeira vez na TV brasileira. E o mais impressionante é que todos se surpreenderam com o Ibope al- tíssimo. Eu já tinha a visão do esporte e sabia que um dia o MMA seria televisionado como outros eventos grandiosos. Sua esposa tem papel fundamental na sua carreira e negócios. Formam uma dupla perfeita? Somos uma equipe, Joana e eu conduzimos nossos negócio juntos. Claro que, pelo fato de eu ainda estar lutando, ela fica mais envolvi- da nos nossos negócios. Somos muito visioná- rios e empreendedores. Nós dois temos uma característica agressiva muito parecida, mas também sabemos ouvir e mudar o curso do caminho, se preciso. Ela fica mais na parte operacional, além de ser a responsável na hora de investir nosso dinheiro e planejar o futuro. Descobrimos também, que nosso time deve ser mais inteligente que a gente, por isso monta- mos uma equipe super competente com pes- soas super capacitadas e que, acima de tudo, gostam de trabalhar com a gente e têm a mes- ma visão de negócio. Qual é a principal dica para casais que tra- balham juntos? Admiração e respeito caminham juntos em qualquer área. Muito importante também é
muito em mim, no meu treinamento e na mi- nha equipe, por isso sabia que seria vencedor. Eu tinha um objetivo, estava focado. Tive que enfrentar dois gigantes na mesma noite e um deles, minutos antes de entrar no octógono, fa- lou que não queria regra nenhuma, pediu que valesse tudo, inclusive golpe baixo. O Carlson confiava tanto em mim que disse para os or- ganizadores do evento que se meu oponente quisesse ele poderia entrar até com uma faca namão. [risos] Me tornei o campeãomais novo do UFC. Com apenas 19 anos, depois de ter en- frentado dois gigantes, meu sonho de menino se tornava realidade. Vitor Belfort lutador, marido e pai. Como concilia essas funções? Não é fácil, mas faço como todo marido, pai e trabalhador. Tenho uma excelente estrutu- ra familiar, uma mulher que me entende e sabe das minhas necessidades como profissional e é sempre a primeira a me ajudar. Meus filhos cresceram nessa vida. Então esse dia a dia para eles é muito comum. Entendem que às vezes o papai é cordeiro, mas que em alguns momentos tem que se tornar o leão. Como conheceu sua esposa, Joana Prado? Conheci a Joana em seu auge na TV. Na épo- ca, ela mal conseguia sair na rua, tamanho era o assédio. Quando nos conhecemos, vi que ela era só uma menina por trás daque- la personagem. Depois de namorarmos duas vezes, nos casamos e hoje temos três filhos
“Um verdadeiro campeão é aquele que vence não só em sua vida profissional, mas principalmente na pessoal”
Joana Prado COMPANHEIRA NA VIDA E NOS NEGÓCIOS
©LuizCovo
queriam ver a Feiticeira, ninguém queria falar de esporte, nada disso”, contou Joana Prado numa entrevista. “Aí ele veio meio galã, me deu uma camisa perfumada, a gente trocou o telefone, ficamos uma vez e nunca mais. Depois de um tempão, em Los Angeles a gente se encontrou e começou a namorar”.
Joana Prado e Vitor Belfort são casados desde 2003 e têm três filhos: Davi, Victoria e Kyara. Além de esposa, Joana é também parceira profissional do marido. “A gente se conheceu num evento. Naquela época eu era a 'Feiticeira' e antes ele foi dar uma palestra e vaiaram ele porque
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©LuizCovo
“ Para mim, é uma alegria tremenda ver o MMA ser reconhecido mundo afora e principalmente no Brasil”
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gente ENTREVISTA
DUAS DÉCADAS DE LUTA
©LuizCovo
o ‘UFC 12 Heavyweight Tournament’ e se tornando o mais jovem campeão da história do UFC. Depois de 20 anos de luta, somou 25 vitórias e 14 derrotas. O lutador se prepara para abandonar o octógono em junho.
Duas décadas de luta Vitor Belfort chegou nos Estados Unidos com 19 anos para competir. Em sua primeira luta no UFC, onde ganhou o apelido de ‘fenômeno’, venceu dois lutadores, Tra Telligman e Scott Ferrozzo, conquistando
©DR
É um exemplo para os filhos e para milha- res de jovens. Como lida com essa respon- sabilidade? Na verdade, não vejo como uma responsabi- lidade. Para mim, um verdadeiro campeão é aquele que vence não só em sua vida profis- sional, mas principalmente na pessoal. Como lido comminha esposa e filhos, como trato um fã quando pede uma foto ou autógrafo, como é minha vida privada perante a Deus... tudo isso faz de um homem um vencedor. E quando se faz isso naturalmente tudo flui e não é um peso ou uma responsabilidade. Ao longo dos últimos anos você passou por inúmeras cirurgias... São mais de 14 cirurgias e realmente não tem como negar que deixam sequelas, a única for- ma de superar qualquer dificuldade é dar o seu melhor e desejar muito vencê-las, só assim é possível continuar. Uma vida com princípios e uma vida com preferências. Esse foi um comentário im- pactante que você fez. Quais as principais diferenças entre esses dois estilos de vida? Eu pauto minha vida sobre princípios que te- nho e princípios não mudam: respeito, hon- ra, amizade, etc. são atemporais. Preferências posso mudar todos os dias. Você já não gos- tou muito de uma música e hoje não consegue
saber separar os momentos de falar de tra- balho e os momentos de relaxar. Claro que nos pegamos várias vezes em um jantar ro- mântico falando sobres os planos e ideias para as academias e nossos outros negócios. Mas o principal é o casal ter os mesmos valo- res, que chamamos de core values . Nós acre- ditamos no mesmo Deus, concordamos com
Acredito na lei da semeadura, se plantarmos amor e perdão, é isso que colheremos.
OVítor é consideradooEmbaixador doMMA noBrasil. Quais foramos principais desafios em relação a aceitação do público? Com certeza tivemos grandes avanços nesses mais de 20 anos. A aceitação do público hoje
em dia é total. O Brasil se tor- nou o país do Futebol e do MMA. Também tivemos um crescimen- to considerável na infraestrutu- ra, mas ainda temos que melho- rar muito, principalmente no
“Com apenas 19 anos, depois de ter enfrentado dois gigantes, meu sonho de menino se tornava realidade”
a maneira que iremos educar nossos filhos e como e onde investiremos nosso dinheiro. Isso sem dúvida faz toda a diferença em qual- quer relacionamento. Você costuma falar sobre a importância do perdão e do amor, esses princípios sãomui- to importantes na sua vida? Perdão e amor são duas decisões que andam juntas. Amar gera perdão e sem o perdão não há como continuar amando. Esses são prin- cípios que eu e a Joana levamos muito a sério na nossa casa. As pessoas estão prontas para julgar, criticar mas todos se esquecem que por trás de qualquer pessoa - atleta, artista, en- genheiro, médico, faxineira, etc… - existe um ser humano querendo ser amado e respeitado.
suporte que é oferecido aos atletas. Todo es- porte é entretenimento, mas no nosso caso o esporte deve vir em primeiro plano. Você costuma dizer que faz das derrotas grandes vitórias. Como aplica esse pensa- mento diante dos desafios da vida pessoal? Esse tipo de mindset é uma questão de esti- lo de vida. Derrotas fazem parte em qualquer âmbito da vida do ser humano. Se isso te pa- rar, você não consegue alcançar nada. Então, o que penso e ensino aos meus filhos é que derrotas nos fazem mais fortes, mas temos que nos aprimorar para que isso aconteça. Quando descobrimos que nosso maior opo- nente é o nosso próprio eu, tudo fica mais fá- cil de ser assimilado.
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Qual é a expectativa para a última luta e quais são os próximos planos? Minha expectativa é curtir cada minuto, curtir o último camp , o último corte de pe- so, a última caminhada para o octógono no UFC e, se Deus quiser, terminar essa jornada
nem mais ouvi-la? Então, não podemos guiar nossas vidas por aquilo que gostamos somen- te, pois isso muda. É proprietário de várias academias. Sempre teve esse lado empreendedor? Poucas pessoas sabem, mas eu já venho há al- guns anos tendo negócios à parte da minha vida esportiva profissional. As academias são um deles. Graças a Deus, a minha vida pro- fissional como lutador me proporcionou uma grande plataforma para vários outros negó- cios. Nasci empreendedor, tenho novas ideias todos os dias e a Joana e minha equipe sofrem com isso. [risos] Mas tem dado certo e com isso vamos aumentando o nosso portfólio. Recentemente declarou que chegou hora de encerrar a carreira como lutador pro- fissional. Quais os principais motivos para essa decisão? Eu acredito que tudo tem um tempo e já de- diquei mais de 20 anos a esse lado da minha vida. Tenho outras coisas que gostaria de me dedicar tanto quanto me dedico a luta. Como disse anteriormente, tenho muitas idéias, mas me falta tempo para executá-las. Acho que esse
é um dos fatores que mais pesa na minha de- cisão. Mas além de tudo, sou um lutador. Essa chama ainda existe em mim, então nunca se sabe o que pode acontecer. O que sei é que essa é minha última luta no UFC, mas tudo pode acontecer.
“Acredito na lei da semeadura, se plantarmos amor e perdão é isso que colheremos”
Nesses 20 anos de luta, qual foi a sua vitória mais marcante? Todas foram especiais e têm um significado importante, mas quando fui campeão dos meio-
-pesados me marcou muito, porque minha irmã estava desaparecida há um mês e não consegui comemorar uma vitória tão marcan- te devido à dor que sentia. Quais as principais diferenças entre as lu- tas que acontecem no Estados Unidos e no Brasil? Os Estados Unidos têm um histórico muito maior emmontar grandes espetáculos, ou seja, esse know-how faz com que estejam passos à nossa frente. Mas estamos aprendendo rápido no Brasil. Logo, logo, as coisas se equilibram e quem sabe não passamos a frente como já fi- zemos em algumas áreas?
com a minha mão levantada no final da luta. Planos fora da octógono? Não tenho limites para eles! Que mensagemdeixa para aqueles almejam o equilíbrio e satisfação nosmais diferentes âmbitos da vida? Vou repetir algo que disse há pouco tempo nas minhas mídias sociais, mas acho que resume muito bem a mensagemque quero deixar para todos: batalhem por seus sonhos, nunca desis- tam, confiem nos poucos bons amigos que a vida dá e, acima de tudo, se por alguma razão tudo desmoronar, confie em Deus, Ele nunca os desapontará. |
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© fotomontagem/freeimages/AugustoReis/iStock.com/Edi_Eco Stock.co
partilha IMIGRAÇÃO
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Depois das últimas eleições, muita coisa vai mudar no campo da imigração. Em entrevista à Share Magazine , Carlo Barbieri, CEO do Oxford Group, empresa de consultoria brasileira nos EUA, explica o que precisa saber se está planejando uma nova trajetória na ‘Terra do Tio Sam’.
texto Eduarda Miranda
SONHO AMERICANO “Mesmo não tendo mais as oportunidades do passado, a segurança e a liberdade de empreender dos EUA, ganham de longe a qualquer outro país”, afirma Carlo Barbieri
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R econhecidos mundialmente como a terra das oportunidades, os Estados Unidos são o destino eleito por pessoas dasmais diferentes nações, devido ao apoio do Governo para em- presas, segurança, qualidade de vida e valoriza- ção da liberdade individual dos cidadãos. Mas nenhuma mudança é fácil e esta requer adap- tação, pesquisa, esforço e dedicação. E agora comDonald Trump, como será? Que visto deve solicitar? Pode matricular os filhos na escola? Pretende investir? Como e por onde começar? Essas são apenas algumas das mi- lhares de perguntas que chegam diariamen- te no e-mail de advogados e empresas espe- cializadas no assunto. Uma delas é o Oxford Group e o seu CEO, Carlo Barbieri, ajuda-nos com as respostas. Por que brasileiros e pessoas de diversas par- tesdomundoaindaplanejamavidanosEUA? O sonho americano vemde longe, comas imen- sas possibilidades que os Estados Unidos da- vamàs pessoas para teremuma vida segura, li- berdade e crescimento. Hoje, mesmo não tendo mais estas fantásticas oportunidades do passa- do, a segurança e a liberdade de empreender, ganhamde longe de qualquer outro país do pla- neta. O custo de vida relativamente barato e as escolas públicas de excelente qualidade com- plementam este desejo.
Existemmuitos tipos de vistos para os EUA. É muito fácil errar no pedido? Há 62 tipos de vistos nos EUA, o que, com as suas variações, soma mais de 200. Cada vis- to serve para uma forma de imigração, dese- jo e possibilidade de cada potencial imigrante. Infelizmente, como o conhecimento das alter- nativas émodesto, grande parte dos consultores
Como se pode investir no EB-5? Os cidadãos de países mais distantes preferem os investimentos feitos através de um Fundo Regional, que libera o investidor de qualquer responsabilidade na gestão. Também é o pre- ferido pelos que querem apenas viver nos EUA, sem preocupações com a administração do ne- gócio. Também existe o EB-5 direto, que pode
acabam orientado o imigrante para o tipo de visto que conhe- cem melhor, mesmo que não seja a opção ideal. Há desde o visto de estudante e diversos tipos de visto de investimento
“Com o real controle das fronteiras, haverá condições de regularização dos indocumentados”
que vão de, aproximadamente, 80 mil dóla- res até 500 mil dólares e que devem aumen- tar em breve. Quais são as principais vantagens e requisi- tos do visto de investidor (EB-5)? A grande vantagem do EB-5 é que o investidor poderá receber o green card diretamente. A ou- tra vantagem é não depender de empregador, patrocinador ou habilidades extraordinárias para embasar o visto. Os pré-requisitos são pou- cos: Os valores a investir têm de ser obtidos de forma lícita e transparente; não ter problemas com a justiça em seu país de origem; e viver nos EUA comoutras rendas, semdepender do resul- tado do investimento referido no EB-5.
ser feito por aqueles que querem investir emseu próprio negócio, assumindo a responsabilidade pelo sucesso do empreendimento. Há várias ou- tras formas de projetos, sendo o mais atraente, quando o projeto é feito pelo Centro Regional, mas os investidores participam dos resultados e tem controle pelo menos parcial do negócio. E estão previstas alterações para este visto? A legislação do EB-5 deve ter significativas mu- danças em breve, este tema está sendo discu- tido no Congresso Americano. A principal al- teração se refere ao aumento do mínimo a ser investido. A sugestão é passar o investimento mínimo para 1,35 milhão de dólares. A propos- ta contém mais de 100 páginas de sugestões.
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partilha IMIGRAÇÃO
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a variação da taxa de câmbio que muitas ve- zes dificulta o prosseguimento dos pagamentos das parcelas do empréstimo (mortgage) , custo de manutenção acima do esperado, baixa ren- tabilidade em muitos casos de casas a serem alugadas e impostos elevados em caso de fale- cimento do comprador. De que forma o novo Governo poderá inter- ferir nos negócios entre oBrasil e os Estados Unidos? Creio que o Brasil será beneficiado pela políti- ca do Presidente Trump por várias razões. Por exemplo, o fimdo acordo do Pacífico, que abria omercado americano para produtos dos países do acordo sem tarifas para os EUA, poderá dar chance ao Brasil, emespecial no caso de produ- tos primários. Também a provável imposição de impostos nos produtosmexicanos, que além de não terem impostos tinham a proximidade geográfica, abre a possibilidade de concorrên- cia para os nossos produtos industrializados. Os imigrantes brasileiros devem se preocu- par commedidas do novo Presidente? Os ilegais, aqui, comantecedentes criminais, de- vem realmente se preocupar. No caso de ilegais sem antecedentes criminais, não creio que ha- verá perseguição, pelo menos a curto prazo. Ao contrário, com a construção do muro e o real controle das fronteiras, creio que haverá condi- ções de termos uma forma de regularização dos indocumentados. No que tange a investimentos, nossa estimativa é que haverá melhora no am- biente de negócios, como o aumento das cota- ções da bolsa já indicam. Mudar para outra país é uma decisão que deve ser tomada commuita cautela. Planejar a mu- dança de forma cautelosa incluindo: visto, es- cola para as crianças, local certo para residên- cia. Planejamento da atividade do negócio da vida empresarial incluindo, pesquisa de mer- cado, plano de negócios, estabelecimento do ponto de equilíbrio, ter capital necessário até atingir este ponto e planejamento tributário, levando em conta que os impostos são diferen- tes e ao residir nos EUA o imigrante deve ofe- recer ao IRS a informação sobre faturamento (se ainda os tiver) do país de origem. Cautela coma expectativa do câmbio. Ser humilde e re- conhecer que todos os conhecimentos e expe- riência no Brasil podem não ser considerados certos ou suficientes nos EUA, as leis, os hábi- tos comerciais, de convívio, tributos e muitos outros fatores são diferentes, muitas vezes to- talmente diferentes. | Quais as principaisdicas parabrasileiros que desejam viver nos Estados Unidos?
Quais são os vistos mais solicitados pelos brasileiros? O visto de estudante, que é pedido por quem vem ao país como objetivo de estudar. Há mui- ta apreensão com relação a este tipo de visto por parte do Governo, pois muitas vezes a pes- soa fica até quatro anos no país e não paga im- postos aqui durante todo esse tempo. Depois temos o ‘L-1’, que é visto de transferência de executivo de empresa do Brasil, para abrir e desenvolver as atividades da mesma aqui nos EUA. Há também o ‘E-2’, que é muito solicita- do por brasileiros que tem dupla cidadania e o país possui acordo com os EUA, como Itália, Espanha, Japão e até mesmo Paraguai. Alguns estão buscando a segunda nacionalidade em países que concedem a mesma, mediante in- vestimento e que dão direito a este tipo de vis- to. Também são muito solicitados outros tipos de visto, como o ‘O’, ‘EB-1’ e ‘EB-3’, entre outros, que se destinampara pessoas que têmrealmen- te uma habilidade extraordinária reconhecida internacionalmente. Por fim, o mais solicitado é o de turismo e negócios, o visto ‘B1/B2 , mas em nenhuma hipótese recomendamos ao bra- sileiro fazer planos de morar nos EUA sob este visto, e nem exceder o seu tempo máximo de permanência legal no país. Quais sãoas vantagensdovistode estudante? O visto de estudante é um visto simples, emi- tido pela escola após matrícula e é retirado no Consulado Americano onde reside a pessoa. A aprovação depende de alguns fatores, como prova da real intenção de estudar, ter condi- ções financeiras para pagar o curso e manter- -se nos EUA. Além disso, a escola solicitante deve ter credenciamento e credibilidade junto ao Governo americano. Se o estudante estiver legalmente nos EUA e quiser mudar seu status pode fazê-lo. A grande vantagem do visto de
estudante é não ter necessidade de pagar im- postos sobre os ganhos no Brasil. Uma das des- vantagens é a limitação para mudar seu status para alguns vistos como L-1, após alguma per- manência no país e não poder trabalhar legal- mente e construir crédito na pessoa física. Outra dúvida que muitos imigrantes têm é se as crianças brasileiras podem frequentar as escolas públicas? Esta é uma questão muito séria e controver- tida. As escolas são obrigadas a receber estu- dantes, sem perguntarem o status imigratório, tendo em vista que todas as crianças por lei devem estudar. Mas, somente os imigrantes le- gais podemmatricular os estudantes nas esco- las, ou seja, quem não tem o visto de residente poderá ter problema quando quiser mudar o status dos filhos caso eles estejam estudando aqui sem que os pais tenham autorização para o filho estudar. Os brasileiros que possuem visto de turista (‘B1-B2’) podem financiar um imóvel? Os brasileiros ou pessoas de qualquer outra na- cionalidade podem comprar e financiar imó- veis nos EUA, mesmo sendo turistas ou venham para negócios, como tambémpodemabrir em- presas no país. As taxas de juro, em geral, são mais altas e o pagamento inicial maior do que os oferecidos aos residentes (de bom crédito). O risco fica por conta de vários fatores, como
Brasileiros nos EUA
Segundo estimativa do Ministério das Relações Exteriores, cerca de 1,4 milhão de brasileiros moram
nos EUA. A maior comunidade reside em Boston (350 mil). Não se sabe quantos deles são ilegais.
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partilha MONARQUIA
Tem fama de playboy, excêntrico e gastador. O único filho do falecido rei Bhumibol Adulyadej é o novo e polêmico soberano de um país de águas cristalinas e paisagens deslumbrantes, governado por militares. Maha Vajiralongkorn O REI QUE FICA MAL NA FOTO
©Reuters/ iStock.com/winterling
texto Nuno Estêvão
Q uando receberama notícia de que, em2007, o príncipe herdeiro havia ordenado que seu cachorro - um poodle de nome Foo Foo - se tornasse marechal da força aérea tailandesa, muitos dos súbditos daquele reino do sudeste asiático sentiramcertamente umenorme cons- trangimento. Porém, o medo de poder incorrer num crime lesa-majestade - previsto pelo ar- tigo 112º do Código Penal do país e que proíbe qualquer palavra ou ato que “difame, insulte ou ameace o rei, a rainha, o herdeiro ou o regente”, sob pena de prisão de três a 15 anos - silenciou as críticas. Pelo menos em público. Mas este é só umdemuitos episódios quemi- narama credibilidade do atual rei da Tailândia, coroado em dezembro do ano passado, após a morte de seu pai, o popular Bhumibol Adulyadej - que ao longo de 70 anos afirmou a Tailândia como uma das economias mais pujantes da re- gião, conquistando a adoração de um país com cerca de 68 milhões de habitantes.
EXTRAVAGANTE E IMPOPULAR No dia seguinte à subida ao trono de Maha Vajiralongkorn, o serviço tailandês da BBC pu- blicou um artigo biográfico que assinalava al- guns aspectos da vida do monarca. Em res- posta à divulgação do texto, a legislação que proíbe qualquer crítica às figuras reais engo- liu a liberdade de imprensa e os escritórios da emissora britânica em Bangkok foram alvo de uma visita de policiais e do exército. O 'crime' - mais um a juntar-se a outros cometidos ante- riormente por órgãos de comunicação social internacionais, e que significou que as respec- tivas edições ou ligações online ficassem ina- cessíveis em território tailandês - resultaria no encerramento da representação da emis- sora no país. O novo rei tem 64 anos e é uma figura, no mínimo, extravagante. Descrito como ummu- lherengo excêntrico, estudou no Reino Unido e na Austrália, país onde também frequentou
a Real Academia Militar de Duntroon - rece- beu ainda treino militar na Tailândia, Reino Unido e Estados Unidos. Como oficial das for- ças armadas tailandesas liderou operações militares do exército, é um apaixonado pela aeronáutica - habilitado a pilotar aviões e he- licópteros, é ele quem assume o controle dos seus dois Boeing 737 em viagens de longo cur- so - e comandou o batalhão da guarda pes- soal do rei. Com todos estes atributos, o her- deiro do trono da Tailândia dava a entender, até meados dos anos 1970, que seria um digno sucessor do seu pai, que à data da sua morte era o chefe de Estado há mais tempo no po- der e uma garantia de estabilidade no país. Apesar dos seus 88 anos e dos graves proble- mas de saúde, o rei Adulyadej nunca abdicou. Presume-se que a sua eternização no trono te- nha tido a ver com a impopularidade do prín- cipe herdeiro e com a desconfiança em rela- ção às capacidades do filho.
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opinião
64 anos O atual monarca nasceu em 1952 e foi designado sucessor ao trono da Tailândia em 1972
68 milhões A Tailândia é o 20º país mais populoso do planeta. Bangkok tem mais de 6 milhões de habitantes
30,1 bilhões De acordo com a revista 'Forbes', a monarquia tailandesa é a mais rica do mundo
André Lajst Diretor Executivo IBI - Instituto Brasil Israel
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Eis o Monte do Templo/ Haram El Sharif/ Al Aqsa. Um quadrado com pouco mais de 38 mil milhas quadradas, dentro da cidade velha de Jerusalém. Neste espaço, existem dois santuários islâmicos sagrados: a mesquita de Al Aqsa, de cúpula preta, feita em memória à peregrinação noturna de Maomé e considerada a 3ª mais importante do mundo islâmico; e o Domo da Rocha, de cúpula dourada, onde se encontra uma pedra rochosa bem escura, que se acredita ter sido utilizada por Abraão ao tentar fazer o sacrifício de Isaac. No Monte do Templo, existiram dois templos judaicos, destruídos por impérios externos, que também acabaram por expulsar o povo judeu de sua terra. Debaixo dessas construções islâmicas, encontra-se o berço do judaísmo. Abaixo, o Muro das Lamentações - o único muro externo do segundo templo que não foi destruído após a expulsão dos judeus em 70 d.C. Na mesa de negociações entre israelitas e palestinos, Jerusalém é um dos quatro pilares das discórdias. Porém, o mais complexo e quase impossível de resolver é este pequeno quadrado. Para os judeus, é o Monte do Templo, para os palestinos e 1,5 bilhão de fiéis, é Al Aqsa. Antes de 1967, esta área estava sob controle jordano, um reinado islâmico que não permitia que judeus rezassem no seu local mais sagrado. Após Israel conquistar a região, um acordo estabeleceu que o Waqf Jordaniano seria responsável pela administração do Monte do Templo/Al Aqsa. Neste status quo , os judeus não podem entrar na esplanada para rezar, apenas para passear. O acesso islâmico é aberto, incluindo para muitos palestinos, além de árabes israelitas. O conflito israel-palestino pode se resumir a este quadrado, onde a história de um está sob a história do outro, onde um tenta deslegitimar a existência do outro. Os dois lutam por um mesmo lugar, sagrado, em nome de Deus. Deveria ser mais fácil, uma vez que este Deus é pai de todos os povos, de todos os seres humanos. Conflito pela mesma terra
(DES)AMORES REAIS O rei Vajiralongkorn, designado suces- sor do reino em 1972, foi casado três ve- zes e tem sete filhos. A sua primei- ra mulher foi uma prima do lado materno, a princesa Soamsavali Kitiyakara - se casaram em 1977 e se divorciaram em 1991 -, com quem teve uma filha. Em 1994, se casou com a jovem atriz Su-jarinee Vivacharawongse, com quem teve cinco descendentes, todos nascidos durante o tempo em que estava com sua primeira esposa - aliás, a relação extraconjugal com aquela que viria a ser a sua segun- da mulher foi o motivo da ruptura do primeiro casamento. A união, que nun- ca teve a aprovação da rainha, termi- naria em 1996 com Vivacharawongse e os filhos sendo expulsos do país e o então herdeiro ao trono acusando-a de adultério. Em 2001, aquando do seu terceiro casamento, Vajiralongkorn, à época perto de completar 50 anos, dava es- peranças de poder ‘assentar’ e man- ter com a sua terceira esposa - ex-membro do seu staff pessoal - uma relação duradoura. Tiveramum filho, mas o enlace chegaria ao fim em 2014. Embora todos os divórcios tenham sido con- turbados, este último casamento terá sido o que causou mais polêmica, uma vez que terminou com nove familiares de Suwadee - incluindo o pai e amãe - acusados e condenados por crimes lesa-majestade. A existência dessa legislação dá à família real um poder quase absoluto e tem servido para encobrir vários escândalos reais. CONSOLIDAR A DEMOCRACIA Já no início da década de 1980, a rainha ti- nha referido que o seu filho tinha um pouco de ‘Don Juan’ e assumido que o herdeiro preferia passar os fins de semana com mulheres boni- tas em vez de se envolver nas tarefas do reino. Nos últimos anos, Vajiralongkorn tem pas- sado muito tempo fora de seu país - sobretudo
O general Prayuth Chan-ocha
lidera a junta militar que governa a Tailândia, desde o golpe militar de 2014
©Reuters na Alemanha, onde recentemente pro- tagonizou mais um momento emba- raçoso para os súbditos tailandeses, apresentando-se na pista do aero- porto com uma calça jeans de cintu- ra baixa e um top justo, exibindo a barriga e os braços repletos de ta- tuagens supostamente falsas - e ra- ramente demonstrou entusiasmo pelos assuntos relacionados com a casa real. Somando a esse de- sinteresse, avolumaram-se ru- mores de que o herdeiro terá problemas com o jogo e estaria envolvido em negócios ilegais. À medida que a saúde do pai foi se deteriorando, Vajiralongkorn passou a se envolver mais nos deveres reais e se associou a iniciativas pú- blicas de homenagem ao rei e à ra- inha. Em 2015, por exemplo, organi- zou dois passeios de bicicleta - ‘ bike for mom ’ e ‘ bike for dad' - que reuniramcen- tenas de milhares de pessoas. O novo monarca - que diz pretender con- solidar a democracia e promover a união do país - tem fama de ser violento commulheres, esbanjador e possuir um temperamento instá- vel, traços de uma personalidade imprevisível que colocam os lóbis instalados na Tailândia - onde a corrupção da classe política convi- ve com o autoritarismo dos militares - em so- bressalto. Logo começando pela junta militar, liderada pelo general Prayuth Chan-ocha, que governa o país desde o golpe de 2014. Embora o primeiro-ministro tenha prome- tido eleições para este ano, a nova Constituição salvaguarda o papel determinante que o Conselho Nacional para a Paz e Ordem con- tinua a ter. Cercado de interesses e forças an- tagônicas, o poder efetivo do rei é diminuto e são os militares quem, de fato, decidem o destino do país. |
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