Share Magazine 35
Nº 35 | JAN - FEV 2018 | GRATUITA recordeuropa.com
“JÁ ESTIVEMOS MAIS LONGE DE ALCANÇAR UM MUNDO MENOS PRECONCEITUOSO” Sharam Diniz
AS QUEIXAS ESTÃO MUITO AQUÉM DAS ESTATÍSTICAS. SAIBA PORQUÊ Assédio
LOURENÇO LUCENA O PERFUMISTA PORTUGUÊS QUE CRIA EXPERIÊNCIAS OLFATIVAS SINGULARES
EMBAIXADOR DO BRASIL O QUE TEM A DIZER SOBRE O PRIMEIRO ANO DE MANDATO EM PORTUGAL
sumário
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Perspetiva 6. O mar que Portugal quer
Opinião 4. Como dois ‘irmãos’
22. O papel da base das Lajes na máquina de guerra dos EUA 26. Embaixador do Brasil em
38. Feios, poderosos e maus: os líderes mais implacáveis 40. A alfarroba pode mesmo substituir o chocolate 42. Café com... Lourenço Lucena O único português que figura na exclusiva lista de membros da Sociedade Francesa de Perfumistas 46. Lamborghini Terzo Millennio
podem mudar o mundo David Perpétuo 20. Como prevenir as quedas na terceira idade António Gaspar 24. Uma questão de caligrafia César Carreira 36. Dois Minutos Cristiane e Renato Cardoso
Portugal faz balanço do primeiro ano de mandato
Gente 8. Entrevista: Sharam Diniz
Planeta Record 28. O que há de novo na sua TV
Partilha 14. Proteção de Dados
O primeiro superdesportivo 100% elétrico da marca italiana é um verdadeiro super-herói
Atitude 30. Assédio sexual em Portugal: conheça os números 34. Terceira (oportun)idade 37. João Pedro Pais em palco
O que muda com a nova legislação sobre a privacidade de dados 18. Alexandre Lourenço traça o estado da administração hospitalar em Portugal
48. Roller Derby
Tudo sobre o desporto que está a pôr as mulheres portuguesas sobre patins
Edição #35 janeiro/fevereiro 2018 Diretor Leandro Maquinez Coordenação Carla Pinto Jornalista Responsável Ana Rita Dinis Redação (nesta edição) Mário Filipe Carneiro, Nuno Estêvão, Sara Veloso e Vânia Mateus Copy Desk Nuno Estêvão Design e paginação (nesta edição) Ângela Correia e Fernando Barata Foto de capa JD Barnes Marketing e apoio internacional Luana Miranda Direção Comercial Deolinda Pinheiro (comercial@recordeuropa.com; + 351 210 346 052) Sites e redes sociais recordeuropa.com . facebook/recordeuropa . twitter/@tvrecordeuropa . instagram/@recordtveuropa Tiragem Média 50000 exemplares . Encarte nos principais jornais de Portugal Impressão Lidergraf, Rua do Galhano, 15, 4480 - 089 Vila do Conde, Portugal Depósito legal 327515/11 . Inscrição na ERC – 126071 Proprietária/editora Rede Record de Televisão Europa, S.A NIF 506 736 903 Morada sede/redação: Rua Mártires de Timor, nº 34, Quinta Figo Maduro, 2685 - 331 Prior Velho, Portugal . Conselho de Administração Marcelo Cardoso, José Branco, Leandro Ferreira, detida em 98,94% por AION FUTURE HOLDING, SGPS, S.A. Contactos sharemagazine@recordeuropa.com . +351 210 346 000 Estatuto editorial Disponível em: https://goo.gl/yK8k6P A Share Magazine e a sua proprietária não se responsabilizam pelos serviços e produtos anunciados, nem pelo teor das ideias onde esses sejam fundamentados. Também não se responsabilizam pelos conceitos e opiniões emitidos por entrevistados ou cronistas, os quais não refletem, necessariamente, a opinião do editor.
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opinião
David Perpétuo Diretor-Executivo da Record TV Europa
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Como dois ‘irmãos’ podemmudar o mundo Na edição que agora lhe chega às mãos incluímos uma entrevista muito interessante ao Embaixador do Brasil em Portugal, Luiz Alberto Figueiredo Machado. Entre as várias declarações sobre a sua estadia em Portugal, o diplomata faz questão de sublinhar o fortalecimento dos laços entre o seu e o nosso país. Numa altura em que Portugal assume uma posição de enorme destaque mundial - diga-se, mais do que merecida -, consagrada na recente eleição como ‘Melhor Destino do Mundo’, pelos World Travel Awards, as suas grandes alianças mantêm-se mais robustas do que nunca. A meu ver, este momento de “redescoberta mútua” entre Portugal e as terras de Vera Cruz, confirmado pelo aumento das vagas migratórias e pelo crescente investimento entre países, foi também grande contributo para a fulgurante notoriedade de que Portugal goza hoje pelo mundo inteiro - o mesmo mundo que há alguns séculos ajudou a desbravar e no qual chegou a ser potência dominante. Forjada nessa altura, de conquistas e descobertas, a relação entre Portugal e Brasil nem sempre foi perfeita, contudo nunca se questionou a vontade de ambos os países em respeitá-la. Unidos há quinhentos anos pela História, Língua e laços familiares estes ‘irmãos’ cedo perceberam que crescem melhor juntos do que separados e que o mundo os ‘vê’ maiores sempre que estão lado a lado. Exemplo disso é o importante papel que a sua aliança pode desempenhar na superação dos desafios do acordo de cooperação que tarda entre a Europa e a América Latina, onde ambos são players de relevo: um, constituindo a porta de entrada para um mercado de cerca de 550 milhões de pessoas, com elevado poder aquisitivo, e o outro, afirmando- -se como a maior potência da América do Sul. Há mais de vinte anos em negociação, o acordo UE-Mercosul ganhou novo fôlego na sequência do protecionismo implementado pela presidência de Donald Trump e espera-se que saia do papel este ano. Esta parceria poderá significar um acréscimo de 290 milhões de euros para a economia portuguesa (cerca de 0,2% do PIB). E a este potencial aumento da riqueza nacional não é alheia a ‘ajuda’ do irmão mais novo, a quem o mais velho dará certamente a mão para este atravessar a ponte para o resto da Europa.
Qatar, Luxemburgo e Singapura são os três países com maior poder de compra do planeta, segundo dados recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI). FMI ESTES SÃO OS MAIS RICOS DOMUNDO
texto Ana Rita Dinis
D os quase duzentos países em todo mundo, muitos geram milhares de milhões e até biliões de euros por ano. Receitas que depen- dem, em grande medida, das riquezas naturais de cada nação e da saúde das suas exportações. O índice do FMI baseia-se no PIB per capita (Produto Interno Bruto por pessoa) de cada país - resumidamente, na riqueza de umpaís dividida pelo número dos seus habitantes - e é classifica- do em função da Paridade de Poder de Compra. Ainda que a queda do valor do petróleo tenha provocado a desaceleração do crescimento do PIB na maioria das economias tradicionalmen- te ricas, no topo do ranking mantêm-se os paí- ses que têmo 'ouro negro' como principalmotor das exportações, como são os casos do Brunei e do Qatar. De resto, as nações com sistemas ban- cários e de investimento sólidos subiram bas- tante na tabela, de que é exemplo a Irlanda. NO PÓDIO A nação mais rica do mundo em 2017 é o Qatar. O pequeno país do Médio Oriente, que ocupa regularmente os lugares cimeiros na ta- bela do FMI, tem, aproximadamente, 2,27 mi- lhões de habitantes, e o seuPIB per capita resulta em cerca de 105 400 euros por pessoa. Com perto de 600 mil habitantes, o Grão- Ducado do Luxemburgo (92 140 euros PIB per
capita ) é o segundo país mais rico do mundo. O país possui uma força trabalhadora possante e, em2016, o crescimento da sua economia ultra- passou mesmo a média de crescimento euro- peia. Ainda assim, o FMI alerta que o 'Brexit' e as novas políticas comerciais dos EUA podem vir a gerar instabilidade neste mercado. Em terceiro lugar, com cerca de 76 395 euros de PIB per capita , Singapura mantém-se como um dos mais ricos do mundo. Com uma população de 5,6 milhões de pessoas, a cidade-Estado re- gista um contínuo crescimento do seu PIB real, em larga medida devido à recuperação do co- mércio mundial de eletrónica. Quantoaobem-estar económicodePortugal, o PIB por pessoa posiciona-nos em 57º lugar. Com cerca de 25 540 euros, o país está cerca de 25% abaixo da média europeia (34 485 euros). |
Os mais ricos
1º Qatar 2º Luxemburgo 3º Singapura
7º Kuwait 8º Emirados Árabes Unidos 9º Suíça 10º Hong Kong
4º Brunei 5º Irlanda 6º Noruega
Fonte: ‘WorldEconomicOutlook’,outubro2017, FundoMonetário Internacional
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perspetiva TERRITÓRIO
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Condições para aumentar a plataforma continental
O pedido de extensão da plataforma continental tem de ser fundamentado através de evidências científicas capazes de demonstrar que a área pretendida de fundo oceânico partilha as mesmas características
geológicas e morfológicas da superfície terrestre. Esta é a condição que determina até onde se considera que um território submarino, que esteja para além da zona económica exclusiva, pertence a um país.
ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES
PORTUGAL (continental)
ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA
Portugal é Mar O que temos e o que queremos
baseada em evidências científicas resultantes da análise da riqueza oceânica, cuja primeira fase foi apresentada em 2009. A mesma está agora a ser analisada por uma subcomissão da Comissãode Limites da PlataformaContinental (CLPC), da ONU, depois de Portugal ter, em agosto último, apresentado mais dados técni- co-científicos, resultado de novas campanhas oceanográficas efetuadas com o objetivo de adicionar informação à proposta original, tor- nando-a mais sólida. A CLPC deverá pronunciar-se sobre a pro- posta portuguesa até 2020, sendo que as re- comendações que resultarem da avaliação dos argumentos nacionais terão de ser, posterior- mente, aceites por Portugal. QUAL É O INTERESSE? Apontado como desígnio nacional, o mar pode ser virtualmente uma fonte inesgotá- vel de riqueza. Embora a exploração do fun- do oceânico seja um desafio difícil de superar, veículos de operação remota (ROV) permi- tem alcançar profundidades surpreendentes, de milhares de quilómetros, e recolher amos- tras que são analisadas à superfície. É que, apesar de haver relativamente pouco conhe- cimento em relação ao solo e subsolo oceâni- cos, estes podem ser de inestimável riqueza, proporcionando a descoberta de novas fontes de recursos energéticos (como petróleo e gás natural), para além de minerais e materiais biológicos, que poderão contribuir para novos produtos de biotecnologia, como por exemplo medicamentos. Para ilustrar a dimensão da área que pre- tende ver reconhecida como seu território, o Governo português apresentou em 2014 um mapa intitulado 'Portugal é Mar' (imagem aci- ma), com uma legenda que indica que a nossa imensidão oceânica corresponde a 97% do to- tal do território do país. |
ÁGUAS INTERNACIONAIS Área de mar que faz parte da esfera do domínio público internacional e é regulada pelo direito internacional.
PLATAFORMA CONTINENTAL
ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA (ZEE)
MAR TERRITORIAL Faixa de águas costeiras que faz parte do território soberano de um país e pode ir até 22 km a partir do seu litoral.
Zona plana de fundos marinhos, que começa na linha de costa. A extensão desta área depende da geologia envolvente.
Espaço marítimo sobre o qual um país detém privilégios de utilização dos recursos existentes. Esta zona tem um alcance até 370 km da costa.
A NOSSA MAIOR GRANDEZA ESTÁ DEBAIXO DE ÁGUA
Em fase de apreciação na ONU, a proposta de extensão da plataforma continental portuguesa fará com que o território marítimo nacional represente 97% do total de Portugal.
texto Nuno Estêvão
A través de um longo processo, Portugal pre- tende ver reconhecida junto das Nações Unidas a jurisdição sobre um vasto territó- rio submarino, que vai para além das 200 mi- lhas náuticas (370 km) a contar da costa por- tuguesa - e que significam o limite da nossa Zona Económica Exclusiva. O facto de os ar- quipélagos dos Açores e da Madeira integra- rem as fronteiras portuguesas permite que o espaço marítimo sob a alçada nacional possa
aumentar para próximo dos quatro milhões de km 2 , ou seja, cerca de 41 vezes mais do que a área emersa do território português, perto de 92 mil km 2 . PROCESSO EM ANDAMENTO Para sustentar a pretensão nacional foi criada em 2005 a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, entidade à qual coube a preparação de uma proposta,
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gente ENTREVISTA
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DINIZ SHARAM “A representação continua a ser um sonho” São poucas as manequins que, aos 26 anos, se podem gabar de já ter desfilado nos maiores palcos mundiais da moda e ter sido a imagem de campanhas das principais marcas, como a Chanel. Mas a primeira luso-angolana a desfilar para a Victoria’s Secret não quer ficar por aqui. Sharam Diniz quer apostar numa carreira na representação e até já está a ter formação. Afinal, esta sempre foi a sua grande ambição.
A os 26 anos, já tem quase uma década de moda. Esta era a vida que ambicionava em pequena? Os primeiros convites para a moda surgiram quando tinha apenas 14 anos, mas só aos 17 participei pela primeira vez num concurso de moda a sério. A minha carreira na moda ini- ciou-se nesse momento. A minha paixão por esse mundo começou muito cedo, mas de uma forma involuntária. Nem eu me apercebi, até começar a receber propostas e convites para assinar com uma agência. Na verdade, o meu sonho demenina era ser atriz, no entanto, acre- dito que a moda veio como um intercâmbio. Foi fácil convencer os seus pais de que era isto que queria fazer? No início, foi um grande entrave, pois os meus pais não apoiavam a minha decisão. Receavam que abandonasse os estudos e, consequente- mente, ficasse longe deles, tão nova. Depois mudaram, naturalmente, e tive o seu apoio. Muitas manequins dizem que nesta pro- fissão lidar com a rejeição pode ser muito duro. Para si, foi assim? Com o passar dos anos aprendi que se não agarro um trabalho, não é por uma questão pessoal, mas sim por não ter o perfil que o cliente e/ou a marca procuram. É um risco que todas as manequins, de certa forma, cor- rem... Mas, já diz o velho ditado, ‘quem cor- re por gosto não cansa’. Essa é, também, uma aprendizagem e hoje, já com alguma matu- ridade, reconheço que faz parte de qualquer área profissional. Olhando para trás, quais foram os maiores desafios que superou? O mais difícil foi encontrar um equilíbrio en- tre a ‘Sharam pessoa’ e a ‘Sharammodelo’. São duas pessoas diferentes, mas com caracterís- ticas comuns. E nem sempre foi fácil gerir as minhas emoções, as minhas angústias ou até mesmo atitudes, sem que uma não afetasse a outra. Atualmente, sinto que atingi esse equi- líbrio; ambas estão em perfeita consonância!
texto Ana Rita Dinis
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gente ENTREVISTA
A top model Naomi Campbell disse em en- trevista ao ‘The Guardian’ que por causa da cor da pele teve de trabalhar duas vezesmais para ser bem-sucedida. Alguma vez sentiu o mesmo? Sem dúvida. Sinto isso até hoje. Apesar de a indústria nos fazer crer que está a mudar, ain- da há um longo percurso pela frente. Porém, acredito que estamos no bom caminho e há de chegar o dia em que essa premissa já não fará sentido. Gosto de acreditar nisso. Então, ainda faz sentido dizer que a indús- tria da moda é preconceituosa ou racista? O facto de existirem mais modelos negros(as) em capas de revistas, desfiles e/ou até mesmo emcampanhas não significa que o racismo aca- bou ou simplesmente desapareceu, mas mos- tra que o público está atento e critica de for- ma já não tão silenciosa. Como referi, há um
longo caminho a percorrer, mas já estivemos mais longe de alcançar um mundo mais de- mocrático e menos preconceituoso. Depende de cada um de nós contribuir para fazermos essa mudança. Continua a faltar diversidade étnica nas passarelas? Basta acompanhar os desfiles e, hoje em dia, nemé necessário estar sentado na primeira fila. Basta clicar nos blogs , ver websites , portais, etc., para percebermos que os modelos de raça ne- gra ainda são a minoria nas principais capitais da moda. O tão esperado equilíbrio ainda não existe, mas estamos a caminhar para lá. A indústria da moda trata homens e mulhe- res damesma forma? Ou os cachês ainda fa- vorecem as mulheres? De uma forma geral, os cachês acabam por privilegiar mais as mulheres em relação aos homens, mas a indústria hoje já não é o que era e umdos principais motivos é o Instagram. Conheço pessoas que até há bem pouco tempo não estavam nem na categoria das chamadas superior a uma manequim. Portanto, acredi- to que nos dias de hoje existam mais exce- ções à regra. Várias marcas de topo no mundo da moda têmapostado emcelebridades das redes so- ciais, comoKendall Jenner, para os seus des- files e campanhas. Como é que vê esta ‘inva- são’ das passarelas? É, semdúvida, uma questão delicada e é impor- tante ver os dois lados. De um, o sonho de uma menina que teve a sorte de fazer parte de uma família economicamente privilegiada e com nome e, por outro, a frustração dos que se sen- tem injustiçados, mas é importante lembrar de onde ou de quem vem o poder de decisão. Em que pensa quando está a desfilar? Penso que estou a fazer o meu trabalho e tento desfrutar aomáximo daquele momento. Gosto deme divertir e essa é, também, uma parte boa de fazer o que faço! Em que medida desfilar para a Victoria’s Secret impulsionou o curso da sua carreira? Abriu inúmeras portas, sem sombra de dúvida, figuras públicas, modelos ou até mesmo ‘influenciadores’, mas conseguiram boas par- cerias através do Instagram e atualmente têm uma boa fon- te de rendimento, igual ou até
para poder trabalhar com fotógrafos concei- tuados, dar o rosto por campanhas de marcas internacionais de prestígio, ou atémesmo para estar na capa de algumas das revistas mais li- das no mundo inteiro. Esse acaba por ser o so- nho de qualquer manequim... A elite que é selecionada para estes desfiles é bastante invejada. As manequins são mui- to competitivas entre si? Competitividade não significa inimizade, a competição deve ser pessoal... Eu sou a mi- nha própria adversária. Tenho de me preocu- par em ser eu, em querer estar em melhor forma do que no ano anterior, estar com uma aparência melhor do que no ano anterior, em ser forte e optimista. O facto de estarmos bem atrai coisas boas. Foi a primeira portuguesa a desfilar para a Victoria's Secret e tem representado Portugal no mundo global da moda. Na sua opinião, porque é tão difícil para os mane- quins da Lusofonia vingarem lá fora? Penso que tema ver coma saturação domerca- do. Mesmo assim, acredito que quem trabalha com muita perseverança e vai atrás dos seus sonhos consegue lá chegar. É com muito tra- balho e dedicação que conseguimos colher os frutos desse empenho. É fã da moda que se faz em Portugal? Aprecio amoda portuguesa, desde os novos es- tilistas que não têm medo de arriscar até aos mais clássicos. Como caracteriza o seu estilo? O que visto diariamente varia consoante omeu estado de espírito. Há dias em que opto por es- tar mais confortável e natural; há outros em que quero tudo. Mas a minha empatia com a roupa é muito importante. Antes mesmo de ver uma coleção inteira de um designer ou até mesmo de visitar o showroom , tenho de me identificar com alguma das suas criações. Que espaço ainda temAngola no coração de uma manequim que vive em Nova Iorque e trabalha pelo mundo inteiro? Angola é e será sempre aminha casa. Uma gran- de parte de mim está lá.
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“Nem sempre foi fácil gerir as minhas emoções, as minhas angústias ou até mesmo atitudes...”
Um anjo por duas vezes
Sharam Diniz foi a primeira luso-angolana a ser convidada para os desfiles da Victoria’s Secret. A manequim estreou-se em 2012 e voltou a fazer parte do exclusivo grupo de top models no concorrido evento, em 2015. Desfilar para a
prestigiada marca de lingerie foi um grande marco na carreira da manequim, reforçou a sua posição no panorama da moda internacional e abriu portas para que trabalhasse com as marcas mais consagradas da indústria.
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“Competitividade não significa inimizade, a competição deve ser pessoal... Eu sou a minha própria adversária”
gente ENTREVISTA
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“ANGOLA É E SERÁ SEMPRE
A MINHA CASA” Sharam nasceu em Luanda e começou a carreira na moda no seu país. Em 2010, venceu o concurso 'Supermodel of the World', em Portugal
ocupações. Eu tenho uma veia empreendedora e acho que é importante ter sempre algo pa- ralelo. Não só por questões monetárias, mas também de concretização e desafio. A questão da excessiva magreza das mane- quins continua a marcar a agenda da indús- triadamoda. Concordaquedevemexistirpa- drões e regras? Concordo que devemos todos ser saudáveis. Como caracteriza a experiência como atriz na novela ‘A Única Mulher’? Adorei! Foi uma experiência maravilhosa que adoraria repetir! Tenho muita vontade de re- presentar mais. O que a representação acrescenta à sua vida? A representar sinto-me mais livre e confiante para exprimir o que sou, o que sinto, do que gosto, entre outras coisas. O desafio e a adre- nalina de poder ‘viver’ outras pessoas é bas- tante aliciante! Se a convidassem, voltaria a representar? Adoraria, aliás, não é segredo que a represen- tação continua a ser um sonho meu. De mo- mento, estou a preparar-me, fazendo pequenos cursos sempre que posso. Considero a forma- ção muito importante. Habituadas a serem admiradas como íco- nes de perfeição, as manequins são con- sideradas mulheres confiantes. É mesmo assim ou a pressão pode torná-las mais inseguras? Estamosmais expostas à pressão e, consequen- temente, vulneráveis, se nos compararmos com os outros constantemente. Conhecermo- -nos melhor, descobrir o que mais nos favorece e aceitarmos as nossas diferenças ajuda a que nos sintamos bem e afasta essa insegurança. Não é um trabalho fácil, mas é necessário para sobreviver à rotina. E, por ora, em que projetos está envolvida? Neste momento, estou a trabalhar em cam- panhas publicitárias enquanto realizo outros trabalhos comomanequim, entre Nova Iorque e o resto do mundo. |
O que mais a preocupa em relação ao país onde nasceu? Preocupa-me que os interesses políticos conti- nuem a menosprezar o povo.
os próprios manequins antes de enfrentarem o ‘verdadeiro’ mundo da moda. Incluindo a dedicação que devem ter com o seu corpo e mente, pois a competição existe e é diária.
A preparação é um processo contínuo e é importante per- cebê-lo logo de início. A Sharam também é empre- sária e chegou a lançar uma
Sobre o preconceito: “Apesar de a indústria nos fazer crer que está a mudar, ainda há um longo percurso pela frente”
Venceuo‘Supermodelof theWorld'-Portugal, em 2010. Considera que este tipo de concur- sos ainda é uma plataforma de lançamento para quemquer ingressar na moda? Com certeza, e é uma boa preparação para
marca de roupa. Sente que é importante ser independente, profissionalmente, em rela- ção à moda? O facto de termos uma profissão, não invali- da que tenhamos outros interesses e outras
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partilha NEGÓCIOS
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A 28 de maio entra em vigor o novo Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). A partir de agora, os cidadãos terão mais direitos e as empresas mais obrigações. A DECO pôs-nos a par das principais mudanças.
texto Ana Rita Dinis
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A nova normativa Europeia alarga o concei- to de proteção de dados, reforça os direitos dos consumidores e altera o modelo de regula- ção, responsabilizandomuitomais as empresas que tratam ou processam informação pessoal. Esta é amais importante regulaçãode privaci- dade de dados dos últimos 20 anos emPortugal (a lei atual é de 1998) e foi criada para dar res- posta aos desafios impostos pela revolução tec- nológica e às crescentes queixas sobre abuso de utilização de dados, sobretudo na Internet. Só a DECO recebe cerca de 140 reclamações por ano, a maioria associada a práticas de spam e recusa a pedidos de eliminação de dados das listas para envio de mensagens, como a anula- ção da subscrição de newsletters . Segundo Luís Pisco, jurista da DECO, as pes- soas mostram-se cada vez mais interessadas e querem saber como se proteger, sobretudo onli- ne . “Umdos grandes projetos daUnião Europeia para o futuro mais próximo é a dinamização da economia digital e o comércio eletrónico em particular, como forma de criar mais riqueza e novos postos de trabalho. Mas tal só será possí- vel se os cidadãos tiveremplena confiança e sen- tirem segurança no ambiente digital, o que não acontece atualmente. O novo regulamento pre- tendemudar este paradigma, alterando a forma como os serviços públicos e as empresas olham e tratam os dados pessoais dos cidadãos.” AUTORIZAÇÃO EXPRESSA Entre as grandes alterações na vida dos con- sumidores está a forma como dão consentimen- to ao uso e armazenamento dos seus dados. O
os dados que este lhes tenha transmitido ou a transmiti-los diretamente a outra empresa. ALTERAÇÕES PARA AS EMPRESAS A larga maioria dos 99 artigos do novo regu- lamento afeta sobretudo as empresas e os orga- nismos públicos que lidamcomdados pessoais. “Impõe a adoção de certos procedimentos eme- didas de segurança por parte das empresas, o que implica uma reformulação dos sistemas de recolha e tratamento de dados, de forma a ga- rantir, por um lado, que os dados são forneci- dos com o consentimento expresso e informa- do sobre osmotivos que justificamessa recolha e tratamento e, por outro lado, que seja salva- guardada a segurança e integridade dos mes- mos, quer na conceção dos próprios sistemas (by design) , quer nos procedimentos adotados (by default) . As entidades irão ser responsabi- lizadas por qualquer uso ou acesso indevido e
novo regulamento impõe regras muito mais rí- gidas às empresas, quando se trata de obter a autorização para recolha e tratamento da in- formação. Por exemplo, deixa de ser permitida a utilização de caixas pré-marcadas, o silêncio, a inatividade, o consentimento genérico ou a obtenção da autorização através de termos e condições genéricas. Entre outras condições, o pedido de permissão não pode ser feito de for- ma agregada com outros termos, deve ser ób- vio, objetivo, com linguagem simples e o titular deverá estar identificado, assim como as orga- nizações que terão acesso aos dados. DIREITO AO ESQUECIMENTO O RGPD concede ainda dois novos importan- tes direitos aos cidadãos: o direito ao esqueci- mento e o direito de portabilidade dos dados. O direito ao esquecimento permite que qual- quer cidadão possa exigir de uma empresa a
eliminação dos seus dados pes- soais, “semprejuízo da existên- cia de exceções estabelecidas para assegurar a ordem públi- ca, outros direitos e a investiga- ção criminal de crimes, como o
O RGPD ALARGA O CONCEITO DA DIRETIVA DE PROTECÇÃO DE DADOS, INCLUINDO DADOS GENÉTICOS E BIOMÉTRICOS
branqueamento de capitais”, refere Luís Pisco. Já o direito à portabilidade de dados possi- bilitará a qualquer pessoa “exigir os seus da- dos de uma empresa, em formato que permi- ta a mudança para outro operador económico, protegendo melhor os consumidores e incen- tivando a concorrência”, acrescenta o jurista. As empresas ficam, assim, obrigadas a forne- cer ao cidadão, num formato de uso corrente,
outras falhas de segurança”, explica Luís Pisco. Umdos fatores demudança émesmo amaior responsabilização das empresas e a redução da atuação da Comissão Nacional de Proteção de Dados. O regulador passará a concentrar-se em ações de fiscalização ao invés dos pedidos de autorização prévia atuais. Com o novo regula- mento, serão as empresas a avaliar internamen- te o impacto do tratamento de dados pessoais.
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BREVES
fotografias, dados de geolocalização ou contac- tos de familiares e amigos”, afirma Luís Pisco. “Nunca devemos autorizar a instalação de qual- quer programa ou subscrever qualquer serviço que implique a recolha de dados pessoais, sem sermos informados sobre quem recolhe, para que fim é recolhido, como e por quanto tempo irão os dados ser tratados, bem como o nome do responsável por esse tratamento.” MULTAS AGRAVADAS Entre a aprovação do novo diploma (4 de maio de 2016) e a entrada em vigor estipula- ram-se dois anos para a adaptação das empre- sas. Mas a quatro meses da data estipulada, nem todos estão preparados. Muitas empresas alegam que as alterações implicam custos ele- vados em termos financeiros e de investimento de tempo e em recursos humanos. As críticas já se fizeram ouvir e muitas associações alertam para as consequências negativas da medida. É o caso do presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, que consi- dera que o novo regulamento traça um “cená- rio aterrador”, ameaçando as micro e pequenas empresas. Pedro Costa Ferreira afirmou, re- centemente, que “a lei é tão pouco clara, que, pasme-se, as empresas não sabem ainda como a cumprir; as tentativas de cumprimento ati- ram-nos para empresas de consultoria que se multiplicam, com ofertas de implementação de dezenas de milhares de euros; a própria lei so, já que outra das alterações significativas do regulamento é o novo regime de sanções agrava- do que, em casos graves de desrespeito pela lei, pode chegar amultas de 20milhões de euros ou 4%do volume de negócios da empresa. Até ago- ra, a coimamáxima era de cerca de 30mil euros. A partir de 28 de maio, as novas regras se- rão aplicáveis a todas as empresas que proce- damao tratamento de dados pessoais na União Europeia, mesmo que estejam sediadas fora, um ponto que tem sido muito contestado, so- bretudo por empresas norte-americanas, como a Google, Facebook e Microsoft. E serão as novas regras suficientes? “Só o tempo dirá se as medidas consagradas no RGPD são, ou não, suficientes e adequadas para garantir a preservação dos dados pes- soais dos cidadãos. Um fator muito impor- tante será a forma de atuação das autorida- des nacionais responsáveis pela sua aplicação e fiscalização”, finaliza Luís Pisco. | ameaça com multas que, por si só, podemdeterminar o fecho de uma empresa”. Prontas ou não, as empresas terão mesmo de acelerar o pas-
REINO UNIDO Publicidade à banda larga com novas regras
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A partir de maio, as empresas que comercializam pacotes de banda larga no Reino Unido vão deixar de poder publicitá-los
com base nas velocidades registadas por apenas alguns clientes. Até agora,
os fornecedores de serviços de Internet podiam usar como argumento comercial as velocidades registadas por 10% dos seus clientes, que neste caso seriam as mais elevadas. No futuro, os anúncios terão de ser mais precisos e basear-se nas velocidades que, pelo menos, metade dos clientes obtém, efetivamente, nas horas de maior tráfego (das 20H às 22H). As novas regras estabelecidas pela Advertising Standards Authority, autoridade para a publicidade do Reino Unido, seguem-se a uma pesquisa que concluiu que os anúncios à banda larga eram potencialmente enganosos e que muitos consumidores não alcançavam, em casa, o desempenho prometido. Por exemplo, pacotes que anunciavam banda larga com velocidades de até 38Mbps ( megabits por segundo) disponibilizavam, realmente, entre 24 e 30Mbps. “Existemmuitos fatores que afetam a velocidade de banda larga que um cliente consegue obter em sua casa; da tecnologia à geografia, passando por como a própria infraestrutura da casa acede à banda larga. Os novos standards irão possibilitar aos consumidores ummelhor entendimento das velocidades de banda larga oferecidas pelas diferentes empresas, se decidiremmudar de operador”, afirmou a propósito, o diretor do Comité das Práticas Publicitárias do Reino Unido, Shahriar Coupal. GOOGLE PROCESSADA O gigante tecnológico está a ser processado por ter recolhido dados pessoais de 5,5 milhões de utilizadores britânicos, através do Safari, ignorando as políticas de privacidade dos iPhones dos queixosos. A ação coletiva designada por ‘Google You Owe Us’ (traduzido livremente ‘Google Deves-nos’) defende que, entre 2011 e 2012, a Google colocou cookies de rastreio de informações nos iPhones, através do motor de busca, que, por definição, está configurado para bloqueá-los. “Não é nada de novo, já nos defendemos em casos semelhantes. Não acreditamos que tenha qualquer fundamento e vamos contestá-lo”, respondeu a Google à BBC. O processo, sem precedentes no Reino Unido, será levado ao Supremo Tribunal de Justiça na primavera.
ENCARREGADO DE PROTEÇÃO DE DADOS Para garantir que as empresas asseguram a conformidade dos seus procedimentos com as novas regras, o RGPD introduz a figura do Data Protection Officer, ou seja, de um encarrega- do de proteção de dados. Assim, quando existe tratamento de dados pessoais, que devido à na- tureza, âmbito ou finalidade exija um controlo regular e sistemático, ou tratamento de dados sensíveis em grande escala, algumas empresas terão de incluir nos seus quadros um respon- sável que terá como principais funções moni- torizar e controlar o cumprimento das regras do novo regulamento. NOTIFICAÇÃO DE INCIDENTES Com a nova lei, as empresas que sofram uma violação de dados têm, obrigatoriamente, de no- tificar o regulador e, emalguns casos, os próprios cidadãos afetados - hoje, esta obrigação abrange apenas as empresas do sector das comunicações eletrónicas. Perante violações graves, a notifica- ção deve ser feita no prazo máximo de 72 horas. SISTEMAS PROTEGIDOS DE RAIZ Outra das inovações relevantes é a obrigação de que os novos bens, serviços, sistemas, disposi- tivos e processos sejam construídos sob requisi- tos de privacidade, desde a fase de desenho. Esta é uma medida que visa proteger os cidadãos da partilha inadvertida de conteúdos e dados con- fidenciais, um problema cada vez mais comum gerado pelas aplicações móveis. “A complexi- dade crescente das novas tecnologias e aplica- ções que usamos, emparticular asmóveis, torna quase virtualmente impossível a um consumi- dor conseguir proteger totalmente os seus da- dos pessoais. A verdade é que, na maioria das vezes, nem nos apercebemos de que a mera uti- lização de certos programas implica o forneci- mento de umconjunto alargado de dados, desde O NOVO REGULAMENTO PREVÊ MULTAS QUE PODEM ATINGIR OS 20 MILHÕES DE EUROS
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“ É essencial premiar a boa gestão e penalizar os maus gestores ” Certo de que a despesa continuará a crescer, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares entende que é necessário reformular o SNS. Dar mais autonomia à gestão hospitalar e focar a prestação dos cuidados de saúde no doente devem ser prioridades. ALEXANDRE LOURENÇO
E ste ano, a Saúde vai receber 10,2 mil mi- lhões de euros, mais 360 milhões do que em 2017. Isso quer dizer que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai melhorar? O sector da Saúde, ao contrário de outros, terá sempre uma tendência crescente de aumento de custos, devido, por exemplo, ao envelhecimento da população, à emergência denovas patologias e à inovação tecnológica. Éexpectável que todos os anos possa ocorrer algum aumento orçamental face à maior procura de cuidados de saúde por parte da população. Por outro lado, a atualiza- ção das carreiras profissionais terá um impacto muito grande no orçamento - na área da saúde os custos com recursos humanos podem ultra- passar os 55%dadespesa.Mantendo-seumapro- cura semelhante de cuidados de saúde, deverão manter-se osmesmos padrões de qualidade,mas não podemos dizer que haverá uma melhoria. De que forma é que o aumento da carga fiscal sobre produtos como o açúcar pode ter um impacto positivo no SNS? Esses impostos têm impacto na prevenção e alteração de comportamentos (de consumido- res e fabricantes), mais do que propriamente em termos orçamentais. Esta é uma matéria bem estudada noutros países e este tipo de ta- xas induz algumas mudanças nas próprias in- dústrias. A taxação sobre os produtos com teor de sal excessivo foi, infelizmente, chumbada na Assembleia da República. Temos de ter emcon- sideração que a redução do sal e do açúcar nos alimentos tem forte impacto na saúde da popu- lação e evita a necessidade de cuidados de saú- de, tornando o sistema mais eficiente. Com o objetivo de premiar a boa gestão, o Governo vai reduzir o financiamento dos hospitais que, por exemplo, não cumpram os tempos máximos de espera. Para que isso não aconteça é suficiente gerir melhor ou também é necessário gastar mais? Temde haver sempre uma distinção grande en- tre a avaliação da gestão e a da organização. E, do nosso ponto de vista, as organizações não devem sofrer penalizações quando têm com- portamentos menos ótimos. Temos vindo a fa- lar com o Ministério da Saúde (MS) no sentido de encontrar mecanismos que penalizem e en- contrem soluções de avaliação da gestão, não
texto Nuno Estêvão
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10,2 MM Orçamento da saúde para este ano, que supera em 360 milhões o atribuído em 2017
>600 Número de profissionais representados pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares
>55% Nas unidades de Saúde os recursos humanos
7,8% Percentagem de infeções adquiridas em hospitais durante
consomem, por norma, mais de metade dos orçamentos
o internamento, em 2016 (Direção-Geral da Saúde)
colocando em causa a organização. É essencial premiar a boa gestão e penalizar os maus ges- tores. Contudo, a limitação da gestão dos hos- pitais reduz muito a capacidade de gestão das organizações, por exemplo, por falta de recur- sos humanos - e não estamos a falar de médi- cos ou de enfermeiros... Muitas vezes, devido à falta de assistentes técnicos e operacionais temos de cancelar ou adiar atividade. Aí colo- ca-se em causa a própria instituição e a oferta de cuidados. Defendemos uma maior autono- mia para as organizações e uma responsabili- zação da gestão, mais do que uma penalização do hospital ou da organização como um todo. O SNS surge, por norma, bem classificado nos rankings internacionais. Quais são os seus méritos e insuficiências? Os maiores méritos estão ligados ao seu ca- rácter universal, pois o Estado não discrimi- na ninguém à entrada no SNS. E esse é um dos objetivos da Organização Mundial da Saúde: encontrar soluções para que os Estados con- sigam oferecer cuidados de saúde universais. Contudo, essa universalidade tem algumas li- mitações, sobretudo ao nível de barreiras eco- nómicas que surgem na utilização do sistema, por exemplo, no uso domedicamento de ambu- latório, das farmácias. Continuamos a termuita gente com dificuldades no acesso aos medica- mentos e o fenómeno das listas de espera tem limitado a obtenção de cuidados em tempo útil. Que medidas pode uma administração im- plementarparaprevenirumsurtomortal de legionella, como o do São Francisco Xavier? De uma forma genérica, todos os hospitais têm planos de redução do risco de legionella e um conjunto de medidas implementadas. Fala-se em políticas de redução do risco, pois não existe uma estratégia para a sua elimina- ção. Pela informação disponível, o Conselho de Administração do São Francisco Xavier não ti- nha responsabilidade sobre esta área, pois a gestão das torres de refrigeração era privada. As infeções hospitalares com bactérias re- sistentes são um problema dos hospitais ou uma consequência da prescrição generaliza- da e uso irresponsável de antibióticos? Legionella e as outras infeções hospitalares
são problemas distintos. A questão da mul- tirresistência decorre da utilização abusi- va de antibióticos no sector da veterinária. Dentro dos hospitais, as infeções são um fla- gelo e um risco para os doentes. Deve haver estratégias muito apuradas para reduzir as taxas de infeção hospitalar, que continuam
em muitos casos, exclusiva da farmácia hos- pitalar pode causar barreiras ao doente. Essa terapêutica poderia ser colocada em farmá- cias comunitárias, que estão mais próximas dos cidadãos. Outra questão é a integração de cuidados entre os sectores da saúde e social. Existem doentes com graves dificuldades eco-
a ser muito elevadas. Existe um programa, financia- do pela Fundação Calouste Gulbenkian, que está a de- correr em mais de uma de- zena de hospitais portugue-
“É exigível que os portugueses recebam melhores cuidados de saúde, e a gestão é um ponto relevante nessa matéria”
ses, e através da implementação de algumas medidas tem sido possível reduzir em mais de duas décimas a infeção hospitalar. A inca- pacidade de os hospitais terem flexibilidade na gestão dos recursos humanos tem causado problemas também nesta área, pois a neces- sidade de ter recursos humanos disponíveis para a limpeza é condicionada pela limitação da autonomia de gestão. Os medicamentos estão no topo dos gastos hospitalares. A escolha dos fármacos deve ser feita pelo custo ou pela eficácia? O medicamento é uma tecnologia de ponta cara e a grande preocupação que os hospitais devem ter é em maximizá-la - algo que pas- sa também pelo doente aderir à terapêutica. Muitas vezes, apesar de estarmos a usá-la, não estamos a maximizar a sua utilização. Temos de encontrar soluções que sejam ajustadas aos doentes. Por exemplo, o facto de a distribui- ção de alguns medicamentos continuar a ser,
nómicas que não têm apoio social adequado. Temos de encontrar soluções na integração de cuidados entre o hospital e a comunidade para maximizar a eficácia dos medicamentos. Escreveu que “não é aceitável que a admi- nistração seja desempenhada por políticos, curiosos ou profissionais de saúde sem um conhecimento profundo dos métodos e dos instrumentos de gestão hospitalar”. A pro- fissionalização da gestão é urgente? É essencial ter bons gestores à frente das ins- tituições com financiamento público. Há um conjunto de entidades, a nível internacional, que vem trabalhando com vista à profissio- nalização da gestão em saúde. Existem vá- rios estudos que demonstram que gestores com preparação e experiência têm melhores resultados do que gestores que não têm. No caso do SNS, que tem características próprias e em que estamos a usar os impostos dos por- tugueses, é importante que o financiamento seja utilizado da melhor forma. Considerando que os hospitais são as entidades de maior complexidade dentro da área da gestão é ex- pectável que existam bons gestores para ge- rir estas organizações, caso contrário isso terá consequências graves na forma como os cuidados são prestados. Infelizmente, em Portugal, ainda continuamos a ter um gran- de número de profissionais nos Conselhos de Administração que não cumprem o que con- sideraríamos como requisitos mínimos para o desempenho das funções e o que temos vin- do a defender é que os requisitos mínimos devem ser estabelecidos, ao nível da gestão intermédia e da de topo, e que estes gesto- res sejam sujeitos a uma avaliação contínua,
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LISTAS DE ESPERA PARA CIRURGIA O Governo vai passar a penalizar os hospitais que não cumpram os tempos máximos de espera
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opinião
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“Para ser sustentável, temos de encontrar novas soluções de reorganização do Serviço Nacional de Saúde” várias equipas ministeriais. Com o ministro Adalberto Fernandes tem havido um diálogo muito positivo, que decorre do conhecimento e da experiência que ele tem - foi gestor em vá- rios hospitais -, relação que é extensível à res- tante equipa do Ministério da Saúde. Quais são as características e qualidades imprescindíveis a um bom administrador hospitalar? Essencialmente, um elevado nível de bom- -senso, ponderação, capacidade de lideran- ça e de gestão relacional, para além, claro, do conjunto de hard skills próprias da gestão hos- pitalar. Devem ser pessoas com um elevado humanismo para compreenderem os doentes, que são essencialmente pessoas fragilizadas. Os administradores devem também garan- tir junto dos profissionais de saúde que estes têm as condições para prestarem os melho- res cuidados. A sustentabilidade do SNS é uma preocupa- ção antiga. Para garantir a sua viabilidade, quais são os grandes desafios que se colo- cam ao nível da gestão hospitalar? A grande discussão é sobre como podemos reformular o sistema de saúde. Vemos que o modelo atual não é adequado, nem será pos- sível sustentá-lo ao longo do tempo. Temos de encontrar novas soluções de reorganiza- ção do SNS, que irão reconfigurar um siste- ma que ainda é muito baseado em hospitais de elevada dimensão e complexidade. É de- sejável que no futuro consigamos 'descom- plexar' o sistema, dando mais autonomia e encontrar soluções locais de resposta às po- pulações. Nem todas as respostas serão iguais e o critério regional poderá influenciar, mas temos de ser capazes de inovar e de encon- trar novas formas de prestação de cuidados que favoreçam a experiência do doente. Este é o nosso maior desafio. Foi mandatado para presidir aos destinos da APAH até 2019. Até lá, que objetivos es- pera ver cumpridos? Espero que a APAH contribua para uma pacifi- cação e melhoria da gestão no sector, garanta melhor gestão do SNS e sensibilize os players para a necessidade de implementarmos ins- trumentos que melhorem a respetiva gestão. |
Quem deve mandar nas unidades de saúde?
António Gaspar Fisioterapeuta da Seleção Portuguesa de Futebol
O presidente da APAH defende que “dependendo da posição de exercício - gestão intermédia ou de topo - existem requisitos diferentes. Para a intermédia, há um conjunto de requisitos de formação e de validação de competências. Para a de topo deve haver uma componente muito forte de experiência em gestão intermédia, para além da formação”. para que sejam apreciadas as suas competên- cias ao longo da sua carreira. E é aí que en- tra a nossa discussão sobre o que é a carreira na administração hospitalar. É exigível que, tratando-se da sua saúde e dos seus impos- tos, os portugueses tenham melhores cuida- dos de saúde, e a gestão tem um papel muito relevante nessa matéria. AAssociaçãoPortuguesadeAdministradores Hospitalares (APAH) dispõe de algumnúme- ro sobre a quantidade de administradores hospitalares emexercício que não cumprem esses critérios? Mesmo dentro das próprias organizações de saúde é um número difícil de apurar, pois num hospital existe um conjunto de lugares de che- representa mais de 600 gestores hospitalares profissionais, que preencheram os requisitos para entrar na associação. O facto de o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, ser médico de forma- ção e ter experiência no exercício da ges- tão hospitalar permite-lhe ter uma maior sensibilidade em relação às reivindicações da APAH? Temos tido uma grande abertura por par- te do ministro em relação a estas matérias e temos vindo a colaborar ao máximo com esta equipa ministerial. Aliás, a APAH é cons- tituída também por profissionais dirigen- tes e o nosso papel nas organizações é o de encontrar consensos e de trabalhar com as fia, desde o diretor de serviço ao enfermeiro-chefe, passando por diretores dos serviços de apoio e administradores de área e de gestão intermédia até aos ad- ministradores de topo. A APAH
©DR
O aumento da esperança média de vida e o consequente crescimento da população idosa reforça a importância dos problemas relacionados com o envelhecimento - um processo progressivo que propicia a perda de competências a vários níveis. Por exemplo, as alterações de equilíbrio associadas à menor capacidade reativa e robustez muscular podem resultar em quedas frequentes. Dependendo da gravidade, daqui podem decorrer traumatismos de menor ou maior magnitude, mas por si só o 'evento' da queda pode inibir o movimento, já que o medo pode contribuir para uma menor atividade. Na terceira idade as quedas resultammuitas vezes em fraturas. Por isso, é importante evitar a progressão da perda de competências físicas através de um programa preventivo. A este nível, a fisioterapia, em diferentes vertentes, tem um papel primordial. Destaca-se o exercício de baixo impacto que pode ser realizado em solo ou meio aquático. Independentemente do método escolhido, este trabalho tem como objetivos melhorar a força dos membros inferiores e otimizar o equilíbrio. Tem de ser desenvolvido um plano de exercícios individual que englobe mudanças de direção, transferências do peso do corpo em situações do dia a dia, como levantar, sentar, subir e descer escadas/passeios. Por outro lado, as pessoas tendem a fazer um apoio do pé incorreto, o que provoca um défice de ativação do mesmo. Sendo os pés a base do equilíbrio, interessa que sejam estudados e otimizados através da utilização de palmilhas que permitam uma favorável manutenção da posição de pé, parado ou a realizar marcha. Este tipo de trabalho deve ser desenvolvido de preferência quando ainda não existem notórias alterações decorrentes do envelhecimento, mas tem de ser objetivo e contínuo quando estas já existem e quando já se recorre a auxiliares de locomoção, como canadianas ou andarilho. Outra condição para a qual se deve estar desperto relaciona-se diretamente com a envolvente física doméstica que coloca em risco a segurança da pessoa. A este nível é essencial a educação do próprio e dos seus familiares, por forma a tornarem o ambiente seguro. Este cuidado passa, por exemplo, por fixar ou eliminar todo o tipo de tapeçaria das diferentes divisões da casa e/ou pela escolha de calçado estável e confortável. Como prevenir as quedas na terceira idade
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