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anos
Nº 42 | ABR . MAI 2019 | GRATUITA recordeuropa.com #revistaShare
“SÓ COM A REPETIÇÃO EXAUSTIVA SE ATINGE A PERFEIÇÃO E NADA ME DÁ MAIS GOZO DO QUE CORRER ATRÁS DELA” Nelson Évora
PORQUE IMPORTAM AS SOBRAS DE COMIDA QUE DEITAMOS AO LIXO? Desperdício
VENEZUELA SOB PRESSÃO DE ECONOMIA PRÓSPERA A PAÍS DIVIDIDO, À BEIRA DE UMA GUERRA CIVIL
FRANCISCO FINO O ESTADO DA ARTE EM PORTUGAL POR UM "EXTRAORDINÁRIO" JOVEM GALERISTA
sumário
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Perspetiva 6. As cidades mais inovadoras do mundo são asiáticas
Opinião 4. Uma expansão com História e propósito David Perpétuo 15. Papel, papel e mais papel Pedro Fernandes 18. Vamos acabar com o desperdício alimentar DECO 34. Dois Minutos Cristiane e Renato Cardoso 46. Origem e implicações
20. Vai tudo para o lixo! Andamos a desperdiçar a comida 22. Venezuela: Como chegámos até aqui
36. A moda do 'menos é mais' 38. Café com Francisco Fino Dois anos depois de inaugurar o seu espaço em Marvila, o galerista faz um retrato do mercado da arte em Portugal 42. União Europeia para totós 44. Cromaterapia: cores que curam 47. Música com poder 48. Entrevista: Sara Alhinho A cantora cabo-verdiana fixou-se em Portugal e ambiciona levar o seu último disco a todo o mundo 50. Anjos em Palco
Gente 8. Entrevista: Nelson Évora
Planeta Record 26. O que há de novo na sua TV
Partilha 14. Violência doméstica mancha estatísticas de segurança 16. Estado a pente fino Desde que foram criadas, as Comissões Parlamentares de Inquérito são pouco consequentes. Afinal, para que servem mesmo?
Atitude 28. O que sabe sobre o Sol? 30. Os encantos do sul holandês O Giro visitou Delft e Roterdão e diz- lhe o que vale a pena conhecer no sul da Holanda
da dor ciática António Gaspar
Edição #42 abril/maio 2019 Diretor LeandroMaquinez Coordenação CarlaPinto JornalistaResponsável AnaRitaDinis Redação (nestaedição)MafaldaMagrini,NunoEstêvão,SaraVelosoeVítorAlvito CopyDesk NunoEstêvão Design e paginação (nesta edição) Fernando Barata Foto de capa Vitor Hugo Marketing e apoio internacional Luana Miranda Direção Comercial Deolinda Pinheiro (comercial@recordeuropa.com; + 351 210 346 052) Sites e redes sociais recordeuropa.com . facebook/recordeuropa . twitter/@tvrecordeuropa . instagram/@recordtveuropa Tiragem Média 50000 exemplares . Encarte nos principais jornais de Portugal Impressão Lidergraf, Rua do Galhano, 15, 4480 - 089 Vila do Conde, Portugal Depósito legal 327515/11 . Inscrição na ERC – 126071 Proprietária/editora Rede Record de Televisão Europa, S.A. NIF 506 736 903 Morada sede/redação: Rua Mártires de Timor, nº 34, Quinta Figo Maduro, 2685 - 331 Prior Velho, Portugal . Conselho de Administração Marcelo Cardoso, José Branco, Leandro Ferreira, detida maioritariamente por AION FUTURE HOLDING, SGPS, S.A. Contactos sharemagazine@recordeuropa.com . +351 210 346 000 Estatuto editorial Disponível em: https://goo.gl/DNBaaG A Share Magazine e a sua proprietária não se responsabilizam pelos serviços e produtos anunciados, nem pelo teor das ideias onde esses sejam fundamentados. Também não se responsabilizam pelos conceitos e opiniões emitidos por entrevistados ou cronistas, os quais não refletem, necessariamente, a opinião do editor.
perspetiva AVULSO
opinião
Jeff Bezos , CEO da Amazon, continua a liderar a lista da ‘Forbes’ das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna avaliada em 131 mil milhões de dólares, seguido pelo fundador da Microsoft, O pódio dos multimilionários
+ 182 mil Em 2017, o turismo gerou mais de 13,7 mil milhões de euros e foi responsável por 182 mil postos de trabalho na região de Lisboa, revelou um estudo realizado para a Associação de Turismo de Lisboa. ‘Brexit’ sem acordo poderá destruir até 700 mil empregos turísticos na União Europeia, indica o World Travel & Tourism Council. 700 mil
David Perpétuo Diretor-Executivo da Record TV Europa
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Uma expansão com História e propósito Ciao Italia! Foi assim que a Record TV assinalou, em março, mais uma enorme conquista geográfica. Há vários anos disponível em Itália, através de satélite, a emissora passou agora também a integrar a grelha de canais da Sky italiana, tornando-se no único canal de língua subscritores, a Sky é um dos maiores operadores da televisão italiana e lidera o mercado da TV paga, onde se destaca enquanto principal investidor há vários anos. Em alta definição, na posição 571, estamos agora mais próximos de todos os que vivem em Itália e falam ou apreciam o Português, com conteúdos focados no entretenimento para toda a família e informação rigorosa e atualizada. Uma emissão totalmente monitorizada a partir de Portugal, sede da Record TV Internacional. Esta decisão confirma o prosseguimento de um projeto de expansão internacional iniciado pela emissora há mais de uma década e que a consolida como uma das estações de televisão comercial com maior abrangência territorial no mundo. Prestes a celebrar 66 anos, o grupo Record TV é um dos mais antigos em atividade e está hoje presente em mais de 150 países, entre Europa, Américas, África e Ásia. A concretização de uma presença mais forte em Itália assinala também a chegada da emissora à marca dos 60 operadores de TV, que distribuem o seu sinal no continente europeu. O motor deste crescimento - e o que nos motiva acima de tudo - tem sido a promoção e difusão da língua portuguesa e dos valores e cultura da Lusofonia. Queremos mostrar o que nos une ao mundo e fazer com que quem está longe, por vontade ou necessidade, fique cada vez mais perto de 'casa' e dos que lá ficaram. E não vamos ficar por aqui. É com elevado sentido de missão e respeito que continuaremos a apostar e a investir em fazer chegar o nosso sinal a cada vez mais pessoas, de forma mais imediata, e com a maior qualidade possível. portuguesa naquela plataforma. Com perto de cinco milhões de
Bill Gates (96,5 mil milhões) e pelo magnata Warren Buffett (82,5 mil milhões).
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"O microfone no dispositivo não foi feito para ser um segredo e deveria ter sido descrito nas especificações técnicas. Isso foi um erro da nossa parte" Resposta oficial da Google, depois da descoberta de que um dos seus sistemas de alarmes domésticos (Nest Secure) contém um microfone não referido na ficha técnica.
1.º Xangai (China) - 37.1m 2.º Singapura (Singapura) - 30,9m 3.º Shenzhen (China) - 24m 4.º Ningbo-Zhoushan (China) - 21.6m dados do World Shipping Council, a China ocupa 7 lugares no top 10 mundial.
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RANKING Os maiores portos do mundo * Embora Singapura tenha liderado durante muito tempo a atividade portuária mundial no que toca ao transporte de contentores, atualmente é Xangai que regista maior movimentação. Aliás, segundo os últimos
5.º Busan (Coreia do Sul) - 19.9m 6.º Hong Kong (China) - 19.8 m 7.º Guangzhou (China) - 18.9m 8.º Qingdao (China) - 18.1m 9.º Jebel Ali (Emirados Árabes Unidos) - 15.7m 10.º Tianjin (China) - 14.5m *Valores em milhões de TEU (Twenty-foot Equivalent Units) . Esta é a unidade de medida dos contentores. 1 TEU corresponde a 1 contentor de 20 pés (12 polegadas ou 30,48 cm).
Fonte: World Shipping Council
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perspetiva MUNDO
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COREIA DO SUL
TÓQUIO
A Coreia do Sul continua a liderar os países mais inovadores do mundo e Tóquio estreou-se no primeiro lugar entre as cidades. Ásia vai à frente em inovação
RANKING Os mais inovadores
Países
1.º Coreia do Sul 2.º Alemanha 3.º Finlândia
6.º Singapura 7.º Suécia 8.º EUA 9.º Japão 10.º França
4.º Suíça 5.º Israel
Fonte: 2019Bloomberg Innovation Index
Cidades
1.º Tóquio ( Japão ) 2.º Londres ( Reino Unido ) 3.º São Francisco/ São José ( EUA ) 4.º Nova Iorque ( EUA )
5.º Los Angeles ( EUA ) 6.º Singapura ( Singapura ) 7.º Boston ( EUA ) 8.º Toronto ( Canadá ) 9.º Paris ( França ) 10.º Sidney ( Austrália )
texto Ana Rita Dinis
P elo sétimo ano consecutivo, a Coreia do Sul lidera o ranking das nações mais inovado- ras domundo no 'Bloomberg Innovation Index 2019'. Ainda assim, destaca-se que cada vez é mais curta a distância do segundo classificado, Alemanha. Por causa dos melhoramentos que introduziu nas áreas da investigação e educa- ção, a maior economia europeia ficou quase a par do gigante asiático. A Suécia caiu do segundo para o sétimo lugar, ocupando a posição que pertencia à Finlândia, que agora surge em terceiro. Depois de terem sido excluídos do top 10 pela primeira vez em 2017, os Estados Unidos subiram agora para o 8.º lugar e Israel galgou cinco posições para o 5.º. Por sua vez, Portugal surge na 34.ª posição deste estudo anual, quatro lugares abaixo do lugar que ocupava em 2018, tendo sido ultra- passado por países como a Roménia, Turquia e Luxemburgo. Portugal recebeu uma pontuação de 62,79, numa escala de 0 a 100, classificação atri- buída em função da análise a sete indicado- res: Investigação & Desenvolvimento, valor
acrescentado da indústria, produtividade, alta tecnologia, ensino superior, investigação e ati- vidade de patentes. O país só surge bem classi- ficado numa destas variáveis - 4.º lugar na ca- tegoria ensino superior. Em todas as restantes, fica abaixo da 20.ª posição, registando a pior classificação na atividade de patentes. TÓQUIO GANHA NAS CIDADES Por sua vez, o '2018 Innovation Cities Index' da consultora 2thinknow, um estudo anual que analisa a inovação nas metrópoles ao in- vés dos países, coloca Tóquio na liderança pela
Fonte: 2018 InnovationCity Index,2thinknow
tecnologia de reconhecimento facial para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e tem inves- tido em inteligência artificial nos transportes, hospitais e serviços financeiros. Entre as primeiras dez cidades mais inova- doras do planeta estão apenas duas europeias
primeira vez, o que representa a estreia de uma cidade asiática no primeiro lugar. Tóquio figura no top 10 ape- nas há 3 anos, mas tem vindo a
PORTUGAL OCUPA O 34.º LUGAR DO ÍNDICE DE INOVAÇÃO DA BLOOMBERG
subir muito rapidamente no ranking . O reforço da aposta emnovas tecnologias (sobretudo ro- bótica e fabrico 3D) fez comque a capital nipó- nica superasse Londres e Nova Iorque. O Japão é reconhecido há muito pela ino- vação tecnológica, está a apostar bastante em
- Londres (2.º lugar) e Paris (9.º) -, o que refle- te a perda de terreno da Europa na inovação. Uma tendência que não é acompanhada pelo estudo dos países antes referido, onde os dez primeiros lugares pertencem quase todos ao continente europeu. |
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gente ENTREVISTA
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ÉVORA NELSON
P or causa da tua ascendência, acabas por ser um ‘filho’ da Costa do Marfim, de Cabo Verde e de Portugal. Sentes que fazes parte de todos esses lugares? Estou em Portugal desde os sete anos e, por isso, sinto-me sem dúvida português. Só co- nheci Cabo verde, onde nasceu o meu pai, aos 25, e regressei apenas há três anos à Costa do Marfim, onde nasci. Já não ia lá desde que me vim embora em criança. O facto de teres aprendido a lidar com a mudança e a perda logo em criança fez com que te tornasses num atleta mais forte, emocionalmente? Acho que a força emocional resulta, sobretudo, dos valores que te são passados por quem te rodeia. E eu tive uma estrutura familiar muito forte e sempre fui incentivado a lutar por mim. Começaste a mostrar talento e resultados muito cedo (com 1,38 m já saltavas 1,64 m). Quando é que percebeste que era isto que querias fazer para sempre? Talvez aos 18 anos ou quando fui Campeão Europeu de Juniores [ n.r.: em Tampere, Finlândia, 2003]. Antes disso, não levava estas coisas assim tão a sério. Aos 11 anos entraste no Benfica. De que for- ma é que isso mudou a tua vida? Com aquela idade não mudou nada, porque o meu treinador na altura, mais do que tudo, queria que nos divertíssemos e brincássemos. Os exercícios diários e os treinos intensos para as provas obrigavama uma grande dis- ciplina. Sentes que entregaste muito da tua adolescência ao atletismo? Não sinto que tenha abdicado de nada, porque era algo de que gostava. Como sou muito com- petitivo sempre soube que para ser o melhor, e
“Tenho dificuldades em funcionar sem os meus pilares por perto” É com altos e baixos que se fazem as grandes carreiras. É assim que Nelson Évora tem feito a sua. Aos saltos. Chegou ao topo várias vezes, lesionou-se e voltou a subir. Pelo caminho, continuou a sorrir. E tem motivos. Portugal já deve onze medalhas a este atleta “racional explosivo” e pode ficar a dever mais.
texto Ana Rita Dinis
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gente ENTREVISTA
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Um ano depois, em Pequim, alcançaste o sonho maior de qualquer atleta: ser cam- peão Olímpico. O que nunca vais esquecer dessa data? Que o dia começou com chuva e que eu odeio saltar à chuva. Quando o sol começou a abrir pouco antes daminha prova começar, senti que estava num dia de sorte. Em que pensas imediatamente antes de saltar? Estou apenas focado no salto e no que tenho de fazer. Não penso em nada mais além disso. Entre 2010 e 2012, passaste por uma sé- rie de lesões e cirurgias e falhaste os Jogos Olímpicos de 2012. Como é que se ultrapassa uma fase tão dramática? Quando tens pessoas à tua volta que dizem que vais ficar bem, que vais conseguir, nem que seja por eles, tens de dar o teu melhor. E foi pelas pessoas que nesses anos me rodea- ram que sempre me tentei manter motivado. Nem sempre foi fácil, porque tive vários aza- res quando tentava regressar, mas não há boost maior do que estares rodeado de pessoas que acreditam em ti. Como é que reagiste aos comentários que da- vam a tua carreira por terminada? Sorria, apenas isso. Ultrapassada a onda de problemas físicos, voltaste às pistas comumouronosEuropeus de pista coberta e bronze nosMundiais de ar livre, em 2015. A tua carreira tem sido uma história de renascimentos. Consideras-te um sobrevivente? [risos] De certa forma sim. Às vezes, olho para o meu percurso e tudo o que de bom e de mau me tem acontecido e nem os melhores argu- mentistas escreveriam uma história tão rica. Depois de 25 anos com o mesmo treinador, João Ganço, em 2016 começaste a treinar com Ivan Pedroso. O que mais sentes que mudou tecnicamente? O Ivan Pedroso tem uma outra técnica de sal- to. Portanto, a forma como salto mudou com- pletamente. Diariamente, afinamos detalhes, porque só com a repetição exaustiva se atin- ge a perfeição e nada me dá mais gozo do que correr atrás dela.
Na altura fiquei supercontente. Esperei 11 anos pela naturalização. Passei horas em muitas fi- las do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e achava que não era justo, sendo eu fruto do desporto escolar português, não poder ser re- conhecido no desporto nacional. Nessa altura, podias ter ido para clubes es- trangeiros, mas nunca quiseste. Porquê? Porque sempre senti que era fundamental es- tar rodeado dos meus. Tenho dificuldades em funcionar sem os meus pilares por perto. E também porque, no fundo, sa- bia que mesmo treinando em Portugal, emcondições bemdi- ferentes das que tinham os restantes adversá- rios, podia alcançar grandes feitos. Em agosto de 2007, nos Mundiais de Osaka, foste campeão do Mundo de triplo salto. O que significou para ti ser o melhor do mun- do aos 23 anos? Foi incrível! Das melhores sensações que vivi até hoje. Osaka foi o culminar de uma árdua es- calada ao topo, coma certeza de que agora teria de fazer de tudo para me manter lá.
ganhar de forma consistente, tinha de ter gran- de disciplina. Desde o descanso à alimentação.
Foste muito namoradeiro em adolescente? Podia ter sido mais, mas as viagens não deixa- vam. [risos] Com o tempo é mais fácil manter as regras ou é uma coisa a que nunca nos habituamos? Nunca foi difícil, porque descansar, comer bem
“A minha expectativa para qualquer prova em que entro é sempre a mesma e só uma: ganhar”
e fazer fisioterapia, por exemplo, são atividades que fazem parte de um todo. Para um atleta de alta competição não basta treinar na pista, des- cansar é um fulcral treino invisível. Como já referiste, em júnior participaste pelo FC Porto no Campeonato da Europa de Juniores e foste campeão no salto em com- primento e no triplo salto. O que significa- ram para ti estes primeiros títulos enquan- to português?
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“Para um atleta de alta competição não basta treinar na pista. Descansar é um treino invisível fulcral”
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gente ENTREVISTA
As medalhas de Évora E já lá vão 11!
faltam-me os 18 metros e atingir a perfeição. [risos] Ter ambições e objetivos bem delinea- dos é omaior segredo para sermos bons no que fazemos, seja o que for. Uma década depois de Pequim, preparas-te para Tóquio. Quais são as tuas expectativas para mais esta incursão Olímpica? A minha expectativa para qualquer prova em que entro é sempre a mesma e só uma: ganhar. Estás prestes a fazer 35 anos, enquanto atle- ta de alta competição, a idade é umfator que preocupa? Enquanto me sentir bem, sem dores, sem mazelas, não. O facto de ter estado quase qua- tro anos sem desgaste competitivo, também ajuda. | Em março, Nelson Évora voltou a trazer uma medalha para Portugal: a prata no triplo salto do Campeonato da Europa de pista coberta, em Glasgow, na Escócia. O atleta atingiu os 17,11 metros, ficando apenas a 18 cm de Nazim Babayev, do Azerbaijão, que chegou aos 17,29 metros. Com este 11.º galardão em seniores, Nelson fica a uma medalha de Fernanda Ribeiro, a atleta portuguesa mais medalhada de sempre. OURO Camp. Mundial, Osaka 2007 Jogos Olímpicos de Pequim 2008 Camp. Europeu de pista coberta, Praga 2015 Camp. Europeu de pista coberta, Belgrado 2017 Camp. Europeu, Berlim 2018 PRATA Camp. Mundial, Berlim 2009 Camp. Europeu de pista coberta, Glasgow 2019 BRONZE Camp. Mundial de pista coberta, Valência 2008 Camp. Mundial, Pequim 2015 Camp. Mundial, Londres 2017 Camp. Mundial de pista coberta, Birmingham 2018
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A mudança de vida para Madrid foi muito dolorosa? A adaptação inicial foi dura. Começar do zero num sítio onde não conheces ninguém não foi fácil. Mas depois foi-se compondo. E, mais uma
Portugal não é o melhor exemplo em termos desportivos. Os governos não consideram que o desporto e a cultura sejam imprescin- díveis para o desenvolvimento social do país. Se olharmos para o resto da Europa desenvol-
vida, os estádios de futebol es- gotam para ver provas de atle- tismo. Em Portugal, se virmos bem só existe futebol.
“Ter ambições e objetivos bem delineados é o maior segredo para sermos bons no que fazemos, seja o que for”
Que tipo de atleta te conside-
ras (mais impulsivo, ponderado...)? Um racional explosivo. [risos]
vez, fui premiado por encontrar pessoas incrí- veis no meu grupo de treino.
Independentemente dos triunfosmundiais, o atletismo ainda não reúne o interesse de outros desportos emPortugal. Tens uma ex- plicação para isso?
Emagosto foste campeão no triplo salto, nos Europeus ao ar livre, um título que muito ambicionavas. O que te falta ganhar? Em termos de títulos, já tenho tudo. Agora
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partilha SEGURANÇA
Apesar de a criminalidade violenta ter descido no ano passado, o número de mulheres assassinadas em contexto de violência doméstica subiu, face a 2017. Este ano, que ainda nem vai a meio, conta com uma estatística recorde. A MANCHA DAS ESTATÍSTICAS DO CRIME Violência doméstica
texto Vítor Alvito
O número fica na cabeça. Só até meio de março deste ano, morreram 14 pessoas em contexto de violência doméstica. Amanter-se a trajetória, este será o ano mais negro de todos. Até aomomento, hámais quatromortes do que no mesmo período do ano passado. Embora as estatísticas sejam apenas números, em termos médios, morreu uma pessoa a cada 5 dias, em contexto de violência doméstica em Portugal. Segundo a Polícia Judiciária (PJ), 11 das víti- mas sãomulheres, dois homens e uma criança. A morte desta criança foi um dos casos mais mediáticos quemais chocaramo país neste pri- meiro trimestre. Lara tinha apenas dois anos. No dia 4 de fevereiro, o seu pai dirigiu-se a casa dos sogros, degolou a mãe da ex-companheira e fugiu com a filha. No dia seguinte, o agressor asfixiou a pequena Lara e deixou o corpo na mala do carro, emCorroios, concelho do Seixal. O homem acabaria por pôr termo à vida em Castanheira de Pêra, a mais de 200 km do lo- cal do crime. O ex-casal estaria em processo de partilha da guarda parental da pequena Lara, quando se deu o homicídio.
MAIS AGRESSORES DETIDOS EM 2018 No ano passado, a PSP e a GNR receberam 26 439 queixas de violência doméstica, menos 1,1% do que em 2017. Segundo o Ministério da Administração Interna (MAI), 79% das vítimas que apresentaram queixa erammulheres. De acordo com o MAI, a PSP e a GNR deti- veram 803 suspeitos, o que representa um au- mento de 100 casos. Apesar de tudo, do total de queixas apresentadas, 85%acabamarquivadas. Apenas 5%resultamna condenação do agressor a penas de prisão. Ao contrário de outros países, Portugal tem uma baixa taxa de criminalidade violenta e quando esta acontece, surge em con- textos familiares.
O perfil dos agressores em Portugal man- tém-se, praticamente, inalterado, ao longo dos anos. Nos 12 crimes registados, e que resulta- ram em vítimas mortais, os agressores suspei- tos são todos do género masculino, com uma média de idades de 44 anos, sendo que o mais novo tem 21 anos e o mais velho 84. A violência doméstica foi um tema constan- te nas notícias nos primeiros três meses des- te ano, devido ao grande aumento do número de casos. Embora os homicídios de mulheres tenham subido entre 2017 e 2018, a verdade é que o número de queixas desceu nos últimos dois anos. Em 2019 prevê-se que esta situação mude substancialmente.
MULHERES ASSASSINADAS NA ÚLTIMA DÉCADA
44 40 37
43
39
29
22
20 24
12*
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
*Até 18/03/19 Fonte: UMAR -UniãodeMulheresAlternativa eResposta
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Pedro Fernandes Contabilista Certificado
OS NÚMEROS DE 2018
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Já estamos habituados a, todos os anos, colecionar faturas para justificar o IRS. Contudo, este ano foram introduzidas muitas alterações no campo das faturas e uma delas pode mesmo terminar com este pesadelo. Se é daqueles que dispensa faturas em papel, saiba que já pode optar por recebê-las apenas em formato digital. A medida é do fisco, que publicou uma lei que permite aos comerciantes e prestadores de serviços optarem por passar uma fatura eletrónica aos clientes que estejam dispostos a prescindir do papel. A partir do momento em que as empresas estiverem preparadas para o fazer, será o consumidor que, por enquanto, de uma forma voluntária e gratuita, decide se quer continuar a receber as faturas em papel, por e-mail ou no seu telemóvel, através de uma app . Mas as novidades não se ficam por aqui, afinal todas as faturas vão poder ser emitidas sem o número de contribuinte do consumidor, que o poderá confirmar posteriormente às Finanças sem precisar de o partilhar com o comerciante. Para tal, a partir de janeiro de 2020, todas as faturas e outros documentos fiscalmente relevantes vão passar a ter um código (QR Code) e um código único de documento. São ainda muitos os contribuintes que desconhecem ou desconfiam destas inovações 'virtuais', pois fica a dúvida se na próxima compra que fizer, seja num supermercado, farmácia ou restaurante, decidir dispensar o papel, as faturas serão de facto comunicadas às finanças. O Governo vai resolver isso com mais uma aplicação que irá permitir que o cliente saiba em tempo real, através do recebimento de uma mensagem de e-mail ou através de uma app no seu telemóvel que a Autoridade Tributária recebeu a fatura eletrónica, e esta terá exatamente o mesmo valor legal do que a fatura em papel. O leitor poderá ainda levantar uma questão… 'Será que as finanças passam a saber ao detalhe tudo o que eu compro?' O Ministério das Finanças garante que não, porém, a Comissão Nacional de Proteção de Dados, tem 'falado' num retrocesso de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e já deu um parecer negativo a esta 'inovação'. A ver vamos. Papel, papel e mais papel
-90 % Assaltos a caixas multibanco caíram substancialmente. +28 110 pessoas morreram assassinadas em 2018 -2 , 6 % Criminalidade geral desceu no ano passado.
Fonte: MinistériodaAdministração Interna
CRIMINALIDADE EMQUEDA DeacordocomoRelatórioAnualdeSegurança Interna (RASI), os tipos de criminalidade grave e violenta estão em queda há cerca de uma déca- da e representaram, em 2018, apenas cerca de 4,2% de todos os casos de crime registados em Portugal nesse ano. Por sua vez, a criminalidade geral registou uma redução de 2,6%, face a 2017, tendo sido
MAIS MORTOS NAS ESTRADAS A subir está também o número de vítimas mortais nas estradas. Segundo os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), em 2018, morreram 513 pessoas em acidentes de viação, mais quatro do que em 2017. Este é o segundo ano consecutivo emque se verifica uma subida do número de mortos, “ o que nos, mobiliza para estabelecermos uma
apresentadas menos 8 127 par- ticipações. No acumular dos úl- timos dez anos, a descida foi de quase 21%. A contribuir para a redução está a queda do núme- ro de crimes relacionados com
EM MÉDIA, MORRE UMA PESSOA A CADA 5 DIAS, EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM PORTUGAL
intervenção de tolerância zero como absolu- ta prioridade nesta área ” , disse o ministro da Adminsitração Interna, Eduardo Cabrita no Parlamento. Para o Presidente da ANSR, uma das principais causas da sinistralidade rodo- viária é a falta de aposta nas infraestruturas. “ Recentemente, na anterior legislatura, houve um desinvestimento enorme nas infraestrutu- ras e isso tem obviamente impacto na sinistra- lidade ” , afirmou Rui Soares Ribeiro |
fogo posto, que, no anterior, tinha disparado substancialmente. Outro crime que tambémdi- minuiu drasticamente foi o assalto a máquinas ATM. Em 2018 houve uma redução acentuada na ordem dos 90%, passando-se de 300 ocor- rências para cerca de 40. O dado mais preocupante do RASI é mesmo a subida de 34,1% no número de crimes de ho- micídio voluntário consumado. Ao todo, regis- taram-se 110 episódios, mais 28 do que em2017.
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partilha POLÍTICA
O Exército informa que foi detetada ontem ao final do dia a violação dos perímetros de segurança dos Paióis Nacionais de Tancos, à qual se associa o arrombamento de dois paio- lins.” A notícia, oficializada pelo comunicado do ramo das Forças Armadas afetado pelo in- cidente, caiu que nem uma bomba! Estávamos em junho de 2017 e a informação do 'desaparecimento' - mais tarde as investi- gações concluíram ter-se tratado de um furto - colocou a nu vários problemas relacionados com a segurança dos locais onde o material de guerra estava guardado. Inicialmente as auto- ridades deram falta de granadas de mão ofen- sivas e munições de calibre 9 milímetros, mas depois constatou-se que a extensão do furto englobava outros artefactos militares. Apesar de boa parte do material ter sido re- cuperada, continua a haver discrepâncias en- tre os itens assinalados como 'desaparecidos' e os 'recuperados' - numa cena própria da fic- ção, veio a constatar-se que vários implicados montaram uma farsa para fazer 'reaparecer' algum do produto do furto. Por subsistirem ainda muitas interroga- ções sem resposta, e muitas áreas 'cinzentas', foi aberta, em novembro, uma Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) ao 'caso Tancos'. Na democracia portuguesa, foram constituí- das dezenas de CPI, que analisaram ao deta- lhe a atuação do Estado em vários sectores da sociedade. Atualmente, para além daquela que envolve o desvio de material do Exército - e que está a averiguar 'as consequências e responsabilidades políticas do furto do mate- rial militar ocorrido em Tancos' -, decorrem,
Criadas no pós-25 de abril para garantir que o Governo e a Administração Pública respeitam a Constituição, em perto de quatro décadas foram constituídas dezenas de Comissões Parlamentares de Inquérito, em áreas tão diversas como banca, energia ou defesa. Mas será que, depois de escrutinada, a Democracia fica mais robusta? DE INQUÉRITO O ESTADO PASSADO A PENTE FINO COMISSÕES PARLAMENTARES
“
texto Nuno Estêvão
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Para que servem?
ATUAÇÃO DO ESTADO À LUPA Posse da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas do furto do material militar ocorrido em Tancos
(CGD), entre 2000 e 2015. Aliás, o sector da banca e a área financeira têm sido por diver- sas vezes visados pelas CPI. “Muitas vezes, no âmbito de uma CPI, acabamos por ver os governos e as oposições a 'passar' lama uns para os outros. Acabam por ser pouco efica- zes, têm poucas conclusões úteis e mesmo em casos mais sérios, como as falências bancá- rias - por exemplo, BPN, BES e agora de novo a CGD -, onde vários partidos políticos estão implicados e mais do que um governo teve responsabilidades, a CPI acaba por não fun- cionar melhor, porque há uma contenção em tentar enlamear um adversário político - e no caso do BES, todos eles tinham de alguma ma- neira relações com aquele universo. Mesmo que uma CPI recolha informação útil, faça um retrato claro do problema, depois não há so- luções”, sublinha o presidente da TIAC. E dá As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) procuram esclarecimentos adicionais em relação a atos do Governo ou da Administração Pública, ocorridos em legislaturas anteriores à atual, vigiando o rigoroso cumprimento da Constituição Portuguesa. A legislação prevê que seja constituída por um máximo de 17 deputados, representativos da 'distribuição de forças' no Parlamento, e pode ou não decorrer em simultâneo com um processo criminal em curso, da responsabilidade da Procuradoria-Geral da República - o procurador-geral é sempre informado do início de uma CPI e tem o dever de responder se existe algum processo criminal em curso, com base nos mesmos factos. O inquérito tem o tempo máximo de seis meses, podendo ser alargado por mais três. Quanto ao enquadramento do seu trabalho, as CPI “gozam dos poderes de investigação das autoridades judiciais que a estas não estejam constitucionalmente reservados” e “têm direito à coadjuvação das autoridades judiciárias, dos órgãos da polícia criminal e das autoridades administrativas, nos mesmos termos que os tribunais”, lê-se no Regime Jurídico dos Inquéritos Parlamentares. As CPI funcionam na Assembleia da República, podendo, no entanto, efetuar diligências em todo o território português. Qualquer cidadão pode ser convocado para prestar depoimento em sede de uma CPI. Terminados os trabalhos, há lugar a um relatório final, que inclui, entre outros, excertos das audições e de documentos relevantes, bem como recomendações.
Administração Pública. Mas será que os por- tugueses reconhecem neste instrumento uti- lidade e eficácia? “A maior parte das pessoas não saberá para o que elas servem, pela ra- zão muito simples de que elas não servem para muito. Como não há resultados visíveis das CPI - não há um 'antes' e um 'depois' -, mesmo quando são reveladas informações úteis no seu âmbito, isso depois não se tra- duz em novas leis, medidas de regulação ou novas políticas públicas, pelo que as CPI aca- bam por ser um bocado inócuas”, explica João Paulo Batalha, presidente da Transparência e Integridade - Associação Cívica (TIAC). Outra das limitações apontadas às CPI é que acabam por ser utilizadas mais para fins políticos do que propriamente para tentar apurar a verda- de dos factos. “Acontece que as CPI são à par- tida convocadas ou para tentar gerir algum mal-estar social, provocado por exemplo pela falência dos bancos, ou para tentar obter ga- nhos políticos de um determinado partido na tentativa de sujar o governo em funções ou o que esteve em exercício no tempo a que a CPI se reporta. Rapidamente se transformam num jogo de gestão de perceções e de mano- bra política, para tentar obter ou um ganho político ou limitar um potencial dano reputa- cional e político”, acrescenta. TROCA DE 'GALHARDETES' Embora esteja a decorrer uma CPI sobre o ‘caso Tancos’, o Ministério Público (MP) conti- nua a investigar os contornos do roubo do ma- terial militar, tendo inclusivamente pedido ao tribunal uma extensão do prazo por mais seis meses, atendendo à especial complexidade de todo o processo. E se a CPI - um instrumen- to do poder legislativo - procura, sobretudo, responsabilidades políticas, o MP - que inte- gra o poder judicial - debruça-se sobre a maté- ria criminal. Recorde-se que, mais de um ano depois, este caso já implicou a demissão do à época dos factos ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e também a exoneração do chefe de Estado Maior do Exército, Rovisco Duarte. O processo tem 20 arguidos, dos quais vá- rios estão em prisão preventiva. Terrorismo internacional, associação criminosa, tráfico de droga e de armas são alguns dos muitos crimes pelos quais estão indiciados. Outra CPI atualmente em curso está a exa- minar a gestão da Caixa Geral de Depósitos
©LuísSaraiva,2018,ArquivoFotográficodaAssembleiadaRepública,GAR10810/2018
à data do fecho desta edição, na Assembleia da República outras duas - 'à Recapitalização da CGD e à Gestão do Banco' e às rendas excessi- vas na eletricidade. UTILIDADE (DES)CONHECIDA A primeira CPI incidiu sobre 'batatas'. Estávamos em 1979 e houve a necessidade de escrutinar o processo de importação de batata de semente para a campanha agrícola de 1978- 79. A CPI foi constituída por iniciativa do PCP que tinha dúvidas sobre se a compra do tubér- culo estaria ferida de ilegalidades. À suspeita da existência de preferência dada a um “cartel de importadores-armazenistas”, situação que teria permitido avultados lucros, juntavam-se incertezas sobre a atuação do Governo do pri- meiro-ministro Carlos Mota Pinto e a eventual existência de subornos. De lá para cá, foram criadas dezenas de CPI para escrutinar a ação de governos e da
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AUDIÇÕES MEDIÁTICAS O ex-banqueiro Ricardo Salgado na CPI à Gestão do BES e do Grupo Espírito Santo, onde foi ouvido por duas vezes
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opinião
1 A ex-presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, dá posse à última Comissão de Inquérito à Tragédia de Camarate. Para esclarecer os contornos da queda do avião que vitimou Sá Carneiro e Amaro da Costa já se realizaram 10 Comissões de Inquérito
Vamos acabar com o desperdício alimentar
Um dos primeiros passos para não deixar estragar comida em casa é verificar a validade dos produtos antes de os comprar e consumir. Para isso, é essencial saber distinguir entre durabilidade mínima ('consumir de preferência antes de...' ou 'consumir de preferência antes do fim de...') e data-limite de consumo ('consumir até...'), indicações que constam, obrigatoriamente, nos rótulos dos alimentos. A data-limite refere-se a alimentos muito perecíveis, como queijo fresco, iogurte e carne de aves, por exemplo, e deve ser estritamente respeitada. Caso contrário, se ingerir um produto contaminado, o consumidor pode sofrer uma toxi- infeção alimentar. A seguir à menção 'consumir até...', é indicado o dia, o mês e, eventualmente, o ano (por esta ordem) até ao qual o produto pode ser consumido. Se não tiver qualquer menção, respeite a validade indicada na embalagem. Por sua vez, a data de durabilidade mínima refere-se a alimentos com maior validade, como arroz, grão, bolachas, chocolates e massas. Embora possa haver ligeiras alterações ao nível do sabor, da textura, da cor e do cheiro, se a data indicada na embalagem for ultrapassada, os alimentos podem ser consumidos com relativa segurança. Não guarde estes produtos por muito tempo. Nos produtos com a menção 'consumir de preferência antes de...' , o prazo de validade é indicado com o dia, mês e ano. A menção 'consumir de preferência antes do fim de...' deve ser precedida do mês e do ano. Produtos como arroz, grão, bolachas, massas, e outros, que têm uma data de durabilidade mínima (ou seja, que indicam 'consumir de preferência antes de ...'), não são obrigados a sair das prateleiras dos supermercados, uma vez ultrapassada essa data. Recentemente, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária clarificou que os estabelecimentos comerciais podem disponibilizar alimentos nestas condições. Não é possível dizer por quanto tempo esses produtos podem ser guardados em casa até serem consumidos, pois vários fatores podem influenciar a duração e a qualidade do produto. Se quiser comprar estes produtos fora do prazo, aconselhamos a consumi-los o mais rapidamente possível. Mas, se abrir uma embalagem e verificar que o sabor, a cor, o cheiro ou a textura estão muito diferentes do original, não arrisque.
2 Durante a CPI à gestão da Caixa
Geral de Depósitos, o depoimento evasivo de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal e ex-administrador do banco público, mereceu críticas dos deputados ©LuísSaraiva,2013,ArquivoFotográficodaAssembleiadaRepública,GAR10221/2013 ©Lusa
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o exemplo da CPI que investigou as parcerias público-privadas (PPP) rodoviárias e termi- nou os seus trabalhos há perto de seis anos. “Foi feito um retrato demolidor, concluindo que as PPP não defendem o interesse público e colocam o Estado em situação de desigual- dade com os privados, o que representa enor- mes prejuízos para o erário público, através
com respostas evasivas, do género 'não me lembro', 'não tenho presente' ou adota um registo sobranceiro. “Muitos depoentes, sim- plesmente, não levam as CPI a sério. Basta ver o depoimento de Manuel Pinho há uns tem- pos, em que ele só aceitou falar sobre aqui- lo que não tinha sido chamado para discutir. O pouco respeito que alguns depoentes po-
dem revelar traduz uma rea- lidade em que, muitas vezes, são os próprios deputados que as integram que não as respeitam”, explica. E acres- centa: “As CPI têm poder para
AS COMISSÕES TÊM PODER PARA CONVOCAR QUALQUER PESSOA. A RECUSA PODE SER PUNÍVEL NOS TERMOS DO CÓDIGO PENAL
de rendas injustificadas para os privados. No relatório final, aprovado no Parlamento, está escrito que estas rendas têm de ser renuncia- das ou os contratos têm de ser extintos... Isto foi em 2013 e até hoje não se fez nada.” FALTA DE CREDIBILIDADE ComoiníciodasemissõesdoCanalParlamento (ARTV) em 2004, passou a ser mais fácil acom- panhar via TV, e em direto, as audições dos de- poentes nas CPI, que regra geral são públicas. A fundação da ARTV ajudou a que as comis- sões se afirmassem cada vez mais nas agen- das mediáticas, tornando-se possível ver na íntegra o seu trabalho. Desse visionamento fi- ca-se com a ideia de que quem é chamado a depor nem sempre encara a sessão com a se- riedade devida, escudando-se, muitas vezes,
chamar as pessoas, obrigá-las a responder e, no limite, até puni-las se não derem res- postas cabais. Mas quando são os próprios membros da CPI que não respeitam o traba- lho que estão ali a fazer, porque as CPI são convocadas como uma manobra de gestão política ou mediática, é natural que esse des- respeito se estenda também às pessoas que estão a ser ouvidas. Não se dão ao respeito quando há depoentes que fazem declarações flagrantemente falsas ou pouco credíveis.” Sobre a CPI em curso à gestão da CGD, João Paulo Batalha é assertivo: “Não conto que re- sulte numa revisão das leis ou práticas políti- cas aplicáveis à nomeação de pessoas para a CGD e órgãos de supervisão ou que vá passar a regular a relação entre o Estado e este sec- tor”. É esperar para ver. |
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O mundo não está a aproveitar o que produz. A cada ano, deitamos fora 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos. O desperdício alimentar é um problema sério e a investigadora Iva Pires explica porquê. VAI TUDO PARA O LIXO!
áreas rurais não existia (e provavelmente não existe agora) desperdício, pois no contexto de uma economia agrária a pecuária é um reci- clador natural de excedentes e de sobras ali- mentares. Para além disso, era prática fazer a respiga, ou seja, apanhar o que ficou nos cam- pos depois da colheita”. A aumentar nas sociedades mais urbanas, o desperdício alimentar é um problema recente provocado pelos excessos das economias ba- seadas numa cultura de consumo. “Nos paí- ses ocidentais, o aumento do volume de des- perdício está, sobretudo, relacionado com a abundância de produtos (de produção interna e importados) a preços relativamente baixos. O peso da alimentação na estrutura da des- pesa das famílias foi reduzido, pelo que não existem incentivos para um uso mais eficien- te”, explica a investigadora. Além disso, tam- bém ajuda o facto das pessoas não consegui- rem quantificar o que deitam fora. “A atitude mais negligente face aos alimentos também resulta da dificuldade das famílias em terem uma noção precisa sobre o quanto estão a des- perdiçar, pois isso vai acontecendo ao longo da semana: uma peça de fruta, um iogurte, alimentos que sobram...” A estas razões, acrescentam-se as alterações
texto Ana Rita Dinis
M ais de mil milhões de toneladas. “É a esti- mativa sobre o volume de perdas (no iní- cio da cadeia alimentar, no processo de produ- ção e transformação) e de desperdício (no final da cadeia, nas famílias, cantinas, restauração e distribuição)”, é assim que Iva Pires, autora do ensaio ‘Desperdício Alimentar’, explica o nú- mero apurado, em2011, pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO). Embora não seja exato, o cálculo serviu
como alerta mundial para a dimensão de um problema que tem enormes custos económi- cos, ambientais e sociais. UM PROBLEMA NOVO Muito provavelmente, estes valores de de- saproveitamento chocarão os mais velhos, so- bretudo aqueles que vivem no campo e têm muitas histórias de infância sobre raciona- mento para contar. Iva Pires explica que “nas
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relacionadas com o mercado de trabalho e com a falta de tempo que levam a que se “com- premmaiores volumes de produtos, para uma ou duas semanas, o que aumenta a probabili- dade de parte desses alimentos, sobretudo os mais perecíveis, acabarempor se estragar”, diz Iva Pires, lembrando que as cantinas por todo o país também apresentam “volumes conside- ráveis de desperdício”. QUANTO NOS CUSTA O DESPERDÍCIO? Os custos do desperdício alimentar estão por contabilizar, mas vão muito além da variável económica. “Estima-se que existam no mun- do 805 milhões de pessoas em situação cróni- ca de subnutrição ou de insegurança alimen- tar. Paradoxalmente, um terço dos alimentos produzidos, o suficiente para alimentar es- tas pessoas, acaba no lixo sem ser consumi- do, o que levanta questões éticas”, assinala a investigadora. Do ponto de vista ambiental, basta lembrar- mo-nos que “a produção agrícola tem um con- siderável impacto ambiental, pelo consumo de recursos naturais (uso do solo, da água, desflo- restação), o que contribui para as emissões de gases com efeito de estufa e, dessa forma, para as alterações do clima, e que o uso de pestici- das e herbicidas contamina os solos e a água”. “Sempre que deitamos fora alimentos que já foram produzidos, estamos também a deitar fora os recursos incorporados na sua produ- ção”, refere Iva Pires e dá alguns exemplos: “Um relatório de 2013 das Nações Unidas, que ana- lisa o desperdício de alimentos sob uma pers- petiva ambiental, indica que se o desperdício alimentar fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases com efeito de estufa, depois dos EUA e da China; a água consumida para produzir os alimentos que são deitados para o
Como combater o desperdício em casa? As recomendações de Iva Pires para as famílias tirarem mais partido dos alimentos.
lixo, todos os anos, corresponde ao caudal do Rio Volga, omaior da Europa; um terço da área cultivada está a ser utilizada para produzir ali- mentos que se deitam fora...” . Quanto aos custos para a economia, a pro- fessora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa refere um relatório da FAO de 2014 que aponta para um custo anual de 2,6 biliões de dó- lares, “o equivalente, sensi- velmente, ao PIB de França e quase o dobro da despesa total em alimentação dos EUA”. PONTO DE SITUAÇÃO EM PORTUGAL Iva Pires fez parte do PERDA - Projeto de EstudoeReflexãosobreoDesperdícioAlimentar, que utilizou ametodologia da FAOpara calcular o desperdício alimentar emPortugal, “do campo Guarde as sobras para outra refeição. Aproveite todas as partes dos legumes. Use, por exemplo, os talos em sopas. Acondicione a fruta para reduzir as que se estragam. Se colocar os frutos num tabuleiro consegurá visualizar melhor os que estão mais maduros e que devem ser consumidos primeiro. Planeie sempre as compras e faça uma lista, verificando primeiro o que ainda há em casa.
Compre menos quantidade de frescos de cada vez e, se perceber que não os vai usar nos próximos dias, congele-os. Esteja atento às datas de validade. Se for viajar, distribua os alimentos frescos que sobram lá em casa entre amigos e vizinhos. Se tem um jardim ou horta, experimente
compostagem (transformação de resíduos orgânicos em materiais utilizáveis na agricultura).
ao garfo”, em 2012. O grupo de estudo concluiu que é desperdiçado um milhão de toneladas de alimentos emPortugal, que “a fasemais eficien- te na utilização dos produtos alimentares é a do processamento, onde as perdas sãominimi- zadas e reaproveitadas noutros processos pro-
A PARTIR DE 2020, OS ESTADOS-MEMBROS VÃO TER DE INFORMAR A UNIÃO EUROPEIA SOBRE O SEU VOLUME DE DESPERDÍCIO ALIMENTAR
dutivos”, que “as famílias são as grandes res- ponsáveis pelo desperdício”, e que “quase três quartos das perdas são de produtos hortícolas, cereais, frutos e laticínios”. Embora não exista ainda “uma definição consensual sobre o que é o desperdício alimen- tar, sobre o que incluir ou como quantificá- -lo”, os vários estudos concordam que na, lar- ga maioria, ele acontece em casa. “As famílias podem ter um papel importante na redução, alterando hábitos e mudando o seu compor- tamento de uso dos alimentos, sem que isso implique um grande esforço”, destaca a inves- tigadora [ver caixa acima]. Noquedizrespeitoaospaíses,aUniãoEuropeia (UE), por exemplo, já tem vários projetos em marcha, um deles implica que a partir de 2020, os Estados-membros informem a UE sobre o respetivo volume de desperdício alimentar. Estará Portugal preparado para o fazer? Iva Pires acredita que sim. “Portugal apresentou em outubro a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, onde estão previstas várias iniciativas e uma delas, da responsabili- dade do Instituto Nacional de Estatística, é pre- cisamente a de recolher, sistematizar e tratar a informação sobre o desperdício.” |
IVA PIRES
todos somos responsáveis
Professora e investigadora,
pelo desperdício alimentar. Este ensaio de Iva Pires faz o ponto de situação sobre as questões éticas, ambientais e económicas deste problema que ameaça o futuro, apresentando soluções e iniciativas para o combater.
integrou a equipa do projeto PERDA,
que estudou o desperdício alimentar em Portugal
Da produção ao consumo, empresas, Estado e famílias, Ensaio
© FaculdadedeCiênciasSociaiseHumanas,UNL
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Tem as maiores reservas mundiais de petróleo, mas vive uma profunda crise. Governada há duas décadas segundo os ditames da Revolução Bolivariana de Hugo Chávez, a economia do país colapsou e atirou boa parte dos venezuelanos para a pobreza. A recente autoproclamação de Juan Guaidó e a resistência de Nicolás Maduro podem empurrar a Venezuela para uma sangrenta guerra civil. Venezuela DO SONHO AO PESADELO
Q uando, a partir de meados do século pas- sado, milhares de emigrantes portugueses chegaram em massa à Venezuela deram de caras com um país próspero, florescente em oportunidades. Para trás ficava uma dura via- gem atlântica de largos dias - os necessários para vencer os mais de seis mil quilómetros que separam as capitais Lisboa e Caracas - e uma vida sofrida. O sonho de alcançar o tão ambicionado novo 'El Dorado' sul-americano cumpria-se e todos os sacrifícios passados caíampara segundo pla- no. Apesar de pouco qualificados, para a nova vida confiavam na sua imensa capacidade tra- balhadora. A maioria tinha deixado a ilha da Madeira e o Norte de Portugal - especialmente a região de Aveiro. Chegada à Venezuela, gran- de parte foi trabalhar para a agricultura e co- mércio. Muitos tornaram-se pequenos empre- sários, donos de negócios alimentares, como padarias e supermercados; outros afirmaram- -se como bem-sucedidos homens de negócios. Formaram família e abraçaram aquela pátria como sendo a sua. Ao longo dos tempos, a comunidade lusófo- na - perfeitamente integrada na sociedade ve- nezuelana - acompanhou as frequentes mu- danças no poder, as acusações de corrupção e
texto Nuno Estêvão
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©Lusa
de viragem na democracia venezuelana. Já no poder, liderouaquiloaque chamoude 'revolução bolivariana' - numa alusão ao libertador Simón Bolívar, líder político venezuelano responsável pela independência no séc. XIX de várias ex-co- lónias do império espanhol, na América do Sul, entre as quais a própria Venezuela -, que na prá- tica era inspirada nomodelo do regime de Fidel Castro. Ideologicamente em sintonia com as posições do líder cubano - com quem manteve uma relação de grande cumplicidade política, amizade e confiança -, Chávez, um militar que população mais pobre que o apoiava, melhores condições de vida e oportunidades iguais para todos. Para tal, implementou uma política eco- nómica socialista, antiliberal e anticapitalista, comuma presença forte do Estado em todos os sectores da sociedade. Nos tempos seguintes, invocando a necessi- dade de alterar as leis do país para executar o seu projeto político, promoveu várias refor- mas na hierarquia dos poderes venezuelanos, o que lhe permitiria introduzir alterações na Constituição do país, tal como o alargamento do mandato presidencial para seis anos. Todas essas medidas eram justificadas pela necessi- dade de colocar em marcha profundas refor- mas políticas e económicas no país. Porém, à medida que a economia, baseada quase em exclusivo na riqueza petrolífera do país, desacelerava, originando uma crise social, a contestação aumentava. Sem ser caso isolado nas muitas vezes frágeis economias sul-ame- ricanas, a clivagem entre 'esquerda' e 'direita', entre 'ricos' e 'pobres', acompanhada por me- didas de reforço do poder Presidencial abriu portas a uma profunda crise e a oposição fez- -se ouvir nas ruas. Em 2002, uma greve geral fez carreira nos paraquedistas, prometia através de um dis- curso populista dar a possibili- dade ao povo venezuelano, so- bretudo à expressiva franja da
©DR DECLÍNIO ECONÓMICO Durante muitas décadas, os responsáveis políticos da Venezuela deram prioridade qua- se absoluta ao desenvolvimento da indústria petrolífera, deixando para trás outros sec- tores da economia - como a agricultura e toda a restante indústria. Essa aposta 'cega' no 'ouro negro' tornou a economia 'petro- dependente'. Porém, já após a morte de espoletou um golpe de estado efémero de três dias, que acabou com o regresso de Chávez ao poder. Nos meses seguintes uma nova parali- sação nacional bloqueou o país durante nove semanas. A sociedade estava fraturada, polari- zada entre dois lados inconciliáveis, que troca- vam acusações entre si. PETRÓLEO (IN)FINITO Na Venezuela do início do milénio era pos- sível atestar o depósito de um carro com ga- solina por menos de um euro e durante essa operação era frequente ver que os gasolineiros, após retiraremamangueira do combustível do carro, deixavam cair para o chão o carburante que ficava acumulado na pistola. Era um com- portamento natural, justificado por uma certa perceção popular de que os recursos petrolífe- ros eram infinitos, assente no facto de o país ter as maiores reservas de petróleo do mundo - seguido por Arábia Saudita, Canadá, Irão e Iraque. Esse património natural possibilitava o financiamento de toda a economia e políti- cas sociais. O país era conhecido internacio- nalmente por ser dos poucos no mundo onde um litro de gasolina eramais barato do que um litro de água mineral. Durante os primeiros tempos de 'Chavismo', milhões de pessoas terão sido retiradas da po- breza na Venezuela - um país com mais de 30 milhões de habitantes e cerca de dez vezes maior do que Portugal. Com uma economia dependente quase em exclusivo dos 'petrodó- lares', quase tudo o que era consumido inter- namente era importado. Países como a Rússia, China, Cuba, Bolívia e Brasil, por pertencerem à mesma 'família política' de esquerda, eram parceiros preferenciais nos negócios, e desta- cavam-se entre os principais fornecedores da economia venezuelana, em troca de petróleo.
HÁ 20 ANOS QUE A 'REVOLUÇÃO BOLIVARIANA' GOVERNA A VENEZUELA
desvio de fundos feitas a detentores de cargos públicos. E algo que consideravam inimaginá- vel, impossível: o afundar de um país rico em petróleo, ancorado a uma terrível crise econó- mica e social, com contornos políticos. REVOLUÇÃO BOLIVARIANA A chegada de Hugo Chavéz ao poder, em fe- vereiro de 1999, ajuda a explicar a situação caó- tica em que a Venezuela mergulhou. Depois de ter comandado anos antes - em 1992, duran- te a governação de Carlos Andrés Pérez - um golpe militar frustrado, Chávez apresentou-se às eleições presidenciais de 1998, encabeçan- do uma coligação de esquerda e centro-esquer- da. E contra as expectativas, acabou por vencer. O facto de ter estado preso por rebeldia, na sequência da tentativa de tomada do poder, deu- -lhe um estatuto de 'herói anticorrupção' junto de boa parte do eleitorado. Seria libertado em 1994, eraRafael CalderaRodríguez o Presidente. Afastado das Forças Armadas, Chávez passou a dedicar-se em exclusivo à política, sendo que junto de milhões de venezuelanos o seu percur- so credibilizava as ideias que tinha para o país. As políticas de combate à pobreza e o seu discur- so anticorrupção foramdecisivos para que con- quistasse 56%dos votos, constituindo umponto
A herança de Hugo Chávez
Chegou ao Palácio de Miraflores, a sede da Presidência da Venezuela, em 1999. Ficou no poder até 2013, quando o lugar passou a ser ocupado por Nicolás Maduro. Chávez conquistou o eleitorado com um discurso popular
Hugo Chávez - em março de 2013, vítima de doença onco- lógica - e a chegada ao poder
e era considerado um político hábil.
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