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Nº 29 | JAN . FEV 2017 | GRATUITA recordeuropa.com
TPC: SIM OU NÃO? CONHEÇA OS ARGUMENTOS
III GUERRA MAIS POSSÍVEL DO QUE PROVÁVEL
COMO UM MIÚDO REBELDE SE TORNOU NA VOZ DE UMA GERAÇÃO David Carreira ENTREVISTA
UM CAFÉ COM ALEXANDRE FARTO AKA VHILS (DES)CONSTRUIR PARA FAZER PENSAR
sumário
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Opinião 8. Humildade e gratidão David Perpétuo 25. O que podemos desejar ao mundo este ano André Lajst 39. 2017: O ano da sua coluna! António Gaspar 43. Extensão de sentido César Ribeiro 49. Dois Minutos Cristiane e Renato Cardoso 44
Perspetiva 4. Tribunal Penal: Um comboio a perder passageiros 6. O refúgio dos últimos selvagens 8. É bom ser rapariga em Portugal
22. III GUERRA
38. 5 Dicas para o sucesso 39. Está stressado? Ótimo! 40. Saiba porque é que os japoneses vivem mais 41. A alimentação pode curar a diabetes 42. Como esquecer o inverno em casa 44. Um café com... Vhils Alexandre Farto fala do passado, das obras, do processo criativo, e da intenção que 'escava' nas paredes 48. Rita Redshoes em salto alto 50. Corrida para a morte, a história do Chico do Lázaro
Rússia, EUA e China são as três superpotências que ditam as regras da Paz mundial
Planeta Record 26. O que há de novo na sua TV 28. Grande plano: Vítor Hugo
Gente 10. Entrevista: David Carreira
Atitude 30. Roadtrip à Andaluzia
As sugestões do apresentador Francisco Garcia para uma viagem de carro, em família 34. Da fortuna ao infortúnio 36. Infografia: Factos e números inesquecíveis do Holocausto
Partilha 16. TPC: sim ou não? 20. Entrevista: Osric Chau
À conversa sobre a vida e carreira do ator canadiano, estrela da série 'Sobrenatural'
Edição #29 janeiro/fevereiro 2017 Diretor Leandro Maquinez Coordenação Carla Pinto JornalistaResponsável Ana Rita Dinis Redação Daniela Carrilho, Nuno Estêvão e Virginia Galván CopyDesk Nuno Estêvão Designepaginação (nesta edição) Ana Paula Costa, Fernando Barata e Samuel Pereira Texto (nesta edição) Francisco Garcia Marketing e apoio internacional Luana Miranda Direção comercial Deolinda Pinheiro (comercial@recordeuropa.com; + 351 210 346 052) Sites e redes sociais recordeuropa.com . facebook/recordeuropa . twitter/@tvrecordeuropa Tiragem Média 50000 exemplares . Encarte nos principais jornais de Portugal Impressão Lidergraf, Rua do Galhano, 15, 4480 - 089 Vila do Conde, Portugal Depósito legal 327515/11 . Inscrição na ERC – 126071 Proprietária/editora Rede Record de Televisão Europa, S.A NIF 506 736 903 Morada sede/redação: Rua Mártires de Timor, nº 34, Quinta Figo Maduro, 2685 - 331 Prior Velho, Portugal . Conselho de Administração Marcelo Cardoso, José Branco, Leandro Ferreira, detida em 98,94% por AION FUTURE HOLDING, SGPS, S.A. Contactos sharemagazine@recordeuropa.com . +351 210 346 000 Estatuto editorial Disponível em: https://goo.gl/yK8k6P A Share Magazine e a sua proprietária não se responsabilizam pelos serviços e produtos anunciados, nem pelo teor das ideias onde esses sejam fundamentados. Também não se responsabilizam pelos conceitos e opiniões emitidos por entrevistados ou cronistas, os quais não refletem necessariamente a opinião do editor.
perspetiva MUNDO
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A Rússia decidiu abandonar o TPI devido à alegada falta de eficácia da instituição
obrigações relativamente à resolução pacífica de conflitos são por vezes incompatíveis com a interpretação dada pelo Tribunal”, escreveu a ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africa- na, MaiteNkoana-Mashabane, namissiva envia- da à ONU. Esta decisão segue-se a uma dispu- ta, em 2015, quando a África do Sul autorizou o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, a visitar o país para uma cimeira daUniãoAfricana, apesar de o chefe de Estado enfrentar ummandado de captura do TPI, por alegados crimes de guerra relacionados com o conflito no Darfur. A África do Sul já vinha a fazer há algum tem- po, com o Quénia, Uganda e Zimbabué, uma campanha para que a União Africana, embloco, deixasse o TPI. No entanto, a proposta foi recu- sada numa cimeira do grupo de países africanos. PRECONCEITO PÓS-COLONIAL Seguindo os passos do gigante democrático africano, a Gâmbia também fez saber que vai abandonar o TPI. “Há muitos países ocidentais, pelo menos 30, que cometeram crimes de guer- ra contra Estados soberanos e os seus cidadãos, e desde a criação do TPI nunca foramimputados como criminosos de guerra”, disse o ministro gambiano da Informação, Sheriff Bojang. Dos dez casos sob investigação do TPI, nove deles tratam de abusos dos direitos humanos cometidos emÁfrica e as queixas dos países afri- canos sobre a possível discriminação do orga- nismo têm sido frequentes. Entre os países que acusam o TPI de preconceito pós-colonial con- tra os líderes da região, está tambémaNamíbia,
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Um comboio a perder passageiros
O Tribunal Penal Internacional tem estado sob fogo cerrado. Tudo começou com uma vaga de países africanos a bater com a porta e pode acabar numa saída em bloco da instituição que julga crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio.
texto Ana Rita Dinis
D esdeque foi constituído, em2002, oTribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, tem enfrentado a falta de cooperação de vários governos. Os Estados Unidos, por exem- plo, assinaram o tratado fundador do Tribunal, mas nunca o ratificaram, não estando por isso sujeitos à sua jurisdição. Isentos do jugo estão também China, Israel e a Ucrânia. Outro caso é o da Rússia, que anunciou em novembro que vai retirar a assinatura do Estatuto de Roma, acusando a instituição de não ser “uma enti- dade independente e prestigiada”. A decisão de Moscovo foi comunicada após a publicação de um relatório do TPI que classificou a situação na península da Crimeia como uma “ocupação”. ÁFRICA DO SUL: UMA SAÍDA DE PESO Mesmo entre os países que ratificaram o tratado já há várias ‘desistências’. Desde que o
Quénia votou, em 2013, a saída do TPI (dias an- tes de o órgão começar a julgar o seu Presidente, Uhuru Kenyatta) outros governantes do conti- nente africano ameaçaram fazer o mesmo. O Burundi, cujas supostas violações de direi- tos humanos estão a ser investigadas pela cor- te, foi umdos primeiros a concretizar a ameaça,
anunciando a saída em outubro último. Importa lembrar que, em 2015, o TPI abriu uma in- vestigação sobre a violência po- lítica no Burundi, que cresceu um ano antes, quando o atual
O TPI FOI CONSTITUÍDO EM 2002 PARA JULGAR GRAVES ATROCIDADES QUE NÃO PODEM SER TRATADAS PELOS TRIBUNAIS NACIONAIS
Presidente, Pierre Nkurunziza, anunciou que concorreria pela terceira vez à Presidência, ape- sar de estar impedido pela Constituição. Tambémemoutubro foi a vez da África do Sul comunicar a intenção de abandonar o Tribunal. O Governo de Pretória “considera que as suas
que avisou em dezembro último que só perma- necerá na instituição se os EUA aceitarem jun- tar-se à lista de Estados-membros. “As pessoas dizem que o TPI só tem como alvo líderes afri- canos. Isso parece ser verdade e é umproblema”, afirmouoPresidentenamibiano,HageGeingob. |
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perspetiva MUNDO
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Algumas das poucas imagens que existem da perigosa ilha
Já ouviu falar da Ilha Sentinela do Norte? Provavelmente não. É um dos locais mais remotos e isolados do mundo e os seus habitantes fazem de tudo para que assim continue. O REFÚGIO DOS ÚLTIMOS SELVAGENS
texto Virginia Galván
‘‘ U ma tribo violenta e selvagem, com cabe- ças, olhos e dentes como os dos cães. São muito cruéis, matam e comem qualquer fo- rasteiro a que consigam deitar a mão.” Foi as- sim que no século XIII Marco Polo descreveu os aborígenes das Ilhas Andamão, situadas na baía de Bengala, no Oceano Índico. No entan- to, o assunto pareceu ter ficado esquecido até 1867, quando um navio indiano encalhou na praia de uma das ilhas. Poucos dias depois, a tripulação foi brutalmente atacada pelos nati- vos. Bem-vindos à Ilha Sentinela do Norte! TRIBO HOSTIL Cem anos após este incidente - que não ter- minou de forma trágica graças a uma bem-su- cedida operação de resgate - os rumores so- bre a misteriosa ilha persistiam. Na década de 1970, a maioria dos nativos do arquipélago já estava integrada na civilização pelo Governo indiano, pelo que se pensou que seria segu- ro organizar uma expedição à ilha. Reuniram uma equipa de filmagens, antropólogos e po- lícias, com o objetivo de tentar conquistar a amizade e a confiança dos sentineleses. Os visitantes levaram diversos presentes, como uma boneca, tachos, panelas e até um porco
vivo, que depositaram na praia, na esperança de agradar aos nativos. Não resultou. Foram corridos com saraivadas de flechas, o porco foi morto e as restantes oferendas enterradas na areia. Mas os encontros com a temível tribo da Sentinela do Norte não ficaram por aqui.
areia e uma densa selva - alguns marinheiros quiseram desembarcar e aventurar-se naquele território inexplorado. O capitão do navio orde- nou, porém, que permanecessema bordo, deci- são que se veio a revelar sensata, pois da selva emergiu um grupo de homens de pele escura, completamente nus e de armas primitivas em
DOS PRIMEIROS HUMANOS Numa noite de agosto de 1981, umcargueiro de Hong Kong, de seu nome Primrose, teve a infelicidade de encalhar num recife de coral nas águas da baía de Bengala. Depois de
A ILHA É HABITADA HÁ MAIS DE 60 MIL ANOS E NUNCA FOI ‘AFETADA’ PELO MUNDO MODERNO
punho. “Selvagens! Devem ser mais de 50, es- tão armados e a construir barcos de madeira. Receio que nos abordem ao pôr-do-sol, a vida da tripulação está emperigo”, alertou o capitão pela rádio. Armados apenas com pistolas de si- nalização e machados, os marinheiros conse- guiram repelir o ataque durante quase uma se- mana, até serem finalmente resgatados. Os antropologistas acreditam que estes vio- lentos indígenas habitam a ilha há cerca de 65 mil anos e são descendentes diretos dos primei- ros humanos que viveram em África. Ninguém sabe que língua falamou por quantosmembros é composta a tribo, estimando-se que a ilha, que
usar o rádio para pedir auxílio, nada mais res- tava à tripulação a não ser esperar. Ao avista- rem a ilha, desabitada ao que parecia - apenas
TERRITÓRIO INDIANO A Ilha Sentinela do Norte encontra-se a oeste da Ilha Andamão do Sul, na Índia
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é pouco maior do que Manhattan, tenha capa- cidade para cerca de 400 pessoas. AGRESSIVOS E... CANIBAIS? Os recifes são uma das defesas naturais da ilha, que contribuempara a isolar aindamais do mundo exterior, uma vez que impedem a apro- ximação dos navios. Ao mesmo tempo que re- pelem os intrusos, facilitam a alimentação dos sentineleses, que pescam nas pequenas lagoas que se formam junto à costa, onde abunda a fau- na marinha. Existe a crença antiga de que, para alémde se alimentar de peixe e fruta, a tribo pra- tica também o canibalismo, no entanto, tal teo- ria nunca foi provada. Os únicos indícios prová- veis são o uso de ossos dos antepassados como bijuterias, crânios inclusive, mas como saber se realmente os comeram ou não? Na verdade, apenas um antropologista con- seguiu estabelecer um contacto mais pacífico coma tribo. Durante 20 anos, Triloknath Pandit fez uma série de visitas à ilha, mantendo-se a uma distância segura a observar a população. Em 1991, conseguiu finalmente interagir com os nativos. Umgrupo de homens aproximou-se, movido pela curiosidade, chegandomesmo a en- trar no barco do antropologista. Apesar da ati- tude aparentemente amistosa, os sentineleses não permitiram que o contacto se prolongasse por muito tempo, indicando através de gestos ameaçadores que a visita tinha chegado ao fim. À MARGEM DA CIVILIZAÇÃO Os habitantes da Ilha Sentinela do Norte são um povo tão resistente que escapou intacto ao tsunami de 2004, um dos mais mortíferos da história, que dizimou mais de 230 mil pessoas. A tribo sentiu a aproximação da catástrofe e fu- giu a tempo para terrenos mais elevados. Três dias depois, um helicóptero da Marinha india- na largoumantimentos na praia, sendo de ime- diato ameaçado por guerreiros de arco e flecha, deixando bemclaro que não precisavamda aju- da de ninguém. Após décadas a tentar estabelecer contacto, e perante a resistência dos locais, a Índia decre- tou em 1996 o fim das visitas aos sentineleses. Atualmente, existe uma área de cerca de cinco quilómetros em torno da ilha que é proibido trespassar, patrulhada por mar e terra. Para os mais curiosos que queiram espreitar este local inóspito, omais seguro é aceder às imagens dis- poníveis na Internet, captadas por satélite ou pelos visitantes mais ousados. Numa delas, po- demos observar a velha carcaça do Primrose à deriva, ainda encalhado nos recifes, para sem- pre condenado a flutuar nas águas da temível Ilha Sentinela do Norte. |
IMIGRAÇÃO Obama bateu recorde de deportações
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As declarações anti-imigração do novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm suscitado algumas preocupações. Contudo, o seu antecessor deportou mais pessoas do que todos os Presidentes norte-americanos do século XX juntos. Ao longo da campanha eleitoral, Donald Trump fez saber que uma das iniciativas que iria reforçar seria a extradição de imigrantes ilegais associados à criminalidade. O Presidente afirmou que deportaria entre dois a três milhões de imigrantes que tenham registo ou antecedentes criminais, como membros de gangues ou traficantes de droga. Os números parecem avassaladores, mas não são inéditos. Só entre 2009 e 2012, Barack Obama ordenou a extradição de um total de 2,5 milhões de cidadãos sem documentação necessária para viver no país, incluindo latinos, um grupo eleitoral que votou pela sua reeleição em 2012. Conhecido por ‘Deporter in chief’ entre as comunidades de imigrantes, Obama deportou mais imigrantes do que qualquer outro Presidente na História dos EUA.
Português é o melhor fotógrafo de viagens de 2016 Esta imagem registada na Etiópia foi a primeira captada a partir de um drone a ser premiada neste concurso
Joel Santos foi o grande vencedor do concurso ‘Travel Photographer of the Year’, tendo sido eleito o fotógrafo de viagens do ano pelo painel da organização com base em Inglaterra. O júri considerou que os trabalhos apresentados pelo fotógrafo, o primeiro português a vencer este concurso, mostram
uma "assinalável diversidade nos motivos, na técnica e na sensação". "Foi com uma enorme honra que recebi esta notícia. É imensamente positivo ver o nosso trabalho e paixão reconhecidos por umdos mais globais e prestigiados prémios internacionais", escreveu Joel Santos na sua página de Facebook.
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opinião
perspetiva PAÍS
©SylvainReygaerts
David Perpétuo Diretor Executivo da Record TV Europa
©DR
Humildade e gratidão Em novembro, a Record TV apresentou a sua nova imagem. Nos mais de 150 países onde opera, a emissora deu a conhecer um novo logo, um novo slogan , uma nova identidade visual. Para muitas empresas e pessoas, a mudança e a aposta na diferença significa uma tentativa de começar do zero, de apagar estratégias desastrosas ou esquecer erros irreparáveis. Não é o caso da Record. Aliás nunca foi, nos seus 63 anos de história. A cultura empresarial do grupo sempre se inspirou nas experiências do passado, nas mais e nas menos bem-sucedidas. É impossível construir um futuro auspicioso sem se terem em conta os passos ou tropeções dados. Saber como é que chegámos até aqui é fundamental para determinar em que estado queremos chegar mais adiante; não interessa apenas seguir em frente, a força e energia que teremos quando lá chegarmos serão decisivas. Com mais de oito séculos de lições, o próprio país parece ter incorporado esta ideologia e aprendido a tirar partido do passado. Para lá dos incêndios, das perseguições, das manifestações e das perdas humanas irreparáveis, 2016 foi para Portugal um dos melhores anos da última década, senão mesmo o melhor. No ano que passou, o país manteve-se como um dos mais seguros da Europa; o Governo antecipou o pagamento da dívida ao FMI e o PIB cresceu acima das expectativas; a seleção de futebol trouxe a taça europeia para casa e a de hóquei em patins repetiu a proeza; os alunos ultrapassaram, pela primeira vez, a média da OCDE nos testes PISA, em Ciências e leitura; Leonor Teles e Nuno Lopes elevaram a cultura nacional no estrangeiro, os portugueses pagaram do seu bolso uma pintura e a UNESCO classificou a falcoaria portuguesa e o barro preto de Bisalhães; o turismo bateu recordes, o Web Summit levou 53 mil pessoas a Lisboa, e um ex-primeiro-ministro subiu ao mais alto cargo da ONU. Como Portugal, a Record TV não está só diferente, está ainda melhor! Em 2016, ano em que o cabo atingiu o maior resultado de sempre, a Record TV cresceu, de forma impressionante, 20% em audiência. António Guterres agradeceu a nomeação para a ONU com as palavras “humildade e gratidão”. É com as mesmas que a Record TV entra em 2017. Obrigado por contar connosco!
É BOM SER RAPARIGA EM PORTUGAL
Portugal é o 8º país do mundo que oferece melhores oportunidades às jovens mulheres, segundo um estudo da organização Save the Children.
texto Ana Rita Dinis
O índice de 'Oportunidades para Raparigas', realizado pela organização não-governa- mental (ONG) Save the Children, mediu cin- co indicadores: casamento infantil, gravidez na adolescência, mortalidade maternal, mu- lheres no parlamento e conclusão do ensino secundário. À frente de Portugal, estão apenas Suécia, Finlândia, Noruega, Holanda, Bélgica, Dinamarca e Eslovénia. O país, tal como a maioria dos 144 analisados, apresenta proble- mas, sobretudo na representação feminina no parlamento. Recorde-se que, nas últimas elei- ções legislativas, foram eleitas 76 deputadas, que preenchem apenas um terço do hemiciclo. BRASIL COM POSIÇÃO ALARMANTE Entre os países lusófonos, numa lista onde não constam Angola e Cabo Verde, o segundo melhor classificado é Timor-Leste, na 66ª po- sição. O Brasil aparece somente na 102ª posi- ção, com os autores do estudo a destacarem que se trata de um país com rendimentos mé- dios altos, que ainda assim está apenas ligei- ramente acima no índice do Estado frágil e de baixos rendimentos do Haiti, que ocupa o 105º lugar. Segundo o relatório, as meninas brasilei- ras têmmenos oportunidades sobretudo na re- presentação parlamentar, mas o país apresenta também altas taxas de gravidez na adolescên- cia e ao nível do casamento infantil. Moçambique é o pior país lusófono na aná- lise, ocupando a 130ª posição e apresentando problemas em todas as áreas. Guiné-Bissau
(135º) e Guiné-Equatorial (119º) apresentam problemas em todos os indicadores. No fim da lista, e considerados os piores países para as raparigas ao nível de oportuni- dades, estão Níger, Chade, República Centro- Africana, Mali e Somália. “Os piores lugares para ser uma rapariga são os países mais pobres do mundo. Os 20 paí- ses na parte inferior do índice são todos países de baixos rendimentos na África Subsariana. Estes países têm taxas extremamente altas de privação em todos os indicadores seleciona- dos”, lê-se no documento da ONG. Por outro lado, os autores do estudo cons- tataram que nem todos os países ricos estão em posições tão boas quanto deveriam. Um dos exemplos são os EUA que saem prejudi- cados sobretudo na representação parlamen- tar e apresentam taxas relativamente altas de maternidade na adolescência e de mortalidade materna, em comparação com outros países. | Países commais e menos oportunidades para raparigas ( - ) 1º Níger 2º Chade 3º República Centro-Africana 4º Mali 5º Somália (+) 1º Suécia 2º Finlândia 3º Noruega 4º Holanda 5º Bélgica ... 8º Portugal Fonte: Save the Children
8 SHARE MAGAZINE
gente ENTR EV ISTA
10 SHAR E MAGAZI NE
H á uns anos disseste que não seguirias a música, como o teu pai e o teu irmão. O que te fez mudar de ideias? O que mudou tudo foram os ‘Morangos com Açúcar’. Como era uma série onde todos ti- nham de cantar, fui obrigado a fazê-lo. [risos] Eu não queria, porque já haviamuitos cantores na família e sempre fui bastante rebelde, l’en- fant terrible . Sempre quis fazer algo diferente para me afirmar, por isso é que, logo desde os primeiros álbuns, quis marcar pela diferença, tanto na família como no panorama musical português. Se a tua família não tivesse carreira namúsi- ca, terias feito o mesmo percurso? Há sempre uma influência da família; um filho de umprofessor temmaior probabilidade de se tornar professor. Se estás rodeado de música todos os dias, tens mais apetência para ouvir e opinar sobre música. Mas até acho que o facto de ser filho de um cantor e irmão de outro fez com que não entrasse na música mais cedo. Optaste por um estilo de música muito dife- rente do deles de propósito? Não, isso acabou por ser um processo natu- ral. As minhas influências musicais resultam muito do hip-hop francês e norte-americano e, à partida, o meu primeiro álbum nunca se- ria de fado. [risos] Ainda assim, tive a sorte de nunca ter sido muito comparado com a famí- lia, pelo facto de estar a fazer algo muito dife- rente. Como entrei primeiro pela representa- ção, foi mais fácil para mim do que foi para o Mickael, por exemplo. VivesteatéaosdezanosemDourdan(França). O que é que nunca esquecerás desse tempo no bairro? Das calças de fato de treino Spike, em vez de Nike; dos polos da Pidas, versão barata da Adidas [risos]... Embora me sinta mais portu- guês do que francês, ainda tenho muito essa ligação com a cultura francesa. O meu back- ground de desenhos animados, por exemplo, foi criado em França e às vezes quando me falam
Diz-se q ue o fil ho do me io é, normalmente, mais difícil, ma is reb el de . O David conf irma a teori a . Depois de algu ma resis tê ncia, o en fant ter ri ble d a família Carreira re nd eu-s e à mú sica e , em cinco anos, tornou-se num do s ar ti st as m ais ou vidos em P ortu ga l, e não só. Aos 25 ano s, a cam inho do segund o álbum em francês , ac redita q ue o t raba lh o vale mais do que o talento e que tudo n a vi da precisa d e te mp o.
texto Ana Rita Dinis
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gente ENTREVISTA
de desenhos animados, não sei do que estão a falar. Essas coisas nunca se esquecem.
“O facto de ser filho de um cantor e irmão de outro fez com que não entrasse na música mais cedo” difícil, a minha mãe era chamada à escola muitas vezes, enfim... mas, por outro lado, ti- nha uma grande ligação com a minha mãe. Aliás, eu não ia para a escola sem dar um bei- jinho à minha mãe, e até já contei a história da vez em que não consegui fazê-lo e pedi a um desconhecido para me levar novamente a casa para dar umbeijo à minha mãe. [risos] Por um lado, eu era um rebelde e a família pensava ‘o que vamos fazer com ele’ e, por outro, era o menino da mamã. De amigo gordinho das miúdas a seres per- seguido por elas, como é que geres essa mu- dança? Acho piada. Sei que há artistas que não lidam bem com o facto de não terem privacidade, mas eu sempre consegui lidar bem com isso. Sei que há certas coisas que não posso fazer - não posso ir à praia ou ao cinema -, mas lido bem com isso. A partir do momento em que tens um trabalho em que apareces, o assédio dos fãs faz parte e tens de o aceitar. São essas pessoas que te levam onde estás. Quando mar- cas uma sala, são essas pessoas que estão lá e que te deixam fazer o que mais gostas. O que tiveste de aprender quando, mais tar- de, viveste sozinho em França? Sobretudo cozinhar. [risos] O mais complica- do foi estar longe da família. Estava a gravar o meu primeiro álbum em francês, um grande desafio, e estava sozinho num mercado onde ninguém sabia quem eu era. Estás habituado a ser cabeça de cartaz em Portugal e, depois, lá és a primeira parte da primeira parte, portanto, até para o ego foi uma lição de humildade, mas foi algo que me fez muito bem. Hoje vou para o segundo álbum francês com outro moral, mas tive de me pôr à prova novamente pois mui- tas pessoas não me conheciam. Acho que em todos os álbuns, em todas as digressões, com maior ou menor risco, tens sempre de provar alguma coisa. Procuras sempre uma vertente internacio- nal na tua carreira? Sim, claramente. A música é global, com a Internet e com o streaming , chega a todo o mundo, não precisas de fixar o teu trabalho no teu país. Sempre tive uma abordagem, a nível de sonoridade, mais próxima do que se
passa pela educação que os meus pais me de- rame pelo ensinamento de que o talento é uma parte pequena da vida, o mais importante é o trabalho. Por isso é que há pessoas muito ta- lentosas que não conseguem singrar. Sofrestemuito como factode teres sidouma criança gordinha? Agora vejo isso a rir, mas na altura não era assim. Era um bocado gozado... Era o amigo gordinho de que as meninas gostavam muito, mas com quem nunca pensavam namorar ou sequer dar um beijo na bochecha. Isso refle- te-se em alguns dos meus temas, como ‘A for- ça está em nós’, que fiz com o Snoop [Dogg], ou ‘Não papo grupos’, que fiz com o Karetus & Plutónio. Tento sempre passar mensagens po- sitivas como ‘acredita que um dia vais conse-
Quando voltas lá, tens a sensação de que é tudo mais pequeno do que imaginavas? Sim, imenso. O bairro onde morávamos tem essa particularidade. Lembro-me de que havia uma descida, que no final cruzava com uma estrada onde passavam carros, e que eu fazia de skate - sim, eu tinha um ladomasoquista [ri- sos] -, e na altura parecia uma autêntica mon- tanha. Há pouco tempo regressei lá e percebi que a descida era ridícula, quase não tinha in- clinação. [risos] O que é que foi mais difícil namudança para Portugal? Ao contrário doMickael, eu não queria vir, por- que tinhamuitos amigos lá, mas depois passou. Como vinha a Portugal só de vez em quando, quando cheguei não falava português, aprendi a língua a ver as placas da autoestrada. [risos] A transição foi difícil, mas acabou por ser rápida. O facto de não teres sido uma criança pri- vilegiada faz com que vejas a vida de forma diferente? Sinceramente, não sei. Não sei se a manei- ra como vejo a vida não terá mais a ver com o meu feitio do que com o ambiente em que cresci. Joguei futebol no Atlético Clube de Portugal, em Alcântara, e no Real Sport Clube de Massamá, por isso, sempre estive rodeado demalta humilde e sempreme senti bemnesse ambiente. Acho que a minha atitude também
guir’, porque ‘o talento é 10% e o resto é compromisso’. Além de gordinho, era muito tímido, e para superar isso tornei-me rebelde. Os meus pais tiveram mesmo de me pôr numa esco-
la privada. [risos] Claro que esta não era a me- lhor forma de lidar com as coisas, mas eu não gostava de me sentir gozado e defendia-me como podia. Naquela altura tinha a ideia de que era o super-homem, que conseguia tudo, e que estava ali para ajudar os que tambémeram gozados. Confirma-se, eras mesmo o filho complica- do da família... Eu era bastante complicado, tinha um feitio
Discografia CINCO ANOS DE SUCESSOS
David Carreira lançou o primeiro disco em outubro de 2011. 'N.º 1', produzido pela dupla francesa Tefa e Blasta, foi galardoado com a dupla platina e manteve-se no top durante 43 semanas consecutivas. O segundo trabalho, 'A força está em nós', foi lançado em 2013, com participações de Snoop Dogg, Boss AC, Anselmo Ralph e Diana Chaves. Dois anos depois, após lançar um álbum em França,
o 1º lugar no top de vendas nacional. Recentemente, ficou disponível o CD/DVD '360° Live Campo Pequeno', onde se incluem os sucessos ‘Primeira Dama’, ‘In Love’ e ‘Não Fui Eu’, para além dos primeiros grandes êxitos. Este espetáculo contou com a participação de Ana Free, Boss AC e C4 Pedro, e com um momento especial com o pai do artista, Tony Carreira.
o cantor regressa ao mercado português com o single ' Primeira Dama', que rapidamente se transformou num sucesso junto das rádios nacionais. Na véspera do seu grande concerto no Campo Pequeno, em 2015, David apresentou '3', o último álbum de originais, que alcançou
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“Em todos os álbuns, em todas as digressões, commaior ou menor risco, tens sempre de provar alguma coisa”
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gente ENTREVISTA
faz lá fora, com uma forte componente visual, combailarinos, enfim, mais ao estilo de Justin Timberlake, Beyoncé ouMichael Jackson, can- tores que ligammúsica comdança. Ainda hoje, tens muito pouco disso em Portugal e, devaga- rinho, vai surgindo uma nova vaga, da qual es- pero fazer parte, que está a trazer para o país essa cultura. Os teus videoclipes contam, normalmen- te, histórias e quase sempre com um esti- lo cinematográfico. És tu que desenvolves as ideias? Sou emuitas vezes até dou ideias a outros artis- tas. Sempre gostei desse lado filme na música. O 3 Project, por exemplo, foi um desafio brutal porque estivemos a gravar em Inglaterra, Cuba e Portugal. Foi complexo criar uma história em oito vídeos gravados em sítios tão diferentes, commúsicas tão diferentes. Hoje em dia, infe- lizmente, um álbum vive apenas seis meses. O conceito do 3 Project foi pensado para prolon- gar esse tempo. As pessoas vão descobrindo um videoclipe nomeio do projeto e, pouco a pouco, vão percebendo a história toda. Gostavas de fazer realização? Gostava imenso. Sempre adorei cinema e essa é uma das razões pelas quais saí um pouco da representação emnovelas, soumesmomais de cinema e séries. Queres continuar a representar em cinema e teatro? Depende dos projetos. Há pouco tempo fiz o ‘Trolls’ e adorei. O projeto era muito aliciante e diverti-me imenso. Tenho muito mais ligação “Acredito que quando tens um objetivo de vida, seja ele qual for, tens de saber fazer sacrifícios” com o cinema do que propriamente com o tea- tro. Já recebi várias propostas para fazer musi- cais, mas não é a minha praia. És o Carreira mais bem sucedido nas redes sociais. Para ti, é mais importante o núme- ro de seguidores no Instagram ou os discos vendidos? Os discos vendidos! As redes sociais são mui- to importantes. É uma forma de estares mais próximo dos artistas, mas uma coisa é fazer um like numa foto, outra é alguém deixar, por exemplo, de ir ao cinema para comprar um ál- bum ou um bilhete para um concerto, numa
‘DKR’ Booba ‘Starboy’ The Weeknd ‘Pick up the phone’ Travis Scott ft. Young Thug & Quavo ‘Wolves’ Kanye West ‘24K Magic’ Bruno Mars ‘Cruel’ Snakehips ‘Imaginamos’ Mickael Carreira ‘Gangsta’ Kehlani ‘Heathens’ Twenty One Pilots ‘Pillowtalk’ Zayn Nos headphones do David
altura em que já não se compram álbuns. Por isso é que dou tanta importância à sessão de autógrafos nos concertos. Qual foi apior coisaque jádisseramsobre ti? Uiiii, já disseram tantas coisas... a última que mais me chateou e à qual até respondi comum processo foi dizerem que os meus fãs pagavam para ter umautógrafomeu. Emprimeiro lugar, é falso e ridículo, em segundo, acabaram por ofender os meus fãs. É um jornalismo sensa- cionalista, que nem é jornalismo. Acabaste de encerrar a 3 Tour, que projetos se seguem? Férias. [risos] Vou descansar, desligar um pouco das redes sociais e aproveitar para es- pes, que serão um pouco megalómanos. [ri- sos] Sinto que preciso de fugir para as pessoas não se cansarem. O álbum '3' foi ouro em duas semanas de vendas; para a Blitz foste várias semanas o artista mais mediático de Portugal; vences- te o prémio de ‘Melhor Artista Português’, na categoria de ‘Best Portuguese Act’, dos MTV Awards... Enfim, 2016 foi o teu ano? Semdúvida. Este foi omelhor álbumque fiz até agora, com a melhor receção, a melhor digres- são, sempre com casa cheia, e senti que conse- guimos passar para outro nível. tar com a família. A digressão teve mais de 60 datas, acabei de lan- çar o DVD do Campo Pequeno, es- tou a acabar de escrever o novo ál- bum em francês que sai em abril e a preparar os próximos videocli-
Quais são, para ti, as principais qualidades da geração criativa que representas? Acho que, sem ter consciência disso, a nova ge- ração é expert em música - por ter mais aces- so, temmaior sensibilidade artística. Há tanta música e tanta variedade que os miúdos, até as geraçõesmais novas do que aminha, percebem muito mais de música do que as gerações an- teriores. Se eu mostrar um som à minha irmã, ela é capaz de avaliar se o beat está bem feito. Ela não sabe porquê, mas percebe. Tens tempo para viver o que se espera de um típico rapaz com 25 anos? No último ano não tive, mas sempre fui mais velho na minha cabeça e sempre tive amigos mais velhos. Tive uma fase de sair à noite, mas durou pouco tempo, soumais de ficar em casa. Acredito que quando tens um objetivo de vida,
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'360° LIVE CAMPO PEQUENO' O registo em DVD do concerto no Campo Pequeno entrou diretamente para o número 3 do top nacional de vendas + 800 mil Número de fãs de David Carreira na sua página de Facebook Ouro O último álbum, '3', alcançou o ouro, em apenas duas semanas 13 milhões Número de visualizações do videoclipe 'Primeira Dama', no YouTube
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amor. É uma questão de construção, a primei- ra casa, o primeiro filho, as primeiras dores de cabeça... acho que isso é bonito. Foi o exemplo que tive e gostava um dia de criar isso. Qual foi a maior lição de vida que aprendes- te até agora? A ter calma. Quando és muito novo, queres tudo, para agora, para hoje, para já, e às vezes mais vale ter calma e pensar um bocado sobre as coi-
sou muito novo. Acho que vou querer ser pai quando for a altura certa. Há uma altura cer- ta? [risos] Numa entrevista à 'Share', o teupai disse que o que mais desejava passar aos filhos eram os valores da honestidade, respeito e grati- dão... Que mais é que aprendeste com ele? Felizmente, aprendi muita coisa com os meus pais. Tenho a sorte de ter uma família que
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seja ele qual for, tens de saber fazer sacrifícios. Em vez de saíres à noite com amigos, tens de ficar, porque tens de te levantar cedo. Mas quando tiro férias, curto imenso. Vou para a Tailândia, divirto-me com amigos, aproveito para fazer tudo o que me apetecer, como um banho de meia noite, por exemplo. [risos] O teu irmão vai ser pai embreve. Já pensaste que tipo de tio queres ser? Toda a genteme diz que o tio está cá para estra- gar e é isso que pretendo fazer. Essa é a parte gira. Estou curioso, não estava à espera, estou habituado ao meu irmão noutro registo, no de parceiro de consola. Então, estou na expectati- va de perceber como será omeu irmão como pai.
não trocaria por nada. Gostava, sem dúvida, de ser um pai como o meu foi para mim, o melhor ami- go. Às vezes, eu e ele temos con- versas surreais de pai para filho. Damo-nos mesmo muito bem, go-
“É incrível quando consegues criar algo e partilhar a tua vida com outra pessoa. Acho que isso é que é amor”
zamos um com outro... Gostava um dia de po- der fazer a mesma coisa com o meu filho.
sas para não fazeres o que não deves. Continuo a ter vontade de fazer muitas coisas, mas sei que elas têm o seu tempo. Numa carreira, e isso aprendi com o meu pai, não existem só pontos altos - há altos e baixos. Tudo o que fazes quan- do estás em cima vai pesar quando estiveres em baixo, as atitudes boas e más, e normalmente só as pessoas humildes conseguem descer e voltar a subir. Não podes ser só bom no que fazes, tens de ser boa pessoa também. |
Qual é a importância do amor na tua vida? Sou um romântico 2.0, que é a nova geração de românticos. Gostava de poder ter aquela pes- soa que sabes que te vai acompanhar em todas as fases da tua vida, as boas e as más. É incrível quando consegues criar algo e partilhar a tua vida com outra pessoa. Acho que isso é que é
E tu, planeias ter filhos? Sim. Gosto de famílias grandes, mas ainda
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O s TPC [trabalhos para casa] são a primeira coisa que faço quando chego a casa, porque depois fico como resto do tempo livre.” As pala- vras são de Carolina Fernandes, aluna do 9º ano, mas poderiam ser de muitos outros jovens, que tal como ela dedicam boa parte do tempo a rea- lizar esta tarefa escolar pós-aulas. “Os TPC são trabalhos que devem ser feitos autonomamente pelo aluno, fora do contexto da sala de aula. Tudo o que seja resolver trabalhos dentro da escola não são TPC. Amissão do traba- lho de casa é funcionar como um ‘termómetro’ para que se tenha a noção das competências que o aluno adquiriu”, explica Pedro Rosário, profes- sor no Departamento de Psicologia Aplicada, da Escola de Psicologia da Universidade doMinho.
Os TPC foram idealizados para consolidar conhecimentos e promover o trabalho autónomo dos estudantes. Elogiados por uns e criticados por outros, são uma dor de cabeça para muitos jovens e respetivos pais. A Share foi conhecer opiniões sobre este clássico dos tempos de escola.
GREVE AOS TPC No final do ano passado, a Confederação Espanhola de Associações de Pais e Mães de Alunos (CEAPA), numamobilização semprece- dentes, elevou a discussão sobre os TPC a nível nacional, após declarar um mês de greve aos deveres escolares nas escolas públicas. Entre os argumentos invocados destacavam-se a in- vasão no tempo que deve pertencer às famí- lias e a violação do “direito ao recreio, à brin- cadeira e a participar nas atividades artísticas e culturais”, tal como previsto no artigo 31º da Convenção sobre os Direitos da Criança. Aliás, o tempo exigido para que o aluno realize esta tarefa é um dos pontos que mais divide pais, professores e alunos.
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texto Nuno Estêvão
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avaliados, os 15 anos coincidem com a idade de um aluno que esteja prestes a terminar a escolaridade obrigatória (9º ano) - desde que tenha feito um percurso escolar normal, sem atrasos. Em Portugal, todos os jovens são obri- gados a frequentar a escola até aos 18 anos ou até à conclusão do 12º ano. “O TPC tem sido atacado pelas suas disfun- ções, pelo mau uso que fazem do trabalho de casa e não pela sua natureza, pela sua ‘bon- dade’ - ajudar a mapear as dificuldades e ser- vir como o motor de um trabalho responsável e autónomo. Quando sou capaz de governar o meu tempo, organizar todas as minhas ativida- des e realizar o meu trabalho estou a desenvol- ver competências que serão importantes para a minha vida futura. E isso teve de ser treinado”, refere o investigador Pedro Rosário. AQUI, NÃO HÁ TPC! EmPortugal, os agrupamentos escolares e as escolas são livres de fazer a gestão dos deveres escolares, não havendo nenhuma imposição do Ministério da Educação nesse sentido. E foi isso mesmo que o diretor do Agrupamento de Escolas de Carcavelos, no concelho de Cascais, e a sua equipa fizeram. “Há cerca de sete anos experimentámos não mandar TPC emmetade das turmas, principalmente do 1º ciclo, e nas outras enviávamos TPC normais. Quase todos os meses fazíamos uma espécie de provas de aferição, para saber se havia grandes diferen- ças em termos de aprendizagem de umas tur- muito zangados” - não significou um menos- prezo pelo valor destas tarefas caseiras. Antes pelo contrário. “Isto é como no marketing ! [ri- sos] Por um lado, vamos dizer que não há TPC e que é proibidomandar trabalhos para casa. Por outro, vamos valorizar o trabalho autónomo. Parece uma questão semântica, mas é mais do que isso. No fundo, é retirar a carga negativa a um trabalho que tem de ser feito para consoli- dar aprendizagens”, explica o diretor à 'Share'. UMMUNDO PARA APRENDER OAgrupamento de Escolas de Carcavelos tem cerca de três mil alunos, dos vários ciclos de en- sino. No caso concreto de um trabalho do 1º ci- clo (do 1º ao 4º ano), no âmbito das operações de matemática, o diretor refere que tentam fa- zer com que os alunos se interessem pela maté- ria através de números que estejam presentes no seu dia a dia. E dá como exemplo: “Quanto mas para as outras. Concluímos que não havia e decidimos que ninguém mandaria mais traba- lhos para casa”, explica Adelino Calado. A medida - que deixou “os alunos muito satisfeitos e os pais
“Para motivar o trabalho autónomo em casa, proibimos os TPC obrigatórios” [Adelino Calado] custam todos os elementos que são comprados pelos vossos pais no supermercado?” Desafio feito, espera-se depois que eles façam o soma- tório do valor dos produtos e comparem o total apurado com o que foi pago. “Tentamos encon- trar formas de eles trabalharememcasa as ope- rações que fazemos na escola. Por outro lado, todas as turmas têm um caderno suplementar - que nós chamamos de trabalho suplementar -, e propomos aos alunos que façam em casa algo que tenha a ver com o que estão a estudar.” Relembrando a importância das aprendiza- gens nos primeiros anos da vida escolar, Pedro Rosário defende que “no 1º ciclo os TPC funcio- nam como sementeira de hábitos de trabalho autónomo. A ideia de uma carga absurda, de completar em casa o que não se fez na escola, não faz qualquer sentido. Esse não é o propósi- to dos TPC. Muitas vezes o aluno não sabe qual é o propósito das tarefas que tem de fazer, e isso seria importante, porque lhe daria o gover- no do seu comportamento. Os TPC contribuem para a autorregulação da sua aprendizagem”. O PESO DA IMPOSIÇÃO Os deveres escolares, tal como o próprio nome indica, pressupõem uma obrigatoriedade que, aliada a uma sobrecarga de trabalho e prazos apertados, poderá resultar numa indesejável pressão, que tenderá a bloquear o aluno, sobre- tudo quando émais novo. A consciência de que o incumprimento da tarefa irá redundar numa pe- nalização ao nível da avaliação também não aju- da. Para tornar estas tarefas escolaresmais atra- tivas, as escolas do Agrupamento de Carcavelos promovem“o trabalho emcasa através de suges- tões do género: ‘Seria interessante se fizessem algo sobre o tema x’ - sem que no dia seguinte se pergunte quem é que fez, ou se atribua um ‘não’ ou um ‘menos’ à avaliação dos alunos. Depois, de vez em quando, sem que haja alguma obrigato- riedade, pergunta-se na sala de aula: ‘Quemtrou- xe o caderno de trabalho suplementar?’ Eles têm sempremuita vontade de participar, pois sentem que o que fazem em casa é valorizado pelos pro- fessores”, sustenta Adelino Calado. Porsuavez,paraoinvestigadordaUniversidade do Minho, o caráter obrigatório dos TPC está cheio de zonas cinzentas. “Qualquer tarefa deve ter emconta as idiossincrasias da escola e da po- pulação estudantil. Há crianças que, tal como os adultos, precisamde ‘picar o ponto’ e necessitam de ser ajudadas por umcontrolo externo; depois
4 horas Tempo semanal que as crianças dedicam aos TPC em Portugal
art . º 31 º O direito ao descanso e ao lazer está previsto na Convenção sobre os Direitos da Criança
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“Este ano, ao contrário do que aconteceu no 5º, 6º e 7º anos, não tenho tido tantos TPC para fazer”, diz Carolina. A aluna de 15 anos acres- centa que, sempre que tem deveres escolares, demora emmédia entre 45minutos a uma hora, por dia, a terminá-los. De acordo como Programme for International Student Assessment (PISA) de 2012, os alunos em Portugal dedicavam cerca de quatro horas semanais aos TPC, menos uma do que a média registada em 38 países e zonas económicas da OCDE. O PISA, que existe desde 2000, foi con- cebido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para ava- liar as competências de alunos namesma faixa etária de Carolina, pois, na maioria dos países
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Prós Os TPC revelam as principais lacunas da aprendizagem das matérias dadas na aula
Estimulam o trabalho autónomo e consolidam conhecimentos
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há outros que são autónomos e,muitas vezes, até trabalhammais. Quando se faz uma regra, para uns é bom, para outros é péssimo.” AS LÁGRIMAS DO “NÃO CONSIGO” Questionada sobre se os TPC deveriam ou não existir, Victória Ascenção, 10 anos, aluna do 5º ano, mostra-se dividida: “Por um lado, são bons porque aprendemos melhor o que foi dado na aula e vemos se temos dúvidas. Por ou- tro, preferia usar esse tempo para fazer outras coisas, que não estivessem relacionadas com a escola, como brincar, ver televisão, ler...” A es- tudante recorda que no 4º ano não tinha traba- lhos de casa à segunda-feira para que os alunos “pudessem descansar” e que nos anos anterio- nalizar, enquanto, filas à frente, a professora corrigia os exercícios com os restantes cole- gas. Já Carolina reconhece que os deveres são importantes, pois “ajudam a ter boas notas”. A aluna que, caso conclua este ano com sucesso transitará para o 10º ano, refere que sempre que tem dúvidas na resolução dos exercícios tenta esclarecê-las primeiro no manual e nos seus apontamentos, depois na Internet e, por fim, pede a ajuda da mãe. O PAPEL DOS PAIS Qual deve ser o grau de envolvimento em re- lação aos TPC dos filhos é uma questão a que muitos pais não sabem responder. “Uma crítica que normalmente se ouve em relação aos TPC é que a família fica também com uma carga mui- to pesada porque tem de ajudar. Essa também res chorou “muitas vezes” por- que “erammuitos e não queria fazê-los”. Sempre que não cum- pria essa tarefa, no dia da cor- reção dos TPC ia para o fundo da sala com o objetivo de os fi-
“O pai deve trabalhar com o filho, enquanto educador, a expectativa de que ele deve ser responsável” [Pedro Rosário] é uma disfunção porque o papel dos pais não é realizar pelas crianças e jovens aquilo que eles têm de fazer. Os pais têm de disponibilizar os recursos (tempo, disponibilidade e ambiente) para que isso seja possível. Eles não têm de ser os explicadores dos filhos, mas sim guias. O seu apoio deve ser emocional: ensiná-los a não de- sistir, a lidar com as dificuldades, a procurar al- ternativas para o cumprimento da tarefa”, diz Pedro Rosário. Ciente de que muitas crianças e jovens pas- samgrande parte do dia na escola - “muitos che- gam às 7:30 da manhã e só saem por volta das 19:00” -, Adelino Calado procurou, com a deci- são de acabar comos TPC obrigatórios, devolver aos estudantes tempo de qualidade com a famí- lia. “Essa foi, também, uma das nossas preocu- pações, ou seja, que as tarefas sugestionadas para casa impliquem a interação com os pais, mas que tenham o cuidado de não os obrigar a saber a matéria, nem que eles tenham de ser li- cenciados em determinada disciplina para aju- dar os filhos nos trabalhos da escola.” Defendendo que o valor do trabalho escolar realizado em casa não pode ser colocado em causa, Pedro Rosário deixa o alerta: “É impor- tante que as crianças tenham tempo para se divertir, fazer desporto. Mas, muitas vezes, as mesmas pessoas que se queixam dizendo que os trabalhos de casa são violentadores, porque os filhos não têmtempo para brincar, defendem que eles tenham inúmeras atividades extracur- riculares, o que acaba por ser uma escravatura para jovens e crianças”. |
Exercícios diários permitem que o aluno adquira um maior ritmo de trabalho
Promovem o sentido de responsabilidade dos alunos
©Unsplash/MicheleYamin
... e contras Exercícios repetitivos e complexos, não estimulam a criatividade e a curiosidade das crianças
Mais trabalhos de casa não significammelhor desempenho escolar
Cargas exageradas retiram à criança tempo para si, para outras atividades e para estar com a família O caráter obrigatório dos deveres pode originar sentimentos negativos relativamente à escola e ao estudo
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Q uais foram as suas primeiras impres- sões sobre Portugal? É lindo. Sei que para vocês nesta altura está frio, mas para mim é como o verão perfei- to. A única coisa que conhecia do país eram os pastéis de nata; só ontem comi cinco! [ri- sos] A minha cunhada adora Portugal e deu- -me uma série de dicas de sítios para visitar. Provavelmente não terei tempo para ver todos, mas já passeei à beira do Rio Tejo e foi muito agradável. Começou a carreira como duplo. Quando é que decidiu ser ator? Foi uma transição lenta. Consegui omeuprimei- ro grande trabalho de ator [ n.r. : no filme 'Kung Fu Killer'] porque era duplo. No final desse tra- balho, surgiu outro, e depois outro. Passado al- gum tempo comecei a pensar: ‘Bem, se calhar, este é o caminho certo’. Se pensarmos em lon- gevidade de carreira, a profissão de duplo dura pouco tempo, por causa das lesões e porque o corpo fica velho e cansado. A representação fez muito mais sentido, foi uma coisa que se foi complicando à medida que mergulhei nela e tornou-se numa arte que realmente aprendi a amar. Agora, não me consigo imaginar a fa- zer outra coisa. Tenta fazer as duas coisas nos projetos onde se envolve? Se tiver uma personagem onde o possa fazer, agarro logo a oportunidade, mas não têm sur- gido papéis desses. Às vezes, não nos deixam por questões de seguros, mas é uma vanta- gem quando o ator sabe fazê-lo. Por exemplo, o Jackie Chan consegue fazer uma sequência. Vemos a ação e a reação dele, durante toda a cena, pela expressão da sua cara. Isso é clara- mente uma vantagem que muitos atores não conseguem oferecer. Participou em ‘Sobrenatural’ durante qua- tro anos. Como é que esta série mudou a sua vida? Foi a primeira vez que tive um trabalho mais estável, com a mesma personagem, a mesma
Uma das estrelas da série ‘Sobrenatural’ esteve pela primeira vez em Portugal, a convite do Web Summit, e aproveitou para conhecer o país. Cosplayer nos tempos livres, o ator canadiano é um fenómeno no universo Comic Con. OSRIC CHAU O DUPLO QUE SE TORNOU ATOR
texto Ana Rita Dinis
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