Share Magazine 39
Nº 39 | OUT - NOV 2018 | GRATUITA recordeuropa.com
CRIANÇAS PRECISAM-SE! PORTUGAL CONTINUA A DAR O MAU EXEMPLO
MENTIRA RUI MERGULHÃO MENDES EXPLICA COMO DETETÁ-LA E PORQUE O CÉREBRO A REJEITA
INSETOS NO PRATO SAIBA MAIS SOBRE O QUE NOS VAI ALIMENTAR AMANHÃ
“PARA AQUELE TEMPO, ELA ERA UMA FEMINISTA QUE NÃO TINHA MEDO DE SE IMPOR” Day Mesquita A ATRIZ É MARIAMADALENA EM 'JESUS', A NOVA SUPERPRODUÇÃO DA RECORD TV
Treino HIIT INTENSO, CURTO E EM QUALQUER LUGAR
sumário
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Perspetiva 6. Este país não é para mulheres
Opinião 4. Mais de 23 700 dias de
40. Insetos: em breve, num prato perto de si
24. Violência doméstica continua a matar
A sobrepopulação está a obrigar-nos a encontrar alternativas alimentares e os insetos podem ser a solução. Mas o que sabemos sobre eles?
sucesso não é para todos, ou melhor... David Perpétuo
Planeta Record 26. Entrevista: Reinaldo Gottino 28. O que há de novo na sua TV 30. Entrevista: Vânia Mateus
Gente 8. Entrevista: Day Mesquita
23. O coice
44. Hunta Overcomer
Conheça o todo-o-terreno em que Diego Maradona foi apresentado na Bielorrússia, e que é capaz de circular sobre gelo e água
César Ribeiro 33. Dois Minutos
Partilha 14. (mais) Crianças precisam-se!
Fomos conhecer melhor a vida e a carreira da jornalista e pivô do jornal da Record TV, 'Fala Portugal'
Cristiane e Renato Cardoso 42. Atividade física, porquê? ( Parte I ) António Gaspar
48. Teresa Salgueiro em Palco 50. Ideias que valem milhões
Portugal tem uma das piores taxas de natalidade da UE. O problema é antigo, as soluções tardam, mas há concelhos a dar o exemplo
Atitude 34. Infografia: saiba mais sobre os benefícios dos treinos HIIT 36. Café com Rui Mergulhão
18. ' Brexit': em que ponto estamos 20. ONU: Uma agenda para mudar o mundo
Mendes, especialista em análise comportamental
Edição #39 outubro/novembro 2018 Diretor Leandro Maquinez Coordenação Carla Pinto JornalistaResponsável Ana Rita Dinis Redação (nesta edição) Nuno Estêvão e Vítor Alvito CopyDesk Nuno Estêvão Design epaginação (nesta edição) Fernando Barata Foto de capa Pupin&Deleu Marketing e apoio internacional Luana Miranda Direção Comercial Deolinda Pinheiro (comercial@recordeuropa.com; + 351 210 346 052) Sites e redes sociais recordeuropa.com . facebook/recordeuropa . twitter/@tvrecordeuropa . instagram/@recordtveuropa Tiragem Média 50000 exemplares . Encarte nos principais jornais de Portugal Impressão Lidergraf, Rua do Galhano, 15, 4480 - 089 Vila do Conde, Portugal Depósito legal 327515/11 . Inscrição na ERC – 126071 Proprietária/editora Rede Record de Televisão Europa, S.A NIF 506 736 903 Morada sede/redação: Rua Mártires de Timor, nº 34, Quinta Figo Maduro, 2685 - 331 Prior Velho, Portugal . Conselho de Administração Marcelo Cardoso, José Branco, Leandro Ferreira, detida maioritariamente por AION FUTURE HOLDING, SGPS, S.A. Contactos sharemagazine@recordeuropa.com . +351 210 346 000 Estatuto editorial Disponível em: https://goo.gl/yK8k6P A Share Magazine e a sua proprietária não se responsabilizam pelos serviços e produtos anunciados, nem pelo teor das ideias onde esses sejam fundamentados. Também não se responsabilizam pelos conceitos e opiniões emitidos por entrevistados ou cronistas, os quais não refletem, necessariamente, a opinião do editor.
perspetiva AVULSO
opinião
+ 4 , 7 Milhões € A União Europeia quer atribuir a Portugal 4,7 milhões de euros do Fundo Europeu de Ajustamento
1 000 Milhões € Segundo o Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia, 13 sectores económicos, em Portugal, perdem 8,2% de vendas diretas, por ano, devido à contrafação, o que equivale a mil milhões de euros.
David Perpétuo Diretor-Executivo da Record TV Europa
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Mais de 23 700 dias de sucesso não é para todos, ou melhor... São Paulo, 27 de setembro de 1953, 20:00. Começa a emissão da Record TV no Brasil e, em simultâneo (sem que se adivinhasse), uma das mais fantásticas aventuras televisivas de sempre. Hoje a dar os bons dias a mais de 150 países, a emissora mais antiga em atividade no Brasil celebra 65 anos de uma trajetória que se mistura com a História do mundo. São mais de seis décadas a atravessar conflitos armados e promessas de paz, a registar alterações de liderança e transições políticas, a testemunhar agitações sociais revolucionárias e mudanças tecnológicas, a seguir as personalidades e estrelas que ficarão gravadas no tempo... São mais de seis décadas a reportar factos, números e acontecimentos emmuitos milhares de horas de jornalismo diário, desporto, séries, telenovelas, reality shows e programas de auditório. São mais de 23 700 dias de experiência a enfrentar desafios e a superá-los, a acompanhar tendências, a perceber as mudanças na vontade do telespectador e a antecipar as suas necessidades. A dar mais do que televisão: a oferecer emoções inesquecíveis; a contribuir para melhorar os momentos em família; a ajudar a criar lembranças felizes. Um pouco por todo o planeta, dentro ou fora da sua terra natal, os que falam e apreciam a língua portuguesa puderam ver o seu país e o mundo mudar através do ecrã da Record TV. Acompanharam a evolução do canal e contribuíram para o contínuo crescimento da sua audiência, fizeram parte do sucesso que hoje, orgulhosamente, comemoramos. E é cada um desses telespectadores que agora está de parabéns. É a eles que devemos esta efeméride, é a eles que a agradecemos. 65 anos de sucesso na TV não é para todos, ou melhor, até é, porque este é um canal para todos. Tantos anos depois, a Record TV continua a dar “novos mundos ao mundo”, como diria Camões. Mantém-se entre os líderes de audiência em vários países, segue apostada na produção de conteúdos diversificados e de qualidade, e prossegue entusiasmada, como se ainda agora tivesse começado.
à Globalização para ajudar os trabalhadores despedidos do sector do vestuário.
“ É uma humilhação . Parecemos um fracote de 45 kg a ser ridiculamente dobrado por um gorila de 200 kg ”
Comentário do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson , a propósito das negociações entre o Reino Unido e a UE, sobre o 'Brexit'.
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Metade dos alunos com idades entre os 13 e os 15 anos, em todo o mundo, passa por situações de violência na escola ou nas imediações do estabelecimento de ensino, revela um estudo da UNICEF.
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Portugal está no 10º lugar no ranking dos países mais democráticos do mundo, segundo o último relatório da V-Dem.
1º Noruega 2º Suécia 3º Estónia 4º Suíça 5º Dinamarca
6º Costa Rica 7º Finlândia 8º Austrália 9º Nova Zelândia 10º Portugal
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Fonte: ‘RelatóriodaDemocraciade2018’,projectoVariedadesdaDemocracia (V-Dem)
4 SHARE MAGAZINE
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perspetiva MUNDO
ÍNDIA Este país não é para mulheres
Os números dão conta de uma realidade atroz. Todos os anos são violadas e assassinadas milhares de mulheres na Índia. Na grande maioria dos casos, reina o silêncio das autoridades e os agressores escapam impunes. Trata-se do país mais perigoso do mundo para o sexo feminino.
Estes são resultados “vergonhosos”, con- siderou o líder da oposição indiana, Rahul Gandhi. “A história da nossa sociedade está entrincheirada entre o patriarcado e a miso- ginia”, acusou. “Enquanto o nosso primeiro- -ministro anda, nas pontas dos pés, a fazer vídeos de ioga no jardim, a Índia lidera, se- guida do Afeganistão, Síria e Arábia Saudita, em violência e violações contra as mulheres. Que vergonha para o nosso País”, escreveu o político no Twitter, visando diretamente o pri- meiro-ministro, Narendra Modi. No relatório, a Thomson Reuters Foundation lembra ainda que, há três anos, os líderes mun- diais se comprometeram, em 15 anos, a acabar com todas as formas de violência e discrimina- ção contra mulheres e raparigas. Na iniaciativa Agenda 2030 ficou definido que todas asmulhe- res deveriam ter a possibilidade de "viverem li- vremente e de forma segura para participarem de forma igual na política, economia e vida pú- blica". A fundação refere que, apesar do com- promisso dos líderes mundiais, há indícios de que uma em cada três mulheres seja vítima de violência física ou sexual durante a sua vida. |
texto Ana Rita Dinis
U ma criança de 12 anos foi violada múl- tiplas vezes, durante sete meses, por 22 homens, em Chennai, no sul da Índia. Esta é a história mais recente de uma longa lista de casos de violência e crueldade contra as mu- lheres naquele país. As violações na Índia começarama reclamar a atençãomundial depois de uma estudante ter sido violada e assassinada por umgrupo de ho- mens numautocarro, incluindo omotorista, na capital, Nova Deli, em 2012. A elevada media- tização do caso e os protestos populares leva- ram o governo indiano a aprovar um conjunto de leis que aumentaram a punição pela viola- ção de um adulto para 20 anos de prisão. A de- núncia mais frequente dos casos de violação e assassínio de crianças e adolescentes, fez tam- bém com que, mais recentemente, o executivo instituísse a pena de morte para condenados por violar menores de 12 anos. Mas, indiferen- tes à lei, as ocorrências continuama suceder-se e em grande volume. Segundo os dados do Gabinete Nacional de Registos Criminais, são relatados diariamente na Índia perto de uma centena de crimes de agressão sexual, e mais de 20mil mulheres são violadas por ano. Às violações somam-se outras agressões, como a violência doméstica e a escravidão, cuja denúncia tem levado muitas das vítimas e os
seus familiares a serem punidos por apedreja- mento. Estes crimes chegam a ser executados em praça pública, sob o nariz das autoridades passivas que se remetem ao silêncio. RESULTADOS "VERGONHOSOS" Com 1,3 mil milhões de habitantes, a Índia está a caminho de se tornar na nação mais po- pulosa do mundo, superando a China. O país tem vindo a fazer bastantes progressos e a ga- nhar influência económica no panorama glo- bal. No entanto, esta é uma tendência positiva que não se reflete na forma como ainda consi- dera o sexo feminino. Num estudo recente, a Thomson Reuters Foundation (o braço filantrópico da agência no- ticiosa Reuters) considerou a Índia o país mais perigoso do mundo para as mulheres. A análi- se envolveu 548 especialistas de todo o mundo que avaliaram, entre outros, os riscos de assé- dio e violência sexual, tráfico humano, trabalhos forçados e escravatura sexual. A Índia pontuou negativamente em três parâmetros: o risco de violência sexual e assédio contramulheres; o pe- rigo que as mulheres enfrentam pelas práticas culturais e tribais da sociedade; e ainda o país onde as mulheres corremmaior risco de serem alvo de tráfico humano, onde são alvo de tra- balho forçado, a manterem relações sexuais de forma não consensual e a servidão doméstica.
Ranking MULHERES EM RISCO
1º Índia 2º Afeganistão 3º Síria 4º Somália 5º Arábia Saudita 6º Paquistão
7º República Democrática
do Congo 8º Iémen 9º Nigéria 10º EUA
Fonte: ThomsonReutersFoundation
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gente ENTREVISTA
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MESQUITA DAY “Hoje em dia, o ator tem de se adequar ao ‘menos é mais’”
C omo é que uma mulher de Telêmaco Borba, no Paraná, acaba por fazer car- reira em São Paulo? A verdade é que só nasci em Telêmaco Borba, mas como a minha família é paranaense, vou lá todos os anos. Quando era muito peque- na, tinha três ou quatro anos, os meus pais mudaram-se para São Paulo, então fui mes- mo criada na grande cidade. Um dia por volta dos meus sete anos, a minha mãe levou-me a uma aula de pintura e à frente havia uma es- cola de dança. Ela perguntou-me se eu que- ria fazer ballet . Eu disse que sim, troquei as aulas de pintura por aulas de dança, e nunca mais parei. Na minha primeira novela e no meu primeiro anúncio de televisão era preciso dançar, então a dança acabou mesmo por ser uma porta de entrada para a representação. A sua mãe passou-lhe o gosto pela cultura e artes? Ela sempre gostou muito de exposições, de boa música, de ir ao ballet e acho que o gosto dela me influenciou sim. Entretanto, a carreira de bailarina acabou por ficar mesmo para trás... Teve de ser. Aos 13 anos, comecei a dar aulas de dança. Foi a minha primeira profissão, até aos 18, quando comecei a fazer cursos de tea- tro. Nessa altura, comecei a fazer muitos tes- tes de publicidade e a trabalhar tambémnessa área. Dava aulas de ballet em dez escolas, uma vez por semana, mas comecei a não ter tem- po para isso e a precisar de contratar alguém para me substituir. Chegou a uma altura em que os anúncios começaram a ocupar mesmo muito o meu tempo e decidi aventurar-me em exclusivo na representação. De que forma a dança ajuda a criar as suas personagens? É um ótimo complemento. Os anos todos que tenho de dança deram-me uma noção do corpo
A atravessar uma fase muito boa na sua carreira, a atriz vai interpretar Maria Madalena, um dos papéis mais importantes na novela 'Jesus', a próxima superprodução da Record TV. Em entrevista à Share, entre muitas outras coisas, Day Mesquita explica-nos como o seu passado de bailarina a vai ajudar a viver uma das figuras mais controversas de todos os tempos.
texto Ana Rita Dinis
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gente ENTREVISTA
que é muito útil quando represento. Por exem- plo, em ‘Jesus’, a novela que estou a gravar ago- ra, a minha personagem, Maria Madalena, é possuída por demónios e o corpo é um fator muito importante para se perceber as suas transformações. Estou a recorrer muito à mi- nha consciência corporal para criar esta per- sonagem. Ela temmudanças de postura muito subtis e outras muito drásticas. Ter sido baila- rina ajuda-me a incorporá-las. Como surgiu o convite para 'Jesus', esta nova novela da Record TV? Eu já tinha feito três trabalhos na emissora - ‘Milagres de Jesus’, ‘Os Dez Mandamentos’ e ‘A Terra Prometida’ -, então como já conheciam bem o meu trabalho, ligaram-me a propor esta personagem maravilhosa. Fiquei emo- cionadíssima quando recebi o telefonema. JáconheciabemahistóriadeMariaMadalena? Conhecia muito pouco. Ela é uma figura mui- to controversa. Fala-se muito, mas há poucas certezas sobre ela. Então, só a conheci a sé- rio depois de receber o convite para o papel. Tenho lido bastante e vi muitos filmes sobre o tema para me preparar. Esta personagembíblica já foi interpretada centenas de vezes. Como será a sua versão? É uma mulher muito corajosa. Uma judia “[Maria Madalena] É um tipo de mulher que admiro muito. É uma mulher que eu gostaria de ser”
que casou com um romano e após a sua mor- te regressa a Jerusalém, porque um tutor, Petronius (interpretado por Fernando Pavão), vai passar a tomar conta dos seus bens. Ela envolve-se com ele, mas esta não vai ser uma relação pacífica. Trata-se de uma figura muito forte, que vai passar por cima de muita coisa e enfrentar, literalmente, vários demónios. Vai encontrar Jesus, que a ajuda, e acaba por se tornar na primeira mulher a segui-lo e a pri- meira a vê-lo depois da ressurreição. Era uma mulher muito à frente do seu tempo... Para aquele tempo, ela era uma feminista, que não tinha medo de se impor. Jesus era exatamente como ele e por isso se identificou tanto. Sendo ela mulher naquele tempo, aca- bava por ser uma transgressora. É preciso ter muita força para lidar com o que ela lida, e seguir em frente com o que quer e acredita, sem que isso a abale. Tenho ficado encanta- da com as cenas dela. Ela é um tipo de mu- lher que admiro muito. É uma mulher que eu gostaria de ser. Essa é uma personagem-chave em cenas bastante intensas. Até agora, quais mais gostou de gravar? Tenho muitas cenas ótimas. As cenas da cru- cificação que gravámos em Marrocos foram um revolucionário e Maria Madalena também. Ele via todos os seres humanos por igual, independentemente da raça, cor ou género. E acho que Maria Madalena pensava
muito densas, complicadas, e qualquer ator gosta dessa profundidade. Mas todas as cenas em que Maria Madalena está possuída pelos demónios e se torna noutra pessoa são incrí- veis. É maravilhoso estudar uma personagem que é de uma maneira e que, de ummomento para o outro, se transforma, e passa a ser ou- tra pessoa, a agir de outra forma. É desgastante? Muito, demais. Fico muito cansada, física e emocionalmente. Como foi gravar em Marrocos? Já conhe- cia o país? Sensacional. Não, não conhecia e achei ma- ravilhoso todo o aparato dos estúdios e pro- dução que foi criado para as gravações. Além da oportunidade para conhecer um novo país, estar num ambiente que reproduzia as condi- ções em que as personagens da novela, prova- velmente, também viveram foi muito enrique- cedor para os atores. Saímos de lá com essa vivência na pele, o calor extremo, a secura do ar... Foi uma grande experiência para mim e colocou-me mais dentro desta personagem. Estivemos mais de 40 atores lá, a viver a his- tória, então ficámos muito ligados e acredito que o que vivemos atrás das câmaras passa muito para o público. Participou em várias novelas de épo- ca. Quais são as grandes diferenças para um ator entre as novelas de época e as contemporâneas? A maior diferença é mesmo a noção de tem- po. Antigamente, as coisas eram mais lentas. Hoje é tudo muito mais rápido. Então, temos de nos adaptar a uma diferente maneira de agir, de falar, de andar. Alémdisso, os cenários, os figurinos, a maquilhagem e os cabelos são maravilhosos e colocam-nos logo num outro lugar, distanciam-nos do dia a dia ... Isso tudo, juntamente com uma iluminação à base de to- chas, dá-nos logo todo o universo da persona- gem e do seu tempo. Estreou-se nas novelas em2007. O quemais mudou de lá para cá? Comecei muito nova. O que mudou foi a minha visão, a minha a maneira de fazer. Há mais naturalismo. Continuo a apren- der, mas acredito que, de há uns cinco anos para cá, comecei a entender um pouco me- lhor esse mecanismo. Acho que se tem ex- plorado bastante a linguagem de cinema
©RecordTV/EduMoraes
UMA MULHER FORA DE ÉPOCA Day Mesquita interpreta Maria Madalena em 'Jesus', a próxima novela da Record TV. Uma figura corajosa e controversa que acredita na igualdade
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gente ENTREVISTA
RESPOSTAS RÁPIDAS
em televisão. Esta novela é um bom exem- plo, com muitos planos diferenciados. Fica tudo muito no olhar, é tudo muito conden- sado, as sensações e sentimentos das perso- nagens. Antigamente, na televisão, era uma coisa mais exagerada, quase mais teatral. Acho que essa é a diferença. Hoje em dia, o ator tem de se adequar ao ‘menos é mais’. Estamos mais perto da realidade. A ideia não é interpretar, mas sim viver a história. Eu es- tou a viver esta história. Chego para gravar uma cena e estou a viver aquilo de verdade. É isso que eu tento fazer cada vez que entro em estúdio: se eu estiver a sentir, as pessoas também vão sentir. Recentemente, estreou-se no cinema com o filme ‘Nada a perder’. Como foi essa experiência? Foi um grande desafio, pois foram duas lon- gas-metragens (a segunda é lançada para o ano) onde interpretei uma personagem dos 20 aos 64 anos. Além desta passagem de tem- po muito grande, estamos a falar de filmes
aprender muita coisa. Foi muito prazeroso e gratificante ter este filme como o primeiro no meu currículo de cinema, com pessoas tão profissionais envolvidas. Como o próprio di- retor Alexandre Avancini, que já conhecia de outras novelas, mas com o qual eu o Petrônio Gontijo criámos uma grande ligação de con- fiança. Outro grande prazer foi mesmo co- nhecer e trabalhar com o Petrônio, que é um ator generosíssimo. Já gostava muito do tra- balho dele e depois de contracenar com ele ainda estou mais encantada. Também foram ótimas as viagens à África do Sul e a Israel, onde gravámos o segundo filme. Consegui aproveitar e conhecer dois países, então não podia ser melhor. Só posso agradecer a oportunidade. O seu desempenho nesse filme biográfico tem sido muito elogiado. Como está a viver esse momento de grande popularidade na sua carreira? A minha carreira sempre foi evoluindo muito lentamente, mas de forma consistente. Cada
Filme da sua vida? 'Cisne Negro', de Darren Aronofsky Personagem de filme que gostaria de ter interpretado? Nina (Natalie Portman), no 'Cisne Negro' Atriz que mais admira? Laura Cardoso O que faz ao domingo de manhã? Praia O que podia comer todos os dias? Chocolate Saia ou calça? Calça Para que cidade se mudava amanhã? São Paulo
trabalho que foi aparecendo foi sempre umdegrau para um próximo. Acho que estas últi- mas oportunidades que tenho tido na minha carreira foram as mais concretas e as maio-
Música que ouviria 24 horas seguidas?
“A cada trabalho, tenho conseguido conquistar novos e melhores trabalhos e isso deixa-me muito feliz”
Qualquer uma da Elis Regina
que vão ser distribuídos em muitos países. Então, fiquei assim com um certo medo no início, mas ao mesmo tempo foi um grande desafio e amei tê-lo encarado. Nunca tinha feito cinema e a equipa era mesmo muito competente e muito profissional, a primeira linha do cinema brasileiro com a qual pude
res, sem dúvida. Ao longo destes anos todos, fui construindo o que hoje tenho e a oportu- nidade de receber convites como este, o que me deixa muito feliz. Não quero parar nunca de fazer isto na vida. A cada trabalho, tenho conseguido conquistar novos e melhores tra- balhos e isso deixa-me muito feliz.
©StellaCarvalho/ParisFilmes/Divulgação
ESTREIA NO CINEMA Day Mesquita com Petrônio Gontijo como Ester e Edir Macedo, no filme biográfico 'Nada a Perder'
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O que gostaria de fazer a seguir em termos profissionais? Tenho um projeto de uma curta-metragem que quero desenvolver assim que acabar de gravar ‘Jesus’, e quero fazer ainda mais cine- ma, teatro... Na verdade, sou balança, então gosto de fazer tudo, não consigo decidir. [ri- sos] Mas o cinema é sem dúvida uma grande vontade. É um registo que exige muito do ator e é muito bom quando nos conseguimos en- tregar mais profundamente. Como se apresentaria a quem não a conhe- ce tão bem? Sou uma mulher forte que hoje em dia sabe bem o que não quer e que está em busca sempre da sua verdade, do que é melhor. Nesse ponto estou muito próxima da Maria Madalena. Acredito, sim, que as pessoas são todas iguais, em género, raça e cor. Quero fazer a minha arte com tanto amor que consiga tocar as pessoas. O mundo precisa mesmo é disso. O amor elimina todos os ou- tros problemas. E o que gostaria de melhorar em si? A minha indecisão, penso sempre muito em tudo. [risos] Bailarina uma vez, bailarina para sempre. Você é uma mulher que se preocupa muito com a imagem? Aposentada, mas sempre bailarina. [risos] Os atores trabalham com a imagem, somos um produto em muitos trabalhos, então é uma coisa à qual temos de estar atentos, mas não faço disso uma escravidão. Tento gozar tudo com equilíbrio, como tudo na vida. Cuido da minha alimentação, faço exercício físico, come- ço agora a tratar mais da minha pele... Sou um pouco preguiçosa, mas agora com a idade, es- tou a tentar criar o hábito de me cuidar mais. O importante é sentires-te bem. Acho que mais do que o corpo temos de trabalhar a mente. As pessoas comentamo ator ‘X’ estámuitomagro ou muito gordo, mas esquecem que o impor- tante é perceber se ele está feliz. Já esteve em Portugal? Não, com muita pena. Quando gravámos em Marrocos, fizemos uma conexão em Portugal e no regresso tentei fazer um ‘stopover’ para ficar cinco dias em Lisboa, mas não conse- gui. No entanto, assim que acabar de gravar esta telenovela, quero passear um mês pela Europa. |
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( MAIS ) CRIANÇAS PRECISAM-SE! partilha NATALIDADE
O futuro do nosso mundo está nas mãos das crianças.” As palavras são de António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, mas representam uma ideia bem enraizada na cabeça de todos nós: sem os mais novos não há renovação de gerações e sem renovação de gerações a coesão e o bem- -estar sociais ficam em risco. A tendência de descida da taxa de natali- dade não é de agora. Dura há várias décadas em Portugal e no resto da Europa. Por cá, em 1961, por exemplo, registava-se uma média de 24,4 bebés por cadamil habitantes - na Europa, entre os países que hoje constituem a União Europeia (UE) a 28, o valor era de 18,5. Mais de meio século depois, em 2016, o número desceu preocupantemente para 8,4 - na UE a 28 a mé- dia era de 10,1. E para agravar a situação nacio- nal, Portugal apresentava nesse ano a segunda pior taxa bruta de natalidade com apenas 8,4 nascimentos por cada mil habitantes. POLÍTICAS PRÓ-NATALIDADE Às portas de Lisboa, omunicípio de Odivelas é o terceiro no ranking nacional da taxa de
Há mais de meio século que Portugal regista uma preocupante diminuição de nascimentos. Esta realidade vale-nos a segunda pior taxa de natalidade da União Europeia a 28 países. O problema é antigo, mas as soluções tardam em dar resultados. Saiba o que está a ser feito para que o país tenha mais bebés.
natalidade - dados Pordata, relativos a 2017 -, apenas atrás de Ribeira Grande (ilha de S. Miguel) e Madalena (ilha do Pico), ambos no arquipélago dos Açores. Segundo o presidente da CâmaraMunicipal de Odivelas, o facto de a autarquia que diri- ge ser aquela que tem a mais elevada taxa de nascimentos em Portugal continental deve-se à estratégia implementada nos úl- timos anos, que cria condições para que os munícipes queiram ter filhos. “Os jovens ca- sais consideram Odivelas um concelho que proporciona qualidade de vida, que já não é um dormitório de Lisboa. Temos excelen- tes vias de comunicação, com acessos fáceis aos principais eixos rodoviários da Grande Lisboa, zonas verdes, parques infantis e es- paços de lazer. Existe uma grande aposta em equipamentos e infraestruturas despor- tivas e contamos com um tecido empresa- rial dinâmico, que cria postos de trabalho. Odivelas tornou-se num dos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa que mais atrai a fixação de jovens”, explica Hugo Martins. No plano político nacional, também o
“
texto Nuno Estêvão
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Taxa bruta de natalidade RANKING DOS MUNICÍPIOS COM MAIS E MENOS NASCIMENTOS EM PORTUGAL*
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Ribeira Grande - 12,5 Madalena - 12,5 Odivelas - 12,2 Albufeira - 12,2 Lisboa - 11,7
Tabuaço - 3 Manteigas - 2,9 Oleiros - 2,7 Mesão Frio - 2,5 Corvo - 2,2
ano letivo de 2019/20 a mesma medida será estendida ao 3º ciclo e ensino secundário, con- templando todos os alunos da escola pública até ao 12º ano - realidade que, a partir deste ano, já acontece no concelho de Lisboa. Estas e outras medidas políticas pretendem contrariar a tendência de envelhecimento da população portuguesa, consequência da di- minuição crónica de nascimentos e acentua- da pela crise financeira e pela intervenção da troika no país, que provocou profundas alte- rações no tecido social e no comportamento dos portugueses. MENOS 19 MIL BEBÉS “Desde 2010 que os nascimentos caíram para valores abaixo dos 100 mil e 2014 regis- tou o valor mais baixo de sempre, menos de NO TOPO DA NATALIDADE NO CONTINENTE Para o autarca de Odivelas, Hugo Martins, o apoio educativo é fundamental para manter o seu município entre os primeiros em natalidade
* Número de recém-nascidos por cada mil habitantes Fonte: INE,Pordata,2017
contemporâneas, baixa fecundidade e deci- sões reprodutivas, conclui que embora a di- minuição dos nascimentos seja "uma ten- dência de fundo no panorama demográfico português desde os anos 1960, quando nas- ciam mais de 200 mil bebés por ano, entre 2010 e 2013 registou-se uma queda a pique. Só neste período perderam-se 19 mil nasci- mentos, ligeiramente mais do que em toda a primeira década de 2000. Confrontados com a necessidade de criar condições que incentivem os munícipes a te- rem filhos, muitos autarcas têm investido em políticas que fixem jovens casais e que estimulem o crescimento das famílias, re- sultando no nascimento de mais crianças. Destacando que Odivelas é um município “bom para estudar, bom para crescer e, logo,
PAÍSES COMMAIS E MENOS NASCIMENTOS NA UE*
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Irlanda - 13,4 Suécia - 11,8 Reino Unido - 11,8
Croácia - 9 Espanha - 8,8 Grécia - 8,6 Portugal - 8,4 Itália - 7,8
83 mil nascimentos. Esta si- tuação ocorreu, justamente, no auge da crise e das medi- das de austeridade, pelo que esta queda de nascimentos reflete os elevados níveis de
A CRISE FINANCEIRA E A INTERVENÇÃO DA TROIKA RETIRARAM CONFIANÇA AOS PORTUGUESES E NASCERAM MENOS BEBÉS
França - 11,7 Letónia - 11,2
* Número de recém-nascidos por cada mil habitantes Fonte: INE,Pordata,2016
emigração da população jovem em idade de constituir família e a dificuldade dos que fica- ram em concretizar os seus projetos. Olhando para os restantes países da Europa do Sul, a tendência foi muito semelhante”, explica a so- cióloga Vanessa Cunha. A investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS), da Universidade de Lisboa, que há muito se interessa por temas como a im- portância dos filhos nas famílias portuguesas
bompara viver”, o autarca Hugo Martins enfa- tiza que “desde 2011, que a CM Odivelas asse- gura três refeições diárias (pequeno-almoço, almoço e lanche) a todos os alunos que fre- quentam o pré-escolar e o 1º ciclo do ensino básico da rede pública do concelho. Também a atribuição de manuais e fichas escolares a todos os alunos até ao 2º ciclo do Ensino Básico, bem como de outros recursos peda- gógicos, constituem importantes medidas de
governo de António Costa tem apostado em políticas direcionadas aos mais jovens, como é o caso da implementação progressiva da gra- tuitidade dos manuais escolares no ensino pú- blico. No ano letivo de 2016/17 abrangeu o 1º ano do 1º ciclo; em 2017/18 a medida foi apli- cada a todo o 1º ciclo (do 1º ao 4º anos); e em 2018/19 a política foi alargada ao 2º ciclo (do 1º ano ao 6º anos). E, ao que tudo indica, no
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partilha NATALIDADE
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A NATALIDADE ESTÁ A DECAIR HÁ DÉCADAS EM PORTUGAL
período pós-25 de abril, momento da História do país em que se verificaram profundas alte- rações na sociedade. “Forammudanças muito profundas em várias frentes: na condição so- cial das mulheres e das crianças; no prolon- gamento da escolarização; na melhoria geral das condições de vida da população, nomeada- mente a nível do acesso à saúde com a criação do Serviço Nacional de Saúde. A combinação destas transformações permitiu às famílias reduzirem voluntariamente os nascimentos, como forma de promoverem socialmente os seus filhos e garantirem o seu bem-estar, para tal beneficiando da consagração do direito ao planeamento familiar e da gradual generali- zação de métodos anticoncecionais seguros”, resume Vanessa Cunha. IMIGRAÇÃO: SERÁ A SOLUÇÃO? Em relação às décadas mais recentes, a especialista aponta como causas para uma menor natalidade “as dificuldades que as fa- mílias sentem para concretizarem os seus ideais ou os seus projetos de fecundidade. Combinam a crescente exigência colocada na parentalidade com a instabilidade e pre- carização do mercado de trabalho”. E acres- centa que estando a natalidade dependente da estrutura demográfica, “numa população envelhecida como é a nossa há menos nasci- mentos, pois há menos mulheres e homens em idade de ter filhos. Os grandes protago- nistas das migrações, nomeadamente das la- borais, são os indivíduos jovens e em idade de constituir família. Sabendo-se que a emigra- ção leva à redução dos nascimentos e a imi- gração conduz ao aumento dos nascimentos, se não fosse a população imigrante a natali- dade em Portugal nas últimas décadas teria sido ainda mais baixa. Para aumentar a nata- lidade e abrandar o envelhecimento da popu- lação temos de ter em conta estes movimen- tos migratórios”. Apreensivo em relação à evolução da demo- grafia nacional, Hugo Martins defende que “o país necessita com urgência de recuperar os índices de natalidade, para a sustentabilidade das gerações vindouras, bem como a sua pró- pria. E este é, talvez, um dos maiores proble- mas com que Portugal se debate nos tempos próximos e temuma importância nuclear para o nosso futuro”. |
1960 1970 1980
1990
24,1
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16,2
11,7
2000 2010 2017
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8,4
Fonte: INE,Pordata
Para que este tipo de opções políticas te- nhamum impacto positivo nas famílias, fazen- do com que tenham mais filhos, é necessário que as medidas sejam claramente pró-natali- dade e os seus efeitos se prolonguem no tem- po. “As políticas de incentivo à natalidade são tanto ou mais eficazes quanto consistentes e duradouras, permitindo às famílias tomarem decisões de fecundidade tendo em conta um quadro confiável demedidas. Portanto, é preci- so as políticas fazerem o seu caminho e ganha- rem a confiança das famílias”, refere Vanessa Cunha, coautora do livro 'A(s) Problemática(s) da natalidade em Portugal'. MAIS PLANEAMENTO, MENOS BEBÉS O envelhecimento crescente da popula- ção e o nascimento de um número insufi- ciente de bebés, incapaz de contribuir para um rejuvenescimento demográfico do país, são problemas que estão na raiz de muitas das principais preocupações das sociedades 'ocidentalizadas'. E se a isso juntarmos a diminuição da percentagem da população em idade ativa, levantam-se uma série de inquie- tações contemporâneas. “A sustentabilidade futura da população é um tópico fundamental nas agendas políticas, mas não se resume às questões da natalidade. Vamos continuar a envelhecer e tal implica repensar o modo como vivemos em socieda- de, como organizamos o mercado de trabalho, ou como alteramos as regras do Estado Social tendo em conta a diminuição da população ativa e contributiva face à população que dela depende”, sublinha a investigadora do ICS. Para se entender o fenómeno da diminuição da natalidade portuguesa há que recuar ao
SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO Vanessa Cunha, doutorada em Sociologia da Família e da Vida Quotidiana, explica que as alterações sociais verificadas nas últimas décadas contribuíram para menos nascimentos
apoio às famílias, que permitem libertar ver- bas do orçamento familiar para outras neces- sidades e gastos”. POLÍTICA NA VIDA PRIVADA Embora não existam soluções 'mágicas', será que estas medidas têmna prática o alcan- ce pretendido por quem as implementa, resul- tando, em última análise, em mais nascimen- tos? “Obviamente que não existe uma relação direta de causa-efeito, pois se assim fosse es- taria descoberta a solução para o grave pro- blema demográfico que o país vive. Porém, é inegável que o apoio educativo, também atra- vés da atribuição de manuais e fichas escola- res, efetuado ininterruptamente [no municí- pio de Odivelas] desde o ano letivo 2008/09 colabora para o bem-estar das famílias, con- tribuindo para assegurar a educação dos fi- lhos, o que favorece e incentiva a decisão de procriar”, refere Hugo Martins. Há vários anos nos lugares cimeiros do ranking da na- talidade em Portugal, o concelho de Odivelas celebra este ano o vigésimo ano de existência - após a separação de Loures - e tem uma po- pulação a rondar as 156 mil pessoas, número que cresceu 18% desde 1998. Para além da proximidade da capital e dos índices de segurança superiores aos re- gistados noutros municípios da AML, Hugo Martins destaca também que a “taxa de IMI competitiva” torna Odivelas num “concelho atrativo que convida e incentiva a fixação de jovens famílias”.
OS IMIGRANTES PODEM SER DECISIVOS NO COMBATE AO ENVELHECIMENTO DAS POPULAÇÕES
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partilha UNIÃO EUROPEIA
Porque quis o Reino Unido abandonar a União Europeia? O referendo interno à continuação do Reino Unido na União Europeia (UE) realizou-se a 23 de junho de 2016. O lado pró-'Brexit' defendia, entre outros, os benefícios económicos da saída - por exemplo, as contribuições do Reino Unido para o orçamento europeu poderiam ser investidas diretamente no país e a renúncia permitiria a negociação de uma nova relação comercial com a UE -, enquanto os defensores do 'não' destacavam as vantagens de pertencer a um mercado livre (sem taxas aduaneiras), com mais de 500 milhões de pessoas. Votaram mais de 30 milhões de eleitores britânicos e 51,9% mostraram-se favoráveis ao abandono do bloco europeu. A palavra que resulta da junção de ' Britain' com ' exit ' descreve o 'adeus' britânico ao projeto europeu. Um processo complexo e moroso, sobretudo devido às questões económicas, que se vai estender até ao final de 2020. 'BREXIT' EM QUE PONTO ESTAMOS texto Nuno Estêvão Como é negociada a saída de um Estado-membro da UE? Qualquer Estado-membro pode sair da UE. Basta notificar o Conselho Europeu (CE) e invocar o artigo 50º do Tratado de Lisboa - o Reino Unido acionou-o a 29 de março de 2017 - para dar início ao processo. Será com base nas orientações que o CE der à UE que esta iniciará as negociações com vista a um acordo em que
O que está a dificultar o acordo final entre o Reino Unido e a UE? Tem vindo a público a informação de que já há acordo para 80% do conteúdo do documento do 'Brexit'. O maior entrave relaciona-se com a fronteira da Irlanda - a República da Irlanda é soberana, mas o norte da ilha (Irlanda do Norte) pertence ao Reino Unido, que recusa uma 'fronteira dura' entre ambas. Se não houver acordo, o problema pode ser desbloqueado com uma 'cláusula de salvaguarda', através da qual - e até que haja uma solução definitiva - as regras da UE (mercado único, livre circulação, etc.) serão aplicadas em toda a ilha irlandesa. Por outro lado, a UE exige ao Reino Unido o pagamento de largos milhares de milhões de euros por contribuições pendentes, enquanto o governo de Theresa May faz depender esse valor de um futuro acordo comercial, vantajoso para os britânicos. O estatuto futuro dos cidadãos dos países da UE a viverem no Reino Unido (mais de 3 milhões) e de britânicos na UE (perto de 1 milhão) é outra das divergências. Ambas as partes têm interesse em ver explicitado o novo estatuto jurídico dos seus cidadãos, desejando a manutenção de um conjunto de direitos diferenciado quando comparado com os de outras nacionalidades. o acordo celebrado entre ambas as partes, haverá ainda 21 meses - um 'período de transição' - até à implementação final do acordo, ou seja, até 31 de dezembro de 2020. sejam particularizados os pormenores da saída, definindo-se também os moldes das futuras relações do ex-Estado-membro com o bloco europeu. O prazo previsto para a negociação é de dois anos - no caso britânico, até 29 de março de 2019 -, podendo ser, no entanto, prolongado caso o CE assim o entenda. No 'Brexit', já com
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O que irá acontecer nos próximos tempos?
O presidente do CE, Donald Tusk, anunciou a realização de uma cimeira extraordinária em novembro, com vista à resolução dos pontos que ainda geram desacordo. Seja qual for o resultado desse encontro, a generalidade dos especialistas anti-'Brexit' defende que um 'não acordo' será economicamente mais prejudicial para ambas as partes. Por outro lado, Theresa May já disse que não haver “ acordo nenhum é melhor do que ummau acordo ” .
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partilha SUSTENTABILIDADE
Uma agenda para mudar o mundo
O mundo acabavade sair da II GuerraMundial erecuperavalentamentedaperdademilhões depessoas, quandoonascimentodaOrganização das Nações Unidas (ONU) devolveu a esperan- ça à Humanidade. Entre os escombros provo- cados por um conflito à escala global, a união das vontades de dezenas de países originou um compromisso ratificado no dia 24 de outubro
Apostada em garantir a Paz mundial e promover a cooperação entre os países, a ONU foi fundada há mais de sete décadas. Em 2015, os Estados-membros renovaram o compromisso de construir um futuro digno para todos, desta vez até 2030. Mas será que vão conseguir?
texto Nuno Estêvão
ONU 17 Objetivos até 2030 Aprovados por mais de 190 países, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável pretendem transformar o mundo.
o equilíbrio dos ecossistemas, e defender a existência de um mercado agrícola justo.
tal como a outras doenças transmissíveis. Reforçar a prevenção no abuso do álcool e drogas. Reduzir para metade as mortes por acidentes rodoviários
de acesso a todos os graus de ensino, que deve ser equitativo e de qualidade. Assegurar que até à idade adulta todos sejam dotados, pela via do ensino e da formação profissional, de ferramentas que permitam escapar à pobreza.
Reduzir, no mínimo, para metade o total de pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza (menos de 1,25 dólares por dia). Implementar políticas que garantam aos mais desfavorecidos uma vida digna e acesso a proteção social adequada.
Garantir que o acesso a uma alimentação de qualidade, nutritiva e suficiente é extensível a toda a população, durante todo o ano. Criar condições para que a produção de alimentos
e atingir a cobertura universal de saúde.
Reduzir ao máximo as mortes de bebés, crianças e mulheres
grávidas. Colocar um fim a epidemias como a SIDA, tuberculose e malária,
seja sustentável, salvaguardando
Possibilitar que crianças e jovens tenham igualdade
Colocar fim às formas de
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membros da organização assinaram a resolu- ção 'Transformar o nossomundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável', que passou a vigorar no início de 2016. “Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sus- tentável (ODS) são a nossa visão comum para a Humanidade e um contrato social entre os lí- deres mundiais e os povos”, afirmou na época o então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. E acrescentaria: “São uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta, e um plano para o sucesso”. PROBLEMAS LOCAIS, VISÃO GLOBAL Pretendendo encontrar em 2030 um mun- prosperidade e um progresso que não ofenda o planeta são os traços gerais daAgenda 2030que, mais do que nunca, encara os males do mundo de um ponto de vista global e integrado. Se nos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), para os quais os Estados- -membros da ONU haviam concordado unir esforços no período de 2000 a 2015, os países em desenvolvimento eram os principais des- tinatários das preocupações, nos ODS o texto aprovado espelha uma visão de que o mundo e os seus problemas são interdependentes. Esta abordagem de que os países, indepen- dentemente do seu grau de desenvolvimen- to, se debatem com problemas globais como as alterações climáticas, migrações ou epi- demias pretende que o diálogo entre o ‘mun- do rico e o mundo pobre’ seja efetivamente do bem melhor do que o que se vivia quinze anos antes, os membros da ONU esta- beleceram 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Menos conflitos, mais
profícuo. Os desafios para que todos estão convocados - governos e cidadãos - passam por combater todas as formas de pobreza, lu- tar contra as desigualdades e construir um mundo mais sustentável. Dando seguimento aos resultados dos ODM, os ODS procuram “concretizar a res- ponsabilidade partilhada e acabar com a pobreza, não deixando ninguém para trás e criando um mundo de dignidade para to- dos”, escreveu Ban Ki-moon, no Relatório sobre os ODM, antecipando o longo cami- nho que era necessário percorrer até 2030. A redução do número de pessoas em pobre- za extrema, que passou dos 1 751 milhões em 1999 para os 836 milhões em 2015, atesta o sucesso dos ODM. ESFORÇO COMUM Com base nos atuais 7,6 mil milhões de ha- bitantes, a estimativa da ONU aponta para que a população mundial cresça mil milhões até 2030 - um aumento de cerca de 11% em ape- nas 12 anos. Para além da pressão extra que o acréscimo de pessoas inevitavelmente coloca- rá ao planeta - pois os recursos naturais não aumentarão na mesma proporção -, será ne- cessário criar condições para que a população no seu todo possa viver da forma digna, con- seguindo satisfazer as suas necessidades bási- cas e viver com o mínimo de qualidade. Mas, mesmo depois de retirar perto de mil milhões da pobreza, a realidade pós-2015 continua a ENTRE 1999 E 2015, SAÍRAM DA POBREZA EXTREMA QUASE MIL MILHÕES DE PESSOAS. ATÉ 2030, A ONU QUER QUE SEJAM MAIS
de 1945 - o que deu origem ao dia da ONU, que este ano assinala 73 anos. Desafiada ao longo dos tempos a resolver diferendos entre os Estados-membros, a ONU tem a missão de arbitrar conflitos entre paí- ses e promover o bem-estar das populações, sobretudo daquelas consideradas mais vulne- ráveis. Foi nesse âmbito que em 2015, os 193
discriminação e eliminar todo o tipo de exploração que tenha como alvo o sexo feminino. Garantir que as mulheres têm os mesmos direitos e oportunidades do que os homens. Condenar qualquer tipo de discriminação ou condicionamento baseado apenas no facto de se pertencer ao género feminino.
consumo humano, e implementar uma gestão sustentável dos recursos hídricos.
poluentes de produzir ou captar energia, bem como tornar as que já existem mais eficientes.
aumento de 7% do PIB nos países menos desenvolvidos. Promover estratégias ativas de criação de emprego, combater o desemprego
económico e promover uma industrialização sustentável, modernizando as unidades para que se tornem mais eficientes na utilização de recursos e energia. Fomentar o aumento global do acesso das pequenas indústrias, em concreto nos países em desenvolvimento, ao crédito comportável.
Garantir que a população mundial tem acesso a água potável, bem como a um sistema de saneamento adequado. Melhorar a qualidade geral da água, reduzindo os níveis de poluição. Aumentar o volume de água doce disponível para
e lutar contra todo o tipo de exploração laboral.
Assegurar o acesso universal à energia, sobretudo a fontes renováveis. Investir no desenvolvimento de novas formas não
Tornar possível o crescimento económico per capita , sustentado na realidade de cada país e ambicionar um
Apoiar o desenvolvimento
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ser arrepiante: perto de seis milhões de crian- ças morrem anualmente antes de atingirem os cinco anos; uma em cada oito pessoas no mundo vive abaixo do limiar de pobreza; a es- cassez de água afeta mais de 2 mil milhões de pessoas; e 1,1 milhões vivem sem eletricidade. PORTUGAL 2030 Atualmente, Portugal tem quase 11 milhões de habitantes. A maior fatia da população con- centra-se nos grandes centros urbanos, no li- toral, o que determina a desertificação do in- terior. Neste país a 'duas velocidades', vivemos cada vez mais e temos menos filhos. Entre as boas notícias, é que nunca tivemos tanta esco- laridade e muitas das desigualdades têm vindo a esbater-se. Mas como será Portugal em2030? Segundo um estudo da Fundação Manuel dos Santos, um dos cenários possíveis é que a es- perançamédia de vida à nascença aumente (si- tuar-se-á nos 80 anos para os homens e nos 86
MUNDO DE CONTRASTES Na implementação da Agenda 2030, o gover- no português priorizou seis dos 17 objetivos - Educação de Qualidade; Igualdade de Género; Indústria, Inovação e Infraestruturas; Redução das Desigualdades; Ação Climática; e Proteção da Vida Marinha. O ano passado, por ocasião do Fórum Político de Alto Nível das Nações Unidas, Portugal apresentou, de forma volun- tária, o 'Relatório nacional sobre a implemen- tação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável', no qual delineou as estratégias para atingir os ODS. Segundo os dados de 2017, o país ocupa a 41ª posição do ranking do Índice de Desen- volvimento Humano, ferramenta que hierar- ERRADICAR A POBREZA Uma das prioridades da ONU passa por combater o facto de uma em cada oito pessoas no mundo viver abaixo do limiar de pobreza
quiza o grau de desenvolvimen- to dos 189 países que constam no relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Neste docu- mento, a Noruega é o país mais
SEGUNDO A ONU, PERTO DE SEIS MILHÕES DE CRIANÇAS MORREM ANUALMENTE ANTES DE ATINGIREM OS CINCO ANOS
DIVIDIDOS PELO CLIMA Uma dasmaiores preocupações refletidas nos ODS são as alterações climáticas, um tema que ainda não é globalmente entendido como uma prioridade inadiável. As divergências ficaram visíveis na ‘Climate Change Leadership Porto Summit 2018', um evento dedicado às altera- ções climaticas que reuniu, em julho, na cidade Invicta vários especialistas mundiais, incluindo Barack Obama. Apesar de tecer muitas críticas pelo facto de Donald Trump ter decidido aban- donar oAcordoClimáticode Paris, firmadono fi- nal de 2015, o ex-Presidente dos EUAafirmou ser
para as mulheres) e, embora o índice de fecun- didade possa subir ligeiramente, estima-se que o número de idosos commais de 65 anos possa ser o dobro da quantidade de jovens (comme- nos de 15 anos). Seguindo esta previsão, daqui a doze anos por cada duas pessoas em idade ativa haverá um idoso. Estas pistas para o futuro encerram alguns dos desafios que o país terá pela frente, muito diferentes daqueles que se impõe emmui- tas outras partes do planeta.
desenvolvido, seguido da Suíça (2º) e Austrália (3º). Nos três últimos lugares encontram-se Niger (189º), República Centro-Africana (188º) e Sudão do Sul (187º). Países como a Alemanha (5º), EUA (13º), Reino Unido (14º) e Japão (19º) estão entre os 30 mais bem classificados. Quanto ao ‘mundo lusófono’ - Brasil (79º), Cabo Verde (125º), Timor-Leste (132º), São Tomé e Príncipe (143º), Angola (147º), Guiné-Bissau (177º) e Moçambique (180º) -, há ainda muito trabalho a fazer.
independentemente da sua proveniência e permitir que os países em desenvolvimento possam ter uma voz mais forte nas instituições internacionais que integram.
e a preço acessível a todos. Melhorar as condições dos bairros de lata. Proporcionar sistemas de transportes seguros, acessíveis e sustentáveis, e melhorar a segurança rodoviária. Reduzir o impacto ambiental negativo per capita nas cidades, prestando especial atenção à qualidade do ar e gestão de resíduos.
da adoção de estilos de vida amigos do ambiente.
compromissos assumidos pelos países desenvolvidos, no sentido de auxiliar os países em desenvolvimento para que se adequem aos desafios ambientais.
Promover o crescimento do rendimento da população mais pobre e combater as diferenças sociais que possam existir devido a fatores como a idade, género, raça, origem, etc. Garantir a igualdade de oportunidades entre todos,
Alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente de recursos naturais. Reduzir para metade o desperdício de alimentos a nível mundial e de resíduos, apostando na reciclagem e reutilização. Consciencializar todos para a importância
Implementar políticas ativas que permitam mitigar o impacto das alterações climáticas. Melhorar a educação das populações em relação às temáticas ambientais. Implementar os
Reduzir a poluição marítima, acabar com a sobrepesca, pesca
Garantir o acesso a habitação digna
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